- Partilhar artigo
- ...
Foto em cima: Diana Ramos moderou o debate "O Luxo e a Economia Global" que contou com a participação de Isabel Ucha, Mónica Seabra-Mendes e Carlos Santos Lima.
Nos últimos 30 anos, o mercado do luxo "tem tido um crescimento estável de 6% em média. Não é propriamente imune às crises, mas sai delas com mais facilidade do que outros setores. Respondeu bem ao pós-covid, mas agora estamos a observar uma falta de confiança por parte dos consumidores mais importantes - os chineses e os norte-americanos", explica Mónica Seabra-Mendes, diretora do Programa de Gestão do Luxo da Universidade Católica e curadora da iniciativa Negócios do Luxo, no debate sobre o "Luxo e a Economia Global", que contou ainda com a participação de Carlos Santos Lima, country head da UBS Portugal; Isabel Ucha, presidente da Euronext Lisbon, e a moderação da diretora do Negócios, Diana Ramos.
Este debate fez parte da conferência o Outlook do Luxo, organizada pelo Negócios em parceria com a Must, e que conta com Cascais como município anfitrião e o Sheraton Cascais Resort como hospitality partner.
Carlos Santos Lima confirma que o consumo interno na China está em declínio, em contraponto com a Europa e os Estados Unidos, onde se mantém alto - "ainda". "Aqui, nos países do sul da Europa, que beneficiam do clima, há um grande peso do luxo enquanto experiência de diversão e bem-estar", refere aquele responsável, sublinhando que é algo que deve ser aproveitado, principalmente tendo em conta que, "nos últimos 10 anos, Portugal tem estado no top 10 dos países que atraem mais milionários - pessoas que se mudam para cá e trazem os seus hábitos de consumo". Santos Lima diz ainda que "o luxo tem margens muito altas, acima de 20%, e bons níveis de dividendos, razão pela qual é atrativo para os investidores. Temos visto um abrandamento", alerta, "ainda assim, a política de dividendos faz com que continue a haver muita procura".
Já Isabel Ucha, presidente da Euronext Lisbon, começou a sua intervenção no debate tirando uma radiografia ao setor do ponto de vista do mercado de capitais: "Há 50 empresas listadas ligadas a este segmento, metade são francesas e a outra metade italianas. A LVMH, por exemplo, tem 350 mil milhões de capitalização bolsista. E destas 50 empresas, 20 têm menos de 100 milhões de capitalização bolsista. Estas empresas, com dividendos bons, resistentes e com crescimento sustentável, têm múltiplos de dois dígitos. É, portanto, um setor com muito peso e que usa muito o mercado de capitais para crescer e se desenvolver."
Fusões e aquisições no setor do luxo
No seguimento da conversa, Diana Ramos refere o facto de a Prada estar prestes a concluir a compra da Versace, questionando Mónica Seabra-Mendes sobre as possíveis consequências deste negócio. A coordenadora do Programa de Gestão do Luxo garante que "fusões e aquisições são normais neste setor. Há muitas empresas pequenas, muitas estão em conglomerados e a maior parte não sobreviveria sozinha. Porém, florescem em conglomerados familiares que têm uma forma de olhar para o mercado muito diferente da dos grupos financeiros."
Isabel Ucha, presidente da Euronext Lisbon, refere, em relação ao que o mercado de capitais pode fazer pelo setor do luxo no geral e, em particular, pelas empresas mais pequenas, que "abrir o capital no mercado de capitais pode resolver os problemas financeiros de empresas familiares. Estas têm sempre uma preocupação em manter o controlo da empresa na esfera familiar, com elementos da família na administração, e é importante que saibam que isso não é incompatível com uma entrada no mercado de capitais. Podem sempre abrir o capital com duas classes de ações ou criando uma holding, que reúne os interesses da família."
No final do debate, o tema centrou-se na diferença entre luxo em Portugal e luxo português. Sobre isto, Mónica Seabra-Mendes diz que "o luxo em Portugal tem-se dinamizado com estrangeiros que vêm viver para cá". Já quanto ao luxo português, esta especialista tem uma visão menos animadora: "Temos produtos de qualidade, mas não conseguimos passar daí, não conseguimos criar intangíveis - uma marca, um storytelling… É preciso criar todo um embrulho e, nisso, estamos a falhar." Mónica acrescenta ainda que "não temos um espaço de retalho especializado no luxo [português] e a Avenida da Liberdade está cheia de marcas estrangeiras". Conclusão? "Temos um grande potencial que não está a ser aproveitado."
Já Carlos Santos Lima conclui a sua intervenção chamando a atenção para um aspeto interessante.
"Nos próximos 15 anos, um terço da riqueza mundial vai mudar de mãos [para as gerações mais novas] e isso vai alterar as formas de gestão. A geração anterior era mais interventiva na forma de gerir o dinheiro. Já a nova geração tem padrões de consumo diferentes: compra menos bens, usa mais dinheiro em experiências - e muitos nem querem usar o dinheiro, preferem tê-lo como suporte, mas não para uso direto."