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Óscar Gaspar: “Não há um PRR para a Saúde, mas para o SNS”

Os dinheiros do PRR devem ser utilizados para uma profunda transformação do setor da saúde, tendo os doentes no centro, e para o que for necessário para se atingirem os melhores resultados em saúde para os cidadãos.

Filipe S. Fernandes 20 de Julho de 2021 às 11:30
À conversa na webtalk estiveram Isabel Vaz, do grupo Luz Saúde, Paulo Barradas Rebelo, da Bluepharma, e Óscar Gaspar, da APHP
À conversa na webtalk estiveram Isabel Vaz, do grupo Luz Saúde, Paulo Barradas Rebelo, da Bluepharma, e Óscar Gaspar, da APHP DR
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A hospitalização privada, nos últimos 20 anos, cresceu em dimensão, diferenciação e qualidade, sobretudo devido ao crescimento dos seguros de saúde privados, disse Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada na webtalk “Vamos lá, Portugal!”, uma iniciativa do Jornal de Negócios e do Millennium BCP, desta vez sobre o tema “Saúde: Que Futuro?”.

Em 2020, a hospitalização privada foi responsável por cerca de 1,4 milhões de episódios de urgência, por cerca de 308 mil grandes e médias cirurgias, cerca de 7,9 milhões de consultas de especialidade e mais de 26 mil consultas hospitalares por dia. Em Portugal, há cerca de 3 milhões de pessoas com seguros de saúde e mais 1, 5 milhões que têm ADSE ou subsistemas da PSP ou GNR ou das Forças Armadas.

No início de 2021, com a terceira vaga de luta contra a covid-19, os hospitais públicos, privados e do setor social funcionaram de forma articulada. “Estivemos na linha da frente, sempre e quando o SNS o quis e esta é uma lição positiva deste último ano e meio. Nós temos um sistema de saúde e devemos funcionar enquanto sistema de saúde”, afirmou Óscar Gaspar.

Isabel Vaz, presidente da comissão executiva do Grupo Luz Saúde, revelou que o setor que foi fundamental também na ajuda ao combate à, a todos os níveis e em todas as áreas, desde os cuidados primários até aos cuidados mais complexos, como sejam os cuidados intensivos.

Um sistema de cooperação

“O Hospital da Luz em Lisboa chegou a ter 80% da sua capacidade dedicada ao apoio dos nossos colegas do setor público no combate à covid-19 e, em particular, em áreas altamente diferenciadas, como a cirurgia oncológica, que era preciso continuar a fazer, e nos cuidados intensivos dedicados aos doentes com covid-19, em articulação com a estratégia global contra a pandemia, tal como fizeram os outros grupos privados”, resumiu Isabel Vaz.

“Não há aqui nenhuma competição. Hoje em dia as pessoas circulam, é normal uma pessoa ir a um hospital privado, depois ter uma consulta nos cuidados de saúde primários, dirigir-se ao hospital público ou ao hospital das Misericórdias e voltar para o privado”, refere Óscar Gaspar, frisando que não há “guerras de trincheiras”.

O PRR tem uma componente da ordem dos 1400 milhões de euros para reforço do SNS. Por isso, Óscar Gaspar mostra-se crítico e declara que “não há nenhuma parte do PRR dedicada à saúde, mas explicitamente dedicada ao SNS”. “E com o peso da hospitalização privada, esta é uma lacuna clara, porque a um plano que só vê o SNS, falta-lhe alguma coisa.” Óscar Gaspar sublinhou que “a questão da interoperabilidade ou do digital, são questões transversais e não têm que ver com o facto de ser um hospital público ou um privado”. “O sistema deve ser integrado e há um grande potencial de crescimento e de evolução.”

Isabel Vaz sublinhou que as revoluções em áreas como as das telecomunicações terão impacto na saúde, sobretudo nos cuidados remotos e na capacidade de monitorizar doentes à distância, bem como nas realidades virtual e aumentada. O desenvolvimento da saúde digital é poderoso e a ciência de dados vai ser uma das grandes revoluções. “O investimento a nível mundial é de triliões de dólares, desde a indústria farmacêutica ao setor hospitalar.”

Retorno de dois euros e meio

Na opinião da presidente da comissão executiva do Grupo Luz Saúde, os dinheiros do PRR devem ser utilizados numa profunda transformação do setor da saúde, tendo os doentes no centro, e no que é necessário para se atingirem os melhores resultados em saúde para os cidadãos. “É preciso pensar no sistema como um todo, como é que se vai garantir que a população fica mais saudável e como isso se traduz num efeito multiplicador na economia.”

Para a gestora, “é um ecossistema que tem de funcionar de forma mais articulada e onde o dinheiro tem de ser dirigido não só ao setor público, mas também ao privado”. Isabel Vaz entende que deve passar pela melhoria da acessibilidade, pela articulação entre setores e interoperabilidade dos sistemas da saúde, e pela capacidade de os hospitais melhorarem a eficácia dos medicamentos, através de estudos observacionais e dos dados que estão disponíveis no setor, para que a indústria possa melhorar a própria tecnologia dos medicamentos.

“Temos um potencial de base muito forte no setor da saúde em Portugal”, disse Óscar Gaspar. Recentemente, a McKinsey publicou um paper sobre o desenvolvimento da saúde na Europa e tira duas conclusões muito claras. “Cada euro investido na saúde tem um retorno de dois euros e meio e uma aposta na saúde permitirá aumentar o PIB potencial da Europa em cerca de 10%. No caso de Portugal será 11% até 2040. A saúde tem uma grande capacidade de alavancagem própria na economia nacional.”