- Partilhar artigo
- ...
Durante os anos 1960 e 1979 houve grandes investimentos diretos de empresas multinacionais em Portugal, como a Merck Sharp & Dhome, Schering, Boehringer, Janssen Cilag ou Bayer. A onda de investimento foi estratégica e criou as bases de uma boa indústria farmacêutica. Com a criação dos numerus clausus no ensino superior, as médias para Medicina ficaram muito altas, por isso quem não entrava em Medicina, seguia Farmácia e engenharias ligadas à área de saúde.
“Hoje temos um corpo profissional muitíssimo bom, e um número de doutorados quase ao nível europeu e a ligação das universidades às empresas estimulou a construção de boas indústrias farmacêuticas, que é hoje um setor que emprega pessoas qualificadas, exporta, faz investigação e desenvolvimento, cria valor”, refere Paulo Barradas Rebelo (na foto), presidente do Grupo Bluepharma.
Segundo o gestor, contava-se uma história de que um novo medicamento, para chegar ao mercado, demorava 20 anos e custava mil a dois milhões de dólares. “São coisas que a pandemia veio desmitificar”, diz. Para as vacinas contra a covid-19 bastou um ano para a entrada no mercado “garantindo a qualidade, a eficácia e a segurança”. Para Paulo Barradas Rebelo, foram as “pequenas empresas e não as grandes multinacionais que fizeram essa investigação”. “Essa inovação está muito nos pequenos, portanto, isto permite-nos alertar para a partilha, para a cooperação, porque todos somos poucos para os desafios que temos pela frente”, assinala.
O turnaround da Bluepharma
Em 2001, Paulo Barradas Rebelo liderou um grupo de profissionais que formou a Bluepharma, em Coimbra, para adquirirem a fábrica da Bayer, e desenhou a estratégia do processo de turnaround da empresa. Nessa altura, perguntavam-lhe como é que uma pequena indústria ia fazer investigação e desenvolvimento em Coimbra, atuando na área dos medicamentos genéricos, que não existiam em Portugal. Hoje, a Bluepharma desenvolve-se em três áreas, como a produção de medicamentos próprios e para terceiros, a investigação, desenvolvimento e registo de medicamentos e a comercialização de medicamentos genéricos.
O gestor diz ter percebido nas suas visitas aos EUA que em torno de 30 ou 40 grandes farmacêuticas gravitava uma miríade de outras mais pequenas, que faziam grande parte da investigação e a inovação. “Os grandes são fundamentais para depois democratizar e chegar depressa aos vários mercados, porque têm escala. Os pequenos arriscam mais e são mais flexíveis. De repente, nesta pandemia começámos a ouvir falar na Moderna, em outras empresas que eram perfeitas desconhecidas. Cada vez temos mais de cooperar, não podemos ser uns a fazer e outros não, temos de ser todos.”
“Neste momento, a indústria farmacêutica é um alvo, a sociedade tem uma expectativa enorme em relação ao que a ciência poderá fazer, esta pandemia alertou-nos para a importância da ciência e da ciência farmacêutica”, conclui .