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O futuro é o consumidor de energia ativo e informado

Em 2026, as utilities e as empresas de energia vão gastar mais com aplicações e soluções dirigidas ao cliente porque este vai ser o principal diferenciador.

27 de Março de 2023 às 14:00
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Os novos consumidores de energia são ativos e consomem, vendem, partilham e armazenam eletricidade. Está em curso uma mudança de paradigma, como se concluiu no debate da conferência "Redes Inteligentes e Transferência de Poder para o Consumidor", que decorreu na Universidade da Beira Interior, na passada terça-feira. A iniciativa integra o Ciclo de Conferências "Redes para a Transição Energética" e nasce de uma parceria entre a E-REDES, o jornal "Negócios" e universidades de referência, entre as quais se encontra a UBI.

Na mesa redonda foi traçado esse novo perfil de consumidor de energia. "Partimos de uma ideia central de que não há uma transição energética sem o envolvimento de todos e o empoderamento do consumidor", referiu António Marques, professor e diretor do programa de doutoramento em Economia da Universidade da Beira Interior, que foi o moderador do debate.

A diretiva europeia de eletricidade de 2019 fez a "separação entre o cliente velho, que é o que apenas compra, e o novo cliente que é ativo, consome, vende, partilha e armazena de eletricidade. Dá um papel central aos consumidores e um grau de flexibilidade que é necessário para a adaptação da rede a uma produção de eletricidade renovável, variável e distribuída", reforçou António Marques.

Isabel Apolinário, diretora de Tarifas, Preços e Eficiência Energética da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos), concorda e acrescenta que "a diretiva introduz, ainda, uma série de conceitos como o agregador, o armazenamento, a flexibilidade, a que a ERSE se tem de adaptar". Para o regulador, em primeiro lugar está a eficiência energética. "Fazemos questão de em todas as medidas que avaliamos, nomeadamente, as tangíveis, determinar um rácio de benefício-custo, e é com base neste rácio que as medidas são selecionadas", ilustrou Isabel Apolinário.

A literacia energética

Na opinião de Luís Cunha, diretor com a área dos Projetos e Políticas Europeias da E-REDES, o empoderamento dos consumidores tem de começar por uma literacia energética acompanhada pela literacia digital. Invoca um estudo recente da Comissão Europeia que diz que 53% da população europeia não tem os requisitos básicos de literacia digital. "Sem esta literacia não é possível passar aos níveis seguintes."

Nestes, inclui a eficiência em primeiro lugar e, para isso, têm de "conhecer as ferramentas para reduzir consumo, portanto, otimização é uma palavra-chave". O segundo nível é o autoconsumo, que pode ser tanto o individual como o coletivo, e abre a porta para a partilha de energia. "O terceiro nível é a flexibilidade", considerou Luís Cunha.

O poder dos consumidores

Este novo contexto leva António Marques a questionar se os consumidores querem ter poder e ser empoderados. "Os consumidores vão poder ter poder, mas não sei se o querem. Temos de pensar que, antes de dar poder, devemos criar as condições para as pessoas exercerem esse poder, porque neste caso a literacia energética é fundamental", defende João Serra, CEO da Enforce - Engenharia da Energia.

Também Emanuel Miranda, da Withus - Inovação e Tecnologia, considera que o consumidor pode estar interessado em ter mais poder e participação, mas tem muita falta de literacia energética. "A informação seria hoje a melhor forma de empoderamento do consumidor. A maior parte dos sistemas fotovoltaicos tem sistemas de monitorização e aplicações mas depois cabe ao utilizador usá-los de forma correta para ser eficiente", concluiu Emanuel Miranda.

Rui Duarte, Client-Executive da consultora Gartner Portugal, apontou para uma mudança crucial na relação das utilities e empresas de energia com os clientes. Com base num inquérito a 3 mil CEO de várias organizações de sistemas de informação, no caso das utilities e das empresas de energia, "prevemos que em 2026 vão gastar mais com aplicações e soluções aplicadas para o cliente do que com o ‘meter to cash’. Isto acontece porque a interação com o cliente vai ser o principal diferenciador da sua atuação, tanto para ganhar clientes como para os manter", refere Rui Duarte.

Na sua opinião, "o modelo de negócios das utilities está a deixar de ser egocêntrico, focado em si e na experiência operacional, e com poucas interações com os clientes, para um modelo ecocêntrico, com sistemas mais abertos e muito mais interações com os clientes, por exemplo".

Parceria E-REDES e UBI A E-REDES celebrou um protocolo de parceria com a UBI no âmbito da utilização de informação do portal Open Data para apoiar projetos de investigação. Um protocolo de partilha de dados com a E-REDES que reforça o papel da UBI enquanto vetor para a colaboração científica entre as diferentes indústrias e a Academia promovendo, simultaneamente, o uso de dados como ferramenta para a resolução de problemas empresariais e da sociedade.