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Matos Fernandes: "Descarbonizar não só compensa como é a única opção para limitar o aumento da temperatura média do planeta"

Fazer a descarbonização implica mudar todo um paradigma instalado na sociedade, desde a mobilidade ao ordenamento do território, e passando pela requalificação das empresas. João Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Transição Energética, falou no âmbito da talk “Descarbonização: Atuar já compensa”.

Sónia Santos Dias 13 de Setembro de 2021 às 12:30
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As alterações climáticas acarretam custos insuportáveis para o planeta e para a humanidade. São inúmeros os estudos que o comprovam, sendo o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), divulgado no passado mês de agosto, o último "grito de alerta" para a necessidade de descarbonizar a sociedade e mudar o paradigma em que vivemos.

"Há muito que sabemos que os custos da inação são comprovadamente superiores aos custos associados à mudança de paradigma que se exige. Descarbonizar não só compensa como é a única opção para limitar o aumento da temperatura média do planeta e evitar alterações climáticas catastróficas", refere João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática, no âmbito da talk "Descarbonização: Atuar já compensa", organizada pelo Jornal de Negócios a 9 de setembro, naquele que é o segundo ciclo de talks sobre sustentabilidade do jornal.

Alcançar a neutralidade carbónica até 2050 é o objetivo com que Portugal e a Europa se comprometeram. Em 2016, o Governo assumiu este compromisso, assegurando a transição de uma economia linear e dependente de combustíveis fósseis para uma economia circular regeneradora de recursos e baseada em recursos endógenos e renováveis. "Nos cenários então estudados, concluímos que aquele em que a economia mais cresce é também aquele em que mais facilmente se atinge a neutralidade carbónica", refere Matos Fernandes.

Até porque, assegura o ministro, esta transição energética é também ela geradora de uma nova dinâmica na própria economia: "Alcançar a neutralidade carbónica em Portugal exige investimentos na ordem de um bilião [n.r.: mil milhões] de euros até 2050, dos quais cerca de 85% serão investimento privado. O mercado financeiro está também a integrar princípios de sustentabilidade, o que permitirá alavancar uma nova economia verde através do investimento privado. Aqueles que se posicionarem neste novo mercado terão certamente mais facilidade no acesso ao financiamento, maior resiliência e consequentemente maior competitividade."

Um país em transição para uma economia verde
Fazer a descarbonização implica mudar todo um paradigma instalado na sociedade, desde a mobilidade ao ordenamento do território, e passando pela requalificação das empresas. Esta trajetória passa por usar energias de fonte renovável e de forma mais eficiente. Exige também mudar o paradigma da mobilidade, com foco nos transportes públicos, no apoio aos veículos com emissões zero e aos modos ativos de locomoção, como seja andar a pé, de bicicleta, etc. Nesta profunda mudança, é preciso também descarbonizar a indústria, aumentando os seus padrões de desempenho ambiental, apostar na inovação e novas tecnologias e preparar o território contra os efeitos do clima, valorizando a biodiversidade, o capital natural e a floresta ordenada, fundamental para potenciar a capacidade de sequestro de CO2. "Apostar numa economia verde tem efeitos distributivos superiores às alternativas e, por isso, é uma das apostas para a recuperação económica, permitindo-nos acelerar a transição climática ao mesmo tempo que recuperamos a economia", assinala Matos Fernandes.

São vários os instrumentos para pôr Portugal e os restantes países europeus neste objetivo comum. Com a Lei Europeia do Clima, o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica da União Europeia até 2050 passou a ser vinculativo. E com o pacote Fit for 55, apresentado pela Comissão Europeia no passado mês de junho, é proposto um roteiro para atingir a meta para 2030, através da revisão de um conjunto de propostas legislativas com impacto na redução de emissões.

Com os objetivos traçados e postos no papel, é preciso verbas para os executar. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) traz valores para recuperar a economia do impacto da pandemia de covid-19 e apoiar também nesta transição verde. "O plano nacional vai mais longe do que a obrigação europeia ao dedicar 38% do financiamento à transição climática nos vários setores de atividade. Um investimento total de 6.300 milhões de euros e sem prejudicar nunca o ambiente, cumprindo com o princípio basilar do investimento sustentável", refere o ministro do Ambiente.