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As alterações climáticas já se fazem sentir em todas as regiões do planeta e sistemas climáticos, de forma mais rápida e intensa, conclui o último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês), divulgado no passado mês de agosto.
Muitas das mudanças observadas no clima não têm mesmo precedentes há milhares ou centenas de milhares de anos, sendo que algumas são mesmo irreversíveis ao longo das próximas centenas ou milhares de anos, como é o caso do aumento contínuo do nível do mar, alerta o órgão criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), para fornecer conhecimento científico sobre o clima aos governos de todo o mundo.
No entanto, reduções fortes e sustentadas nas emissões de dióxido de carbono (CO2) e de outros gases de efeito estufa podem limitar os efeitos das alterações climáticas, apesar de, ainda assim, serem necessários 20 a 30 anos para que as temperaturas globais estabilizem. Porém, novas estimativas divulgadas no relatório indicam que, a menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, o objetivo de limitar o aquecimento a cerca de 1,5 °C ou mesmo 2 °C nas próximas décadas pode estar fora do alcance.
“Este relatório é uma verificação da realidade”, disse Valérie Masson-Delmotte, copresidente do Grupo de Trabalho I, responsável pela primeira parte do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (AR6), a ser concluído em 2022. “Agora temos uma imagem muito mais clara do clima no passado, presente e futuro, o que é essencial para entendermos para onde vamos, o que pode ser feito e como nos devemos preparar”, acrescenta.
Efeitos do aumento de 1,5 °C ou 2 °C até 2040
O relatório indica que a emissão de gases de efeito estufa provenientes das atividades humanas é responsável por 1,1 °C do aquecimento do planeta desde 1850-1900. E em termos progressivos diz que a temperatura global vai alcançar ou exceder 1,5 °C de aquecimento até 2040.
Assim, o relatório projeta que nas próximas décadas as mudanças climáticas aumentarão em todas as regiões. Para 1,5 °C de aquecimento global, haverá aumento das ondas de calor, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas. No caso de a temperatura do planeta aumentar 2 °C, fenómenos extremos de calor atingiriam mais frequentemente o limite de tolerância crítica em termos de saúde e atividade agrícola.
“As alterações climáticas já estão a afetar todas as regiões da Terra, de várias maneiras. As alterações que experienciamos irão aumentar com este aquecimento adicional”, assinala Panmao Zhai, copresidente do Grupo de Trabalho I.
Assim, diversos fenómenos são expectáveis que ocorram com este aumento da temperatura da Terra. Por exemplo, devido à interferência no ciclo da água, são esperadas chuvas mais intensas e inundações associadas, bem como secas mais intensas em muitas regiões. Devido ao aumento do nível do mar, ao longo do século XXI, as inundações em zonas costeiras irão aumentar e ser mais severas. Além disso, fenómenos extremos que antes ocorriam a cada 100 anos podem começar a acontecer todos os anos, no final deste século.
O degelo do permafrost, a camada de gelo permanente no Ártico, vai continuar a acontecer, assim como o aquecimento dos oceanos e respetiva acidificação e perda de oxigénio, contribuindo estes efeitos para alterar os ecossistemas marinhos em todo o planeta. As próprias cidades serão acometidas de maior calor ou de eventos de grande precipitação, com especial perigo para as comunidades costeiras.
Luta mundial contra as alterações climáticas
Todos estes fenómenos adversos na natureza têm e terão grande impacto em toda a vida do planeta, incluindo na atividade humana. O IPCC insta a reações urgentes e globais, fornecendo informações para tomadas de decisão pelos órgãos de soberania.
Pela primeira vez, o IPCC disponibiliza uma avaliação regional mais detalhada, incluindo informações úteis sobre a avaliação de risco, adaptação, e outras informações para tomadas de decisão, entre as quais um atlas interativo (https://interactive-atlas. ipcc.ch/) de avaliação global.
O relatório também mostra que as ações humanas ainda têm o potencial de determinar o futuro curso do clima, tendo em conta que o dióxido de carbono (CO2) é o principal impulsionador das mudanças climáticas. “A estabilização do clima exigirá reduções fortes, rápidas e sustentadas dos gases de efeito estufa, para alcançar emissões líquidas zero de CO2. Limitar outros gases de efeito estufa e ar poluentes, especialmente o metano, pode ter benefícios tanto para a saúde quanto para o clima”, refere Panmao Zhai.