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Mais seco, quente e propício a incêndios: assim será Portugal em 2050

Integrado no clima mediterrânico e com uma longa costa, Portugal está particularmente vulnerável a fenómenos extremos decorrentes das alterações climáticas. Os riscos para a saúde aumentam em diversas áreas.

13 de Setembro de 2021 às 11:30
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Portugal vai registar mais secas, aridez e risco aumentado de incêndios nas próximas décadas. A conclusão é do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês), divulgado no passado mês de agosto, que inclui Portugal na secção relativa ao Mediterrâneo, juntamente com Espanha, Itália, Grécia, Turquia, Norte de Marrocos, entre outros.

O IPCC conclui nesta análise que, por volta de 2050, esta região será assolada por uma combinação de fenómenos de elevado impacto climático, como sejam aquecimento, temperaturas extremas, aumento de secas e aridez, diminuição da precipitação, aumento de clima propício a incêndios, alterações nos níveis do mar, e ainda a redução da cobertura de neve e da velocidade do vento.

O país estará especialmente vulnerável a mais secas, aridez do território e deflagração de incêndios, devido à elevada probabilidade de se virem a registar aumentos da temperatura iguais ou superiores a 2 °C.

Diz ainda o IPCC que o nível do mar aumentará em todas as áreas europeias, exceto no mar Báltico. Como país costeiro, Portugal estará particularmente suscetível, pois com eventos extremos mais frequentes deverão ocorrer mais inundações costeiras. As linhas ao longo das costas arenosas deverão assim recuar ao longo de todo o século XXI.

Um país vulnerável ao clima
Em 2021, Portugal esgotou a 13 de maio os recursos naturais disponíveis para todo o ano, segundo contas da associação ambientalista ZERO, em parceria com a Global Footprint Network. Tal significa que o país vive mais de metade do ano em crédito climático, com as consequências que se vão acumulando em termos de pegada ecológica.

Com base neste relatório do IPCC, a ZERO particularizou as principais consequências das alterações climáticas em Portugal. Destaca, nomeadamente, uma maior exposição à seca, à desertificação e à ocorrência de fogos florestais. Dada a grande linha de costa, o país está exposto à erosão desta linha pela subida do nível médio do mar e ao aumento de tempestades. Estas alterações acabam por interferir também na saúde humana e na própria atividade agrícola. Neste caso, aumenta a dificuldade de manutenção de sistemas agrícolas mais sensíveis a limitações hídricas ou de produção tradicional, sobretudo no Sul do país. "Em Portugal, as alterações climáticas deverão ser cada vez mais uma prioridade nacional, pois a região mediterrânica (e sua interseção com o Atlântico) apresenta-se como um hotspot, ou seja, uma zona geográfica de maior vulnerabilidade aos efeitos adversos das alterações climáticas", destaca a ZERO.

Riscos aumentados para a saúde
Com uma subida da temperatura de 2 °C ou superior, serão atingidos limiares críticos para os ecossistemas e para os humanos. Segundo a Agência Europeia do Ambiente (AEA), prevê-se que, em 2050, as ondas de calor causem 120.000 mortes adicionais por ano na União Europeia e tenham um custo económico de 150 mil milhões de euros, se novas medidas não forem tomadas. Estas ondas de calor extremo afetam sobretudo os países do Sul da Europa e Mediterrâneo, onde Portugal se inclui. Segundo a AEA, esta estimativa não se deve apenas às temperaturas mais altas, nem à sua maior frequência, mas também à evolução demográfica. Atualmente, cerca de 20% dos cidadãos da UE têm mais de 65 anos de idade, uma percentagem que deverá aumentar para cerca de 30% em 2050.

Mas os riscos para a saúde têm várias origens. Para além do calor, o aumento de incêndios florestais também lança para o ar mais partículas prejudiciais à saúde, causando problemas respiratórios. A AEA salienta também que, com os invernos mais suaves e os verões mais húmidos, alguns insetos transmissores de doenças estão a expandir a sua área de sobrevivência. Estes insetos podem transportar doenças, como a doença de Lyme, a febre de dengue e a malária, para novas zonas onde antes o clima não lhes era propício. De salientar também o aumento de alergias sazonais decorrentes das variações climáticas. Tudo isto exporá sobretudo os mais vulneráveis a riscos aumentados de doença.

Esta projeção não é única. Um estudo recente da revista científica The Lancet Planetary Health analisou o impacto do aumento da temperatura na mortalidade na Europa, salientando que a subida da temperatura está a ocorrer aqui a uma taxa mais rápida do que em qualquer outro continente nas últimas décadas. A publicação ressalta o particular verão de 2003, altura em que o calor causou mais de 70.000 mortes prematuras na Europa, tendo o maior excesso relativo de mortalidade ocorrido na vizinha Espanha. Como o gradual aumento da temperatura, cenários semelhantes estão previstos em anos vindouros.