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Incentivos podem ajudar a mobilizar os munícipes

“Não será pelos municípios que não se conseguirá atingir os objetivos da neutralidade carbónica”, considerou Salvador Malheiro, presidente da Câmara Municipal de Ovar. Por sua vez, Joana Balsemão defende que “a batalha da sustentabilidade vai ser ganha ou perdida nas cidades”.

14 de Julho de 2022 às 14:00
Pedro Catarino
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Foto em cima: Joana Balsemão, vereadora do Ambiente da Câmara de Cascais, Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar, Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente Câmara de Lisboa e Jorge Cristino, autor do livro "A Missão das Cidades no combate às alterações climáticas" num debate moderado pela diretora do Negócios, Diana Ramos.

"A batalha da sustentabilidade vai ser ganha ou perdida nas cidades." Joana Balsemão, vereador do Ambiente da Câmara de Cascais, não tem dúvidas do papel dos municípios no caminho para a neutralidade carbónica e para uma sociedade mais sustentável. Isto porque "as cidades têm 65% das emissões de gases com efeito de estufa, uma enorme pegada ecológica negativa, mas é nas cidades que podem ser encontradas e implementadas as soluções", afirmou na Conferência Autarcas pelo Clima, organizada pelo Negócios em parceria com a Get2C. "Temos pessoas, economias de escala, inovação, agilidade, vontade. É à nossa porta que os cidadãos vêm bater quando há fenómeno climático extremo. Conhecemos o território e os stakeholders, e entre a vontade, a proximidade e a agilidade, a solução está de facto nestes aglomerados populacionais", defende Joana Balsemão.

O mesmo olhar tem Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar. "Não será pelos municípios que não se conseguirá atingir os objetivos da neutralidade carbónica", considerou . O município tem uma dimensão média, ou seja, tem 50 mil habitantes e pretende implementar o seu plano de ação para atingir a neutralidade carbónica em 2030. Para Salvador Malheiro, está-se perante uma revolução e a forma mais eficiente de se motivar as pessoas, os municípios e as entidades, é a partir do dinheiro, "premiando quem tem boas práticas e penalizando as más práticas". "Estamos a implementar isto à escala de Ovar com o sistema PAYT (Pay As You Throw), investindo na sensorização e na monitorização dos comportamentos ambientais e premiar as boas práticas", refere.

O clube dos 100

O presidente de Câmara de Ovar considera que sem medir não se consegue gerir, sendo um imperativo estabelecer metas e monitorizar "porque todos somos muito bons a fazer planos, roteiros, slides apelativos e que enchem o ego das pessoas, e que funcionam bem como comunicação, mas já estamos no momento de executar".

Já Lisboa candidatou-se e faz parte da missão das 100 cidades, tal como Cascais, e propõe-se a chegar à neutralidade carbónica em 2030. Para Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente, as ambições elevadas têm de se articular com a capacidade de ter recursos que acompanhem esses objetivos.

O autarca citou o exemplo da consultora Material Economics, da Mckinsey, que defende que para cidades com 100 mil habitantes são necessários cerca de mil milhões de euros para se atingir a neutralidade climática. Numa cidade como Lisboa, seriam necessários cerca de 5,5 mil milhões. "No nosso mandato falamos de investimentos de 500 a 600 milhões, investimentos robustos, mas muito distantes dos valores que têm sido apontados, por isso o orçamento e o financiamento são um problema", diz.

Conflitos sociais

Filipe Anacoreta Correia sublinha ainda que as metas propostas implicam investimentos, tecnologias e mudanças de vida das pessoas, algumas delas radicais em relação à forma como se vive a cidade que, "em muitos sítios da Europa, têm levado a uma conflituosidade social muito grande".

Por sua vez, Joana Balsemão afirma que "os desafios da descarbonização não têm só a ver com questões financeiras, mas com o código de contratação pública, que é exasperante". Além disso, a vereadora de Cascais alerta para a necessidade de incentivar e suscitar a adesão dos munícipes. "Pode fazer sentido no bolso a médio prazo, mas é muito difícil a curto prazo fazer investimentos de eficiência energética e uso de energias renováveis nas casas."

Jorge Cristino, autor do livro "A Missão das Cidades no combate às alterações climáticas", falou sobre um novo conceito de desenvolvimento sustentável "que não assente apenas no ambiente, económico e social, mas também em mais dois outros eixos do tempo". "Este é fundamental porque cria não só a necessidade da urgência, mas aquilo que é a justiça intergeracional. A quinta dimensão são as pessoas, a identidade dos territórios e a felicidade das pessoas. O objetivo de qualquer política pública é propiciar felicidade às pessoas", considera.