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Os bancos estão preparados para uma recessão

A imprevisibilidade é um dado adquirido, mas o país está melhor, o euro está mais sólido, há maior coesão europeia e os bancos estão com estruturas de capital mais robustecidas.

24 de Novembro de 2022 às 16:00
João Cortesão
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Foto em cima: O debate "Reconstruir o Futuro: Novos Desafios, Novas Oportunidades" contou com a participação de José João Guilherme, da Caixa Geral de Depósitos; João Pedro Oliveira e Costa, do BPI; Pedro Castro e Almeida, do Santander; Miguel Maya, do BCP; e Mark Bourke, do Novo Banco.

"O nosso cenário central para Portugal neste momento não é uma recessão, haverá trimestres que são negativos mas no cômputo do ano de 2023 não é o cenário central. Ainda há muita coisa que vem pela frente e portanto é difícil comprometer-me com a ideia de recessão, mas estamos preparados para isso", disse João Pedro Oliveira e Costa, presidente da Comissão Executiva do BPI, no 5.º Grande Encontro Banca do Futuro, organizado pelo Jornal de Negócios.

"O nosso cenário-base é de uma enorme imprevisibilidade, muito marcado pelo que se vai passar no conflito na Ucrânia", disse Miguel Maya, presidente da Comissão Executiva do Millennium BCP. "Este é o ponto principal, mas o que nós devemos fazer é não deixarmos que as emoções condicionem as decisões, apesar de tudo estamos a viver num contexto que é mais favorável do que há uns anos".

Para Miguel Maya há elementos positivos porque "o país está melhor, o desemprego está baixo, o euro está mais sólido, há maior coesão europeia, a banca está mais forte para apoiar as famílias e as empresas, os empresários estão mais qualificados, temos uma juventude muito qualificada e empenhada".

"Nos últimos anos, os bancos fizeram um enorme esforço de recapitalização e para terem as suas estruturas de capital bastante robustecidas. No contexto de uma provável recessão, é um fator de tranquilidade", avisa José João Guilherme, administrador executivo da Caixa Geral de Depósitos.

Monitorizar a inflação

Para Pedro Castro de Almeida, CEO do Santander Portugal, é positivo que haja um abrandamento da economia. "Vivíamos em Portugal com uma economia sobreaquecida, já tínhamos inflação há muito tempo, apesar de a inflação core estar nos zero por cento. O mercado imobiliário estava sobreaquecido e Portugal foi dos países do mundo em que os preços do imobiliário mais subiram, e estamos em situação de pleno emprego."

Na sua opinião, o importante é a monitorizar a inflação. "Como Mário Centeno disse, temos de controlar a inflação, e não começar a ficar em pânico pelo facto de as taxas de juro irem na Europa para patamares dos 3% e nos Estados Unidos dos 5%. Se começarmos já a tentar parar a subida das taxas de juro, vamos ter um problema mais grave mais tarde", referiu Pedro Castro e Almeida.

Mark Bourke, presidente da Comissão Executiva do Novo Banco, sublinhou que "há mais incerteza e mais dispersão mas que o setor bancário e o Novo Banco estão mais fortes, com balanços com melhores ativos, com modelos de negócio mais sólidos". Salientou que "um período muito prolongado de juros baixos fez com que a eficiência das operações fosse revisitada, e revisitada e revisitada".

O gestor irlandês afirmou que os planos são a preparação do Novo Banco para um IPO, mas que "tanto os mercados de dívida quanto os mercados de ações estão muito difíceis. Mas nos próximos 6 meses a 12 meses deve mudar, porque mundo tem de continuar e haverá outras oportunidades".

Segundo João Pedro Oliveira e Costa, os bancos têm vivido desde 2007-2008 desafios constantes e permanentes. Para quem estava à frente da banca não houve grande descanso com cenários que estão em constante mutação. Mas "o importante é a experiência que a banca portuguesa tem na ultrapassagem das dificuldades. Por isso, o tema experiência vai ser claramente o fator mais diferenciador do que vem pela frente".
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