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IA generativa está a mudar os bancos?

Analítica e algoritmos não são temas novos para os bancos, mas o impulso que os LLMs deram às soluções de inteligência artificial trouxe novas ferramentas para melhorar processos em diversas áreas, mas também aumentou os riscos.

24 de Outubro de 2024 às 15:30
Mariline Alves
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Foto em cima: Carlos Silva, e João Maia Abreu na mesa redonda sobre a Banca do Futuro. 

A nova "onda" da inteligência artificial, precipitada pela chegada dos grandes modelos de linguagem (LLM) e da IA generativa, tem feito mexer empresas de todos os setores, e a banca não é exceção. Por esse motivo, foi um dos temas em debate no pequeno-almoço/debate dedicado à Banca do Futuro, promovido pelo Negócios e pela Claranet.

Ao explorar este novo mundo de possibilidades, é preciso ter em mente que "em algumas áreas, os LLMs já superam os humanos", o que pode ser uma oportunidade, mas também é importante lembrar que estas ferramentas têm ajudado a posicionar "alguns atores maliciosos num nível assustador", frisou Carlos Silva. Para o diretor de segurança e proteção de dados do Banco CTT, é igualmente relevante destacar que alguns dos novos recursos da IA ainda não estão a ser utilizados da forma mais eficiente no setor. "Estamos a utilizar mal a IA. Não estamos a democratizá-la." Todas as instituições já deviam estar a usar assistentes inteligentes para melhorar processos, mas numa ordem diferente: "de baixo para cima, e não de cima para baixo, para beneficiar mais quem executa as tarefas mais atómicas". Isso também seria uma ajuda valiosa para o desenvolvimento dos sistemas.

No campo da segurança, o responsável salientou que as novas ferramentas de IA "trazem a capacidade de filtrar a análise humana para aquilo que é mais importante", considerando este um ganho tremendo para otimizar recursos nos centros de operações e dar mais espaço à análise das situações mais relevantes.

Maiores desafios e mais oportunidades para a segurança

Manuel Domingues, do Novo Banco, destacou o mesmo benefício, sem deixar de referir que este não é um mundo novo para a banca. "Falamos de algoritmos há alguns anos; a diferença agora é que a IA entrou pela porta dentro das pessoas, mas já usamos mecanismos de analítica para uso interno há muito tempo", nomeadamente para varrer os sistemas à procura de vulnerabilidades, exemplificou.

Agora, abriu-se a expectativa de avançar cada vez mais. "Já identificávamos padrões; temos agora de [usar estas tecnologias para] passar à remediação", até porque essa será a única forma de responder a um nível de ameaças, potenciadas pelas próprias tecnologias, que só pode ser combatido recorrendo aos mesmos mecanismos.

Além dos domínios da segurança e da automação, o Novo Banco tem tirado partido de soluções de IA para melhorar a visão do cliente, indicou Manuel Domingues. Melhorar a segmentação de clientes ou adaptar a experiência de utilização do serviço às preferências do cliente (nos menus da app, por exemplo) foram referências partilhadas.

O Bison Bank, que serve cerca de 4000 clientes, já tem um caminho feito neste domínio. António Henriques destacou a utilização de IA comportamental a nível interno e também deu exemplos: são usadas ferramentas para prevenir a circulação de dados sensíveis de clientes por e-mail, entre outras. Todos os colaboradores do banco já utilizam ferramentas de IA generativa.

Fintech vs. operadores tradicionais

As fintechs disputam clientes com os bancos tradicionais e, em algumas áreas, levam vantagem, mas não há vencedores nem vencidos nesta maratona, uma vez que as fragilidades de uns representam vantagens para outros e vice-versa.

Algumas das grandes diferenças entre estes dois tipos de atores não são alheias à regulação. Quanto maior a complexidade da atividade de um operador financeiro, mais a regulação a condiciona, lembrou Manuel Domingues, do Novo Banco.

"Não foi por acaso que plataformas como a Revolut começaram por áreas completamente estandardizadas em termos de regulação, como a dos pagamentos." É também por isso, acrescentou Carlos Silva, do Banco CTT, que operadores que se converteram quase numa commodity para um conjunto de operações (o exemplo foi mais uma vez o da Revolut) já não conseguem ter taxas tão interessantes em outros serviços. "Quando um banco precisa de ir além nos serviços que oferece, há custos e alguém tem de os suportar." Nestas ofertas, são muitas vezes os bancos tradicionais que continuam a sair vencedores. António Henriques acredita, ainda assim, que ambas as partes podem ter mais vantagens em colaborar do que conseguiram explorar até agora. Para o responsável do Bison Bank, a história começou a ser traçada com premissas erradas, que colocaram cada uma das partes em extremos opostos e concorrentes. É preciso fazer uma espécie de reset e alinhar os interesses subjacentes às fintechs com os dos bancos e, a partir desse alinhamento, procurar complementaridades.

O peso da herança digital O tema não é novo, mas continua a pesar quando o assunto é digitalização e não se reflete apenas nas questões da migração tecnológica, defendeu Carlos Silva, do Banco CTT. "Acreditamos firmemente que o futuro é digital, mas o que temos sentido é que a banca tem colocado toda a sua complexidade nos processos digitais." Na sua perspetiva, a experiência digital que a banca tradicional consegue oferecer, mas muitas vezes não cativa pela simplicidade ou facilidade de utilização que é comum encontrar nas plataformas das fintechs.
António Henriques, CEO do Bison Bank, defendeu o mesmo. "Hoje, a banca portuguesa está muito agarrada a processos antigos e está a digitalizar sobre essa herança" e "não é só uma questão de tecnologia; é também uma questão de pessoas", frisou, questionando a preparação atual dos recursos humanos do setor para responder a um mercado internacional, caso essa procura se manifeste.
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