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Digital facilita salto da banca para a internacionalização

Novo Banco, Banco CTT e Bison Bank partilharam visões sobre os desafios e as oportunidades do setor. Digitalizar sim, mas como e até onde?

24 de Outubro de 2024 às 15:00
Mariline Alves
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Foto em cima: Manuel Domingues, António Henriques, e Nuno Sousa.

Nos últimos anos, a banca tem feito um esforço de digitalização para atender às necessidades dos clientes e para responder à concorrência das fintech, que conseguiram dar uma nova roupagem a serviços já amplamente utilizados e tornar mais comuns outros menos populares até à sua chegada.

As maiores conquistas neste percurso, os desafios que permanecem por resolver e as oportunidades que ainda faltam explorar estiveram em debate no pequeno-almoço/debate dedicado à Banca do Futuro, promovido pelo Negócios e pela Claranet, e que contou com a participação de Manuel Domingues, CIO do Novo Banco, António Henriques, CEO do Bison Bank, Carlos Silva, Diretor de Segurança e Proteção de Dados do Banco CTT, e Nuno Sousa, Financial Services Director da Claranet Portugal.

Nesta mesa-redonda, foram abordados temas como a digitalização, a regulação e o impacto, tanto positivo como negativo, da inteligência artificial no setor.

Temos uma multiplicidade de ofertas digitais que não nos envergonha face ao resto da Europa.Manuel Domingues
CIO do Novo Banco

A digitalização tem sido uma das grandes áreas de investimento do setor nos últimos anos e, para Manuel Domingues, CIO do Novo Banco, com ganhos evidentes até à data. "A banca em Portugal tem um nível digital até muito superior àquele que podemos encontrar noutros mercados", sublinhou. "Temos uma multiplicidade de ofertas digitais que não nos envergonha perante o resto da Europa."

O responsável está confiante de que o setor tem a capacidade tecnológica necessária para enfrentar os desafios atuais e futuros. Nestes processos, outros fatores, como os recursos humanos e a regulação, têm um peso considerável, influenciando também o ritmo da transformação.

Há uma diferença entre ser digital e ser digital para o mundo.António Henriques
CEO do Bison Bank

Mas estará o setor a tirar todo o proveito possível do investimento feito nesta área? Para António Henriques, nem por isso. A dimensão do país torna a internacionalização uma aposta incontornável para o crescimento num mercado que, além de pequeno, conta com um elevado número de concorrentes. A banca não estará a aproveitar ao máximo a aposta no digital com essa visão estratégica. "Há uma diferença entre ser digital e ser digital para o mundo", afirmou o CEO do Bison Bank, apresentando um exemplo: "Os processos de abertura de conta dos bancos portugueses no digital estão pensados com metodologias direcionadas a clientes portugueses. E depois, se quisermos aceitar algum dos outros 160 passaportes, como fazemos?"

Para o responsável do antigo banco de investimento ligado ao Banif, a banca portuguesa devia focar-se mais "numa visão de negócio orientada para o mundo, com a perceção de que há muitas pessoas no mundo dispostas a estabelecer relações com bancos portugueses."

Digital é bom para tudo mas há mais qualquer coisa

A história recente do Novo Banco obrigou a instituição a desinvestir na sua atividade internacional e continua a impor limitações à recuperação de uma estratégia dessa natureza, mas Manuel Domingues salientou que o maior obstáculo a essa expansão, para qualquer banco português, não é tecnológico. O facto de a Europa manter uma regulação fragmentada pesa muito mais. A dimensão da concorrência em escala europeia é outro fator a ter em conta. Para seguir esse caminho, a banca portuguesa terá de apostar na diferenciação, uma vez que a escala não lhe dará vantagem. Em simultâneo, continuará a ter de investir localmente em todos os outros canais de contacto com o cliente.

"Um banco não pode dispensar toda uma rede de canais", afirmou. "É necessário ter essa capacidade de oferta. Os balcões fazem parte das ferramentas que devemos disponibilizar aos clientes para cobrir todos os segmentos e necessidades, e isso é o que também nos distingue dos novos concorrentes, que concentram a sua operação em segmentos e produtos específicos.

Nascemos num mundo distribuído, fora dos mainframes e processos mais tradicionais e isso vai permitir-nos ter a operação toda baseada em cloud daqui a dois anos.Carlos Silva
Diretor de Segurança e Proteção de Dados do Banco CTT

O Banco CTT está a caminhar para se tornar mais digital. Logo após o lançamento da operação, percebeu rapidamente que a oferta atraía um público mais abrangente e jovem do que o inicialmente estimado, o que acelerou o processo. Hoje, a prioridade é "retirar clientes das lojas e reforçar cada vez mais a vertente digital", admitiu Carlos Silva, destacando as vantagens da situação do banco para atingir esse objetivo: "nascemos num mundo distribuído, fora dos mainframes e dos processos mais tradicionais, o que nos permitirá ter toda a operação baseada na cloud dentro de dois anos".

Ainda assim, o diretor de segurança e proteção de dados do Banco CTT também frisou que não será possível, nem desejável, abandonar completamente o mundo físico ou deixar de fazer uma aposta sólida nesse âmbito. "Existirão sempre clientes que teremos de servir ao balcão, seja por questões de infoexclusão ou pela falta de confiança nos canais digitais." Os requisitos legais, como a manutenção de documentos atualizados, por exemplo, ainda favorecem estruturas híbridas, lembrou Carlos Silva.

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