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A digitalização do sistema bancário e a potencial redução dos custos de funcionamento do sistema financeiro, devido às economias de escala e da nova gama que a tecnologia pode permitir, são o contexto em que se podem escrutinar tendências emergentes no setor financeiro, segundo Álvaro Nascimento, antigo chairman da Caixa Geral de Depósitos e professor auxiliar de Economia e Finanças na Católica Porto Business School.
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1. Um sistema de pagamentos mais eficiente
"A evolução recente da tecnologia suscita a ideia de que é possível uma nova rede logística, com custos mais baixos que os atuais. Ou seja, é possível liquidar transações a um preço inferior ao que as soluções bancárias tradicionais apresentam", refere Álvaro Nascimento.
Considera que não é o fim dos bancos mas a vantagem das fintechs explica-se pela falta de atenção dos incumbentes, num contexto de profundas mudanças sociais, a qual foi aproveitada pelos entrantes para oferecer aos clientes o que estes procuravam em condições competitivas e condicentes com o estilo de vida.
O regulador favoreceu o aparecimento destes novos operadores, "ao isentá-los das pesadas obrigações regulatórias (sobretudo no pós-crise) que oneram de modo dramático o setor bancário tradicional. A juntar a isto, na Europa, a segunda diretiva europeia sobre sistema de pagamentos (PSD2), que franqueia ainda mais o acesso".
A questão para Álvaro Nascimento é que a competição no sistema de pagamentos surge quando os bancos atravessam um momento difícil de taxas de juro negativas e "têm necessidade de aumentar as receitas do sistema de pagamentos - leia-se as comissões bancárias - para suportar os custos de uma infraestrutura que não é, tecnologicamente falando, a mais eficiente".
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2. Novos alquimistas no financiamento à economia
A tecnologia permite voltar a repensar o modelo de negócio na concessão de crédito, tanto pelo acesso a um vasto manancial de informação como pelas oportunidades quase ilimitadas da inteligência artificial. Mas se a tecnologia facilita a ação de marketing de venda do crédito, a relevância está na redução do custo no acesso e no processamento de informação, que pode reduzir os custos de financiamento à economia.
Se a tecnologia permite aos bancos surfar a próxima vaga na concessão e crédito, estendendo a base através da redução de custos, por outro, expõe-os à ameaça de novos concorrentes com dados para novas estratégias de segmentação. "Uma concorrência interessante e que o regulador terá que monitorizar", conclui diz Álvaro Nascimento.
No crédito os bancos detinham a totalidade da cadeia de valor como nos pagamentos. Mas hoje "uma fatia significativa dos modelos de "rating" e "scoring" são adquiridos a entidades terceiras e, não raras vezes, parametrizados com dados externos. Assim sendo, os bancos estão numa situação em tudo semelhante à do sistema de pagamentos, com a nuance de terem informação proprietária. Contudo, o mais interessante é o que a tecnologia vai permitir na redefinição das tipologias de contratos para financiamento à economia. Esta sim, a verdadeira inovação financeira", explica Álvaro Nascimento, porque é mais do que "a simples aplicação da tecnologia a produtos financeiros tradicionais".
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3. Uma arquitetura institucional mais aberta
Ao deslocar o foco das economias de escala, a tecnologia vai produzir implicações sobre as fronteiras institucionais dos bancos, pelo menos nos tempos mais próximos. Para Álvaro Nascimento vai resultar em "instituições de maior dimensão, possivelmente supranacionais, a operar funções específicas do sistema financeiro: o sistema de pagamentos, a concessão de crédito, o aconselhamento financeiro", Depois, por questões de eficiência económica, "porque a tecnologia o permite, assistiremos a um modelo de "open banking", que levará a uma maior desagregação das cadeias de valor − "gestão dos pagamentos" e "financiamento à economia" - à semelhança do que ocorreu com a indústria, com a globalização as cadeias de valor do produto". Nessa altura "parece lógico o aparecimento de modelos de BaaP (Bank as a Platform)".
Contudo, para Álvaro Nascimento, "em teoria, nada impede que no equilíbrio de longo prazo tudo se volte a integrar. É evidente que para além de economias de escala também existem economias de gama - ou seja, na linguagem económica, indivisibilidades do processo produtivo - que são as mesmas que justificam as fronteiras institucionais dos bancos atuais. Se assim ocorrer, teremos simplesmente bancos maiores".
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4. Maior interdependência, contágio e risco sistémico
Ao deslocar o foco das economias de escala, a tecnologia vai produzir implicações sobre as fronteiras institucionais dos bancos, pelo menos nos tempos mais próximos. Para Álvaro Nascimento vai resultar em "instituições de maior dimensão, possivelmente supranacionais, a operar funções específicas do sistema financeiro: o sistema de pagamentos, a concessão de crédito, o aconselhamento financeiro", Depois, por questões de eficiência económica, "porque a tecnologia o permite, assistiremos a um modelo de "open banking", que levará a uma maior desagregação das cadeias de valor − "gestão dos pagamentos" e "financiamento à economia" - à semelhança do que ocorreu com a indústria, com a globalização as cadeias de valor do produto". Nessa altura "parece lógico o aparecimento de modelos de BaaP (Bank as a Platform)".
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5. Twilight zone: o universo das novas moedas
Álvaro Nascimento refere que tem havido várias tentativas de criação de criptomoedas, para substituir as moedas nacionais e construir um sistema financeiro internacional, livre das fricções e entraves, mas até agora sem sucesso mas "ainda cedo para ditar o fim das criptomoedas".
Mas sublinha que "não se acredite, contudo, que o processo foi parado. A tentativa de criação da Libra é mais uma das manifestações dos efeitos da globalização, em que os problemas criados não encontram capacidade de resposta nas políticas locais. Numa economia em que preponderam atores globais, a política de cada país − individualmente e sem cooperação − é inoperante para endereçar as preocupações", refere Álvaro Nascimento.