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“Bancos estrangeiros podem potenciar choques externos”

Os desafios da banca em Portugal passam empréstimos non-performing, exposição ao imobiliário e dívida pública, a digitalização, a rentabilidade, aas baixas taxas de juro.

29 de Outubro de 2019 às 12:10
Inês Gonçalves Raposo passou pelo think tank Bruegel. DR
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"Desde a crise, o sistema bancário português tem continuado um processo de desalavancagem, de melhoria do balanço e dos fundamentals. Os bancos portugueses encontram-se hoje mais bem preparados para enfrentar choques, como é ilustrado pelo reforço dos rácios de capital (CET1) de 11.3% no final de 2014 para 13.2% no final de 2018. Os últimos dados apontam também para uma melhoria da rendibilidade, principalmente motivada por reduções de imparidades e de provisões", refere Inês Gonçalves Raposo, que está a fazer o doutoramento na Universidade de Bocconi em Milão, depois de ter passado pelo think tank de economia europeia em Bruxelas, Bruegel.

Na sua opinião, o sistema bancário português ainda apresenta vulnerabilidades. Um dos principais desafios é o rácio dos empréstimos non-performing (NPLs), apesar de os bancos terem mantido uma trajetória de redução continuada destes ativos. Em junho deste ano, o rácio de NPLs encontrava-se em 8.3% dos empréstimos brutos, comparativamente a um rácio de 11.7% no mês homólogo do ano anterior. "Esta redução deve-se maioritariamente a vendas. No entanto, entre os seus pares europeus, Portugal apresenta ainda um dos rácios mais elevados de empréstimos non-performing líquidos de imparidades", diz Inês Gonçalves Raposo.

Imobiliário e dívida pública

A elevada exposição do sistema bancário português ao setor imobiliário e a títulos de dívida pública deixam-no vulnerável a alterações súbitas de prémios de risco, refere Inês Gonçalves Raposo fazendo eco da análise do Banco de Portugal e do FMI.

"Ambos os fenómenos, assim como o ambiente prolongado de baixas taxas de juro, são comuns a outros países europeus. No entanto, como se viu durante a crise, um abrandamento da atividade económica pode afetar assimetricamente os prémios de risco de cada país e assim prejudicar a qualidade do ativo e pressionar a rendibilidade dos bancos. Neste sentido, é importante assegurarmo-nos que os bancos têm capacidade de resposta, através da manutenção de rácios de capital adequados", avisa Inês Gonçalves Raposo.

A progressiva digitalização da banca apresenta também novos desafios, nomeadamente garantir a segurança das operações (por exemplo quanto a branqueamento de capitais) e criar mecanismos para que não haja exclusão digital. A entrada de novos players (fintech) no mercado pode ter efeitos na competição dos bancos e levanta questões sobre o futuro da regulação e supervisão bancárias.

Para Inês Gonçalves Raposo, a predominância de acionistas estrangeiros na banca portuguesa, que têm presença forte no Millenniumbcp e controlam o Santander, Novo Banco e BPI não é em si vulnerabilidade nem vantagem. Considera que o aumento da presença de bancos estrangeiros nos sistemas bancários nacionais é um fenómeno generalizado e que questões como bancos detidos por estrangeiros poderem ser mais seletivos na concessão de crédito e deste modo limitá-la, ou apresentarem diferenças de performance em relação aos grupos domésticos "são tidos como negligenciáveis em países desenvolvidos. Uma crítica importante prende-se com o facto da presença destes grupos poder potenciar a transmissão de choques externos. Esta é uma matéria de supervisão".

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