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A banca quer manter a relevância

O contexto de novos clientes, de taxas de juro negativas, da tecnologia está a desafiar os bancos tradicionais.

05 de Novembro de 2019 às 12:30
António Ramalho, Paulo Macedo e Miguel Maya refletiram sobre os desafios que se colocam à chamada banca tradicional.
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"Um dos grandes desafios que se coloca à banca é o de continuar relevante", considerou Paulo Macedo, presidente da Caixa Geral de Depósitos. "Esta era caracterizada por ter dois pilares. Os depósitos, que passaram a ter rentabilidades negativas, e o crédito ao setor público, em que o Estado está a diminuir o seu endividamento e o seu financiamento, que estava nos 2, 3 e 4%, hoje tem taxas negativas", referiu Paulo Macedo.

Como é que se altera um negócio que em dois anos, no meio da evolução tecnológica e regulatória a mudar significativamente na última década, quando os principais pilares do seu core-business perdem rentabilidade e os restantes negócios, como os meios de pagamento, o crédito à habitação e ao consumo, estão a ser atacado por entidades que não tem encargos adicionais como requisitos de capital ou de regulação", interrogou-se Paulo Macedo.

Apetite de risco

Para a CGD se manter relevante tem de passar de uma relação de depósitos para uma relação global. "A CGD tem por objetivo não ser apenas o guardião dos depósitos dos portugueses, tem cerca de 1/3 dos depósitos, mas ter o PPR, o seguro de vida, o crédito ao consumo dos seus clientes. "Se não conseguir fazer isto, a CGD vai perder a sua relevância", defendeu Paulo Macedo.


500
Clientes
Número de clientes da Caixa Geral de Depósitos que num só dia realizou transações através de canais automáticos.


"A apetência de risco de cada banco será um fator de diferenciação, mas em certos segmentos essa diferenciação não existirá, como na gestão de risco, no crédito à habitação", considerou Paulo Macedo.

Na tecnologia a questão é se a banca consegue responder ao digital e dar a mesma experiência positiva. Em termos de acessibilidade, há uma grande rede de agências físicas que se mantêm, ainda uma das maiores da Europa, e "demos acesso sem precedentes através das apps, que são competitivas com qualquer app europeia, e de canais digitais. Na terceira semana de Outubro a CGD teve num só dia 500 mil clientes a fazer transações através de canais automáticos", revelou Paulo Macedo.

Tecnologia e atração

A tecnologia e o cliente são os guias na estratégia do Millenniu bcp. "Estamos a reinventar o banco numa perspetiva do cliente, e perceber o que é os novos clientes e os atuais clientes querem, com base nas novas tecnologias, e reinventar todo o processo. Combater a ideia de um banco pesado. O Millennium é um banco jovem que tem a experiência do passado, que está a construir a sua personalidade para o futuro", afirmou Miguel Maya, presidente da Comissão Executiva do Millennium bcp.

Esta estratégia implica a incorporação das novas ferramentas e do digital nos processos de negócio. "Hoje a tecnologia confunde-se com os negócios, a reorganização do banco é fundamental para que não se trabalhe em silos e, através dos olhos dos clientes, incorporar a tecnologia nos nossos modelos de negócio de forma a garantir a melhor experiência ao cliente".

Se Paulo Macedo defendeu a necessidade de escala, Miguel Maya considera que hoje a escala está nas redes de colaboração, que dão flexibilidade, agilidade e adaptabilidade, e os "todos os proveitos da escala do passado com o mesmo nível de custos e uma proximidade ao cliente que é completamente diferente".

António Ramalho referiu ainda que "os bancos já são todos rentáveis, mas não são atrativos em termos de capital. Toda a banca europeia está a cotar a 50/60% do valor contabilístico". Por sua vez as preocupações de Paulo Macedo são as condições de operacionalidade dos bancos no futuro. "A rentabilidade para a banca apontada pelo BCE para 2020, que era 7,7%, foi revista para 5,5%, mas o custo do capital continua em dois dígitos".

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