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As fintech têm a vantagem tecnológica

As fintech cobrem a cadeia de valor da banca, mas o mais importante para uma start-up financeira é mostrar que pode crescer rapidamente e ter um número de clientes ou utilizadores bastante elevado, para poder continuar a atrair investimento.

07 de Fevereiro de 2022 às 15:00
Ricardo Vidal, Consultor da Oradian DR
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O que mais diferencia as fintech, na opinião de Ricardo Vidal, é "a velocidade de execução" e "a vantagem de poderem inovar e desenvolver um sistema mais simples e escalável". Mas "para tomar partido da vantagem de poder ser ágil e poder ter um cuidado mais dedicado com os utilizadores, muitas vezes, as fintech precisam de colaborar com as instituições tradicionais", refere Ricardo Vidal. Por exemplo, para uma fintech oferecer aos seus utilizadores um cartão de crédito feito de raiz teria de desenvolver uma rede de pontos de venda que aceitassem o seu cartão, o que seria muito difícil e oneroso. Por isso "o passo mais óbvio é fazer uma colaboração com a Visa ou a Mastercard e fazer uma integração com os seus sistemas, assim os utilizadores podem ter acesso a uma rede global de pagamentos".

Ricardo Vidal, depois de se licenciar em Engenharia Informática na Universidade de Aveiro, tem feito a sua carreira profissional em start-ups na Alemanha, tendo passado pela recentemente pela insurtech wefox. Recorda que quando esteve na Kreditech, entre 2013 e 2017, esta start-up era abordada por bancos tradicionais para utilizarem o seu sistema de risco e scoring porque "era bastante superior ao que os bancos tinham na altura, pois nós podíamos usar data de fontes externas e tínhamos modelos inteligentes de inteligência artificial que produziam resultados exponencialmente melhores".

Inovação há 50 anos

Na opinião de Ricardo Vidal, antes das fintech, a última grande inovação na banca foi a ATM (caixa multibanco), há mais de 50 anos. Depois disso o foco esteve mais nos lucros e muito pouco no utilizador final. O que as fintech fizeram foi "acordar indústrias que de outro modo continuariam no seu conforto sem terem de se preocupar com os utilizadores desde que continuassem a manter os seus investidores felizes.

Recorda que há dez anos apenas a experiência de cliente na banca era "bastante dolorosa", e que o simples ato de requerer um cartão de crédito "levava muito tempo e exigia paciência", implicava a deslocação a uma agência, filas. "Hoje em dia a maior parte dos assuntos que precisamos de resolver no banco já não têm esse teor negativo e são resolvidos rapidamente e com uma experiência agradável, e isto só foi possível porque as fintech obrigaram a banca a modernizar-se e a trazer para a ordem do dia a experiência que dão aos seus utilizadores".

Com as fintech e a regulação, como a recente diretiva dos pagamentos (PSD2), o cliente ganhou mobilidade e a sua experiência tornou-se o centro da atividade financeira. Para Ricardo Vidal, uma das razões pelas quais a banca não evoluiu durante muitas décadas tinha a ver com o facto de ser muito difícil para um cliente mudar de instituição. "Uma vez que o indivíduo se tornava utilizador, a banca não tinha mais de se preocupar com ele porque este dificilmente conseguia mudar para outro banco pois implicava mudar de cartões, dos pagamentos associados com a conta, onde se recebe o salário e paga a luz..., com o PSD2 a banca foi obrigado a modernizar e perdeu o monopólio que tinha com os utilizadores. Com ou sem modelo de colaboração o grande vencedor foi o consumidor final que tem agora uma experiência superior e como bónus a banca também inovou nos seus serviços e ofertas".

A oportunidade da cloud

Segundo Ricardo Vidal, as fintech cobrem a cadeia de valor da banca, mas o mais importante para uma start-up financeira é poder mostrar que pode crescer rapidamente e ter um número de clientes ou utilizadores bastante elevado, para desse modo validar a oportunidade e poder continuar a atrair investimento. Refere que as oportunidades estão em áreas em que a banca tradicional não esteja tão presente.

Deu como exemplos os microempréstimos, em que a banca tinha pouco interesse por causa do elevado risco e pouco lucro, ou as contas empresariais para novas empresas e que continuam a ser dominadas por fintech. Um caso mais recente e que está a crescer exponencialmente é um negócio que já existia offline, "o ‘buy-now-pay-later’ mas que só recentemente se digitalizou e temos visto negócios milionários de fintech que oferecem esses serviços".

"Tudo que tenha a ver com tecnologia é algo que as fintech terão sempre vantagem, mesmo com o fiasco recente da wirecard", refere Ricardo Vidal, que também é consultor da Oradian, que se centra em sistemas bancários na cloud para os mercados emergentes. Refere que esta área dos sistemas bancários na cloud tem tido um grande crescimento com o aparecimento de dois unicórnios em 2021 como a mambu na Alemanha e a Thought Machine no Reino Unido e a entrada em bolsa da nCino dos Estados Unidos teve uma oferta pública.
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