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A esfinge americana

Opinião de Yves Longchamp, "head of research" ETHENEA Independent Investors (Schweiz) AG

27 de Setembro de 2016 às 11:12
A pergunta determinante de quando e se a Reserva Federal norte-americana vai aumentar a taxa de juro continua a preocupar os participantes no mercado também no início do último trimestre de 2016. Yves Longchamp, "head of research" da ETHENEA Independent Investors (Schweiz) AG, explora, neste artigo, o contínuo adiamento e hesitação da Reserva Federal norte-americana relativamente à sua política de taxa de juro.

Depois de a Reserva Federal norte-americana ter aumentado uma vez a taxa de juro de referência na sua reunião de dezembro do ano passado após um longo período de adiamento, no presente ano a Reserva Federal coloca os participantes no mercado perante o mesmo enigma de sempre. Os participantes no mercado esperavam mais informações sobre as próximas medidas da Reserva Federal norte-americana desde a conhecida cimeira dos banqueiros centrais nos finais de agosto em Jackson Hole. Todavia, desde então, só há certezas de que o discurso de Janet Yellen apenas alimentou novamente especulações sobre o facto de a economia dos EUA estar agora realmente preparada para uma nova subida da taxa de juro de referência. Em 31/8, a probabilidade implícita do mercado relativamente a um aumento da taxa de juro na próxima reunião da Reserva Federal norte-americana a 21 de setembro era ligeiramente inferior a 40%(1). Tal não revela convicção. O valor é comparável com as expectativas do mercado perante grandes deceções do passado. Assim, não se pode deixar de perguntar se os participantes no mercado não são capazes de antecipar os aumentos da taxa de juro ou se a comunicação da Reserva Federal norte-americana simplesmente não funciona.

Neste artigo defendemos a tese de que 19.000 colaboradores da Reserva Federal norte-americana(2) pura e simplesmente não sabem o que fazer. Destrincemos, então, o seu conflito de interesses: a resposta de Janet Yellen relativamente a um "novo" aumento da taxa de juro neste ciclo deveria ser "sim". No entanto, teria de dizer "não" a um "segundo" aumento da taxa de juro. Um paradoxo que até ao momento a Reserva Federal norte-americana não soube resolver.

Relativamente a um novo aumento da taxa de juro, a Reserva Federal norte-americana teria de dizer "sim", uma vez que as condições para esse aumento já estão reunidas há vários anos. Aliás, no passado, as autoridades monetárias norte-americanas já começavam a aumentar as taxas de juro doze meses após uma diminuição do desemprego. Conclui-se que a Reserva Federal norte-americana está a ficar para trás neste ciclo. Por conseguinte, a decisão sobre um novo aumento da taxa de juro deveria, na verdade, ser um "sim" unânime. Se não fosse pela diminuição da taxa de desemprego, que já ultrapassou o seu pico. No passado, a Reserva Federal norte-americana terminava a sua política de aumento da taxa de juro precisamente quando a velocidade de retração do desemprego era mais elevada. De acordo com esta perspetiva, já seria tarde demais para um segundo aumento da taxa de juro, uma vez que este já deveria ter ocorrido.

A Reserva Federal norte-americana enfrenta, portanto, um dilema. É por este motivo que as declarações da Reserva Federal norte-americana apontam alternadamente em direções opostas. A conhecida "forward guidance" está atualmente suspensa, o que resulta numa volatilidade despropositada das expectativas dos investidores no mercado. Por conseguinte, apenas resta aos participantes no mercado aguardar prudentemente. O enigma da esfinge permanece por decifrar.


(1) Fonte: Bloomberg
(2) Fonte: http://www.federalreserve.gov/publications/annual-report/files/2015-annual-report.pdf, p. 398



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