José Galamba de Oliveira é o presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), associação sem fins lucrativos para defesa e promoção dos interesses das empresas de seguros e resseguros. A APS representa mais de 99% do mercado segurador, em volume de negócios e em efetivos totais empregados, sendo fundamental na atividade seguradora do País. No âmbito do tema deste especial, entrevistámos José Galamba de Oliveira que falou do presente da atividade em Portugal e apontou os desafios do futuro. Aqui, o representante da APS salientou a importância que tem para o setor os desafios de "enorme envergadura" que constituem os ciber-riscos e a resiliência cibernética das empresas.
A articulação entre as empresas seguradoras e o Estado também foi focada, recordando que faz todo o sentido respostas conjuntas a riscos catastróficos como riscos sísmicos, erupções vulcânicas, incêndios, inundações e parcecia na área social. Entre outros temas, José Galamba de Oliveira falou também no universo da APS.
Na sua opinião, como olham os portugueses para o setor segurador?
A Associação Portuguesa de Seguradores (APS) acredita que, cada vez mais, os portugueses estão a compreender que os seguros existem para, nos momentos mais difíceis, lhes tornar a vida mais fácil ou menos complicada, tornando o setor cada vez mais relevante e importante para a sociedade civil.
Segundo os resultados do estudo European Customer Satisfaction Index (ECSI – Portugal 2020), num período de adversidade, o setor segurador continuou a liderar o ranking do Índice de Satisfação do Cliente no segmento financeiro. A APS entende que este resultado é o reflexo de um trabalho de aproximação aos clientes que tem sido desenvolvido pelas seguradoras, no sentido de compreender quais as suas necessidades e como os pode apoiar, e que é cada vez mais reconhecido e valorizado pelo público.
Após dois anos de pandemia, qual é o panorama atual do setor segurador em Portugal?
A indústria seguradora acelerou a implementação dos seus planos de transformação digital e está hoje mais preparada para, de uma forma mais ágil, dar resposta às novas necessidades dos seus clientes. A pandemia trouxe novas realidades no dia a dia das empresas e das famílias e como consequência novas necessidades e novos comportamentos – refiro-me, por exemplo, ao trabalho híbrido, às novas formas de mobilidade, à utilização massiva das novas tecnologias, etc.
Temos atualmente um setor com uma oferta e processos ajustados a estas novas necessidades e novos comportamentos que tem regressado, progressivamente, à normalidade possível.
A pandemia reforçou de alguma forma a necessidade de proteção das pessoas no futuro?
A pandemia e os eventos de natureza catastrófica, em geral, acabam por gerar nas pessoas uma maior consciência sobre as situações de risco a que estão expostas e, consequentemente, sobre a importância dos seguros.
Quais são os desafios e as oportunidades que se apresentam hoje à atividade seguradora?
O setor tem evidenciado uma capacidade de resposta muito positiva à evolução e transformação da sociedade, encontrando novas soluções para os seus clientes, adaptadas às suas necessidades, e apoiando os seus fornecedores e prestadores de serviços mais diretos.
É hoje, por exemplo, um setor muito mais bem preparado do ponto de vista da sua capacidade de adaptação à transformação digital, oferecendo serviços inovadores aos seus clientes, como a telemedicina ou as peritagens à distância.
Os ciber-riscos e a resiliência cibernética das empresas é um desafio de enorme envergadura, também na dupla perspetiva em que as empresas de seguros têm de garantir a sua própria segurança contra os riscos cibernéticos, mas são também tomadoras de riscos nesta área.
Posicionar o setor segurador como um parceiro incontornável das políticas públicas, seja na área da saúde, da reforma por velhice ou nos riscos catastróficos e nas alterações climáticas é outro desafio fundamental, a bem da nossa sociedade de bem-estar e se quisermos ter o país mais bem preparado para enfrentar todas as dificuldades a que temos assistido nos últimos tempos.
Aumentar o grau de penetração do seguro e tornar este ainda mais relevante na vida das pessoas é fundamental, e é também um indicador do grau de desenvolvimento das sociedades.
Que vantagens traria para os portugueses uma parceria sólida entre o Estado e as empresas deste ramo de atividade?
Todos aqueles riscos de natureza mais catastrófica ou sistémica são áreas em que a cooperação entre o setor segurador e ressegurador e o Estado é um fator determinante para o desenvolvimento de soluções de cobertura desses riscos a custos acessíveis aos cidadãos. A título de exemplo, existem já, em muitas partes do mundo, parcerias de sucesso comprovado, para dar respostas a riscos catastróficos como riscos sísmicos, erupções vulcânicas, incêndios, inundações, etc.
A outra área na qual as parcerias, ou pelo menos uma maior articulação, fazem sentido é na resposta a necessidades sociais. Já temos uma parceria de muitos anos nos acidentes de trabalho – sendo uma eventualidade da segurança social, é gerida pelo setor privado de seguros. E podíamos ter esse mesmo tipo de articulação na área das pensões complementares de reforma ou até na área da saúde.
Que importância tem o setor segurador na economia portuguesa e no funcionamento dessa mesma economia?
A atividade seguradora destaca-se das demais atividades económicas pela sua forte intervenção em áreas de evidente interesse social, como são a proteção de pessoas e bens e a gestão das poupanças dos aforradores. A isto acresce, ainda, o relevante papel desempenhado pelo setor na promoção do desenvolvimento económico, em particular através de financiamentos de médio e longo prazo ao Estado e do setor empresarial privado. Estima-se que, no final de 2021, o volume total da carteira de investimentos do setor se situava em torno dos 54 mil milhões de euros (ou seja, cerca de 26% do PIB), o que coloca, mais uma vez, o setor segurador no topo dos investidores institucionais em Portugal.
É, também, graças a uma gestão cuidada e eficiente da sua carteira de investimentos e dos resultados por ela gerados que o setor segurador tem a capacidade de devolver anualmente à sociedade a totalidade – ou até mesmo mais – do volume de prémios que recebe dos tomadores de seguros.
No arranque do novo ano, a APS aconselhou os consumidores a revisitarem os seus contratos de seguro, verificando as coberturas contratadas (relacionadas com fenómenos da natureza) e atualizando os capitais seguros. Por que motivo o fizeram?
A APS fez essa comunicação centrada no caso concreto das apólices de seguros de incêndio e elementos da natureza e de multirriscos de habitação, recordando que o SCRIM – Simulador para o Cálculo de Custo de Reconstrução de Imóveis se encontra disponível, de forma digital e gratuita (https://scrim.apseguradores.pt/) para apoiar os tomadores de seguro na determinação do capital a segurar.
O SCRIM foi desenvolvido com base numa fundamentação metodológica produzida de forma totalmente independente pela FUNDEC – Associação para a Formação e o Desenvolvimento em Engenharia Civil e Arquitetura, ligada ao Instituto Superior Técnico.
Este tipo de comunicação inscreve-se no âmbito dos planos de literacia financeira da APS, que pretende ir passando informação aos consumidores sobre temas de seguros do dia a dia e sobre ferramentas que estão à sua disposição para facilitar a relação dos cidadãos e empresas com a atividade seguradora.
A APS está sempre muito ativa, levando a cabo diversas iniciativas para os seus associados. O que tem a APS programado para este ano?
Depois de dois anos de contenção na organização de iniciativas mais alargadas para os Associados, de referir que a APS planeia, no plano mais imediato, realizar o Encontro Internacional de Resseguros, no final de maio deste ano.