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“As competências digitais tornaram-se ainda mais determinantes”

O confinamento provocou uma mudança de postura dos portugueses face às tecnologias e deu nova força ao digital, mas Alexandre Nilo Fonseca lembra que não se pode correr o risco de excluir ninguém.

09 de Novembro de 2020 às 11:07
Alexandre Nilo da Fonseca, presidente da ACEPI
Alexandre Nilo da Fonseca, presidente da ACEPI
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A pandemia e o consequente confinamento da população trouxeram novos desafios às organizações que se voltaram, em força, para o digital como forma de chegar aos seus clientes. Mas trouxe também novos desafios aos consumidores, alunos, trabalhadores que se viram "obrigados" a socorrer do digital para seguir em frente com as suas vidas.

Em entrevista ao Negócios em Rede, o presidente da ACEPI, Alexandre Nilo Fonseca, falou da forma como este cenário veio alterar por completo os números e a realidade que Portugal apresenta em relação ao mundo digital. Mudanças, de resto, bem patentes no mais recente estudo da ACEPI sobre a economia digital. Um estudo apresentado durante a última edição do Portugal Digital Summit, este ano num formato diferente e inovador, que acabou por se revelar "um modelo claramente vencedor". 

 

A edição deste ano do Portugal Digital Summit foi muito diferente do habitual.

Sem dúvida. O Portugal Digital Summit faz parte de um conjunto de iniciativas que a ACEPI realiza anualmente de promoção da sociedade digital em Portugal, em formato conferência de dois dias. No ano passado, tivemos cerca de 4.500 pessoas num modelo presencial. Com a pandemia, ficou claro para nós, já em abril, que teríamos de repensar o modelo: ou adiávamos o evento ou então faríamos algo diferente. Optando por não adiar, decidimos olhar para os vários formatos possíveis e não encontrámos nenhum que, realmente, nos agradasse. Decidimos investir num evento completamente inovador, num formato de grelha televisiva, que ocuparia toda a semana e a decorrer das nove da manhã às oito da noite. Contas feitas, foram 50 horas de emissão.

 

Como conseguiram preencher toda a emissão?

Distribuímos os temas por diferentes horários ao longo da semana e as pessoas já sabiam que os painéis que procuravam ver aconteciam a uma hora certa. Esta ideia facilitou muitíssimo a organização. Ao longo do dia, tínhamos rubricas diferentes, desde entrevistas a pessoas conhecidas como o José Avillez ou outros gestores, em que se pretendia saber como ultrapassaram a crise e como o digital foi importante neste processo, até gestores da área das tecnologias – da Google à Microsoft –, personalidades do mundo artístico, etc. Sempre com conversas em torno do digital. Mas o evento teve ainda conversas com jovens empreendedores, start-ups ou o programa educativo Apps for Good.

 

Já há números relativamente à assistência?

Ainda estamos a consolidar os dados. Como temos a emissão toda gravada e com possibilidade de ser ainda vista, de forma não linear, no nosso site, no Sapo vídeos ou através dos operadores de televisão que transmitiram os conteúdos no canal 420, é difícil fechar números. Ainda esta semana, assim como nas próximas, teremos imensa gente a consumir os conteúdos não linearmente. São cerca de 100 vídeos correspondentes a mais de 50 horas de palestras e com acesso gratuito. Nesse sentido, foi um evento completamente inovador já que ninguém tinha feito um canal de televisão com esta programação. De qualquer forma, os primeiros indicadores apontam para a possibilidade de suplantar, pelo menos 10 vezes, a audiência que tivemos no ano passado.

 

Este evento coloca a fasquia muito elevada para o próximo ano…

O modelo é claramente vencedor e a fasquia está muito elevada, sim. Mas o digital ganhou uma importância tal neste período que o interesse é muito maior. Eu costumo dizer "Quem não está na internet é como se não existisse" e acho que agora toda a gente percebeu o que isto quer dizer; não há nenhuma empresa ou comerciante que possa dizer "vou fingir que a internet não é solução".

 

Fala do cenário durante a pandemia.

Sim. Em muitos casos, a internet foi, provavelmente, a única solução possível nesse período. E isso trouxe muito realismo à importância da presença online e de ter uma relação digital com os consumidores.

 

Isso ficou bem visível no Dia de Compras na Net?

Foi um grande sucesso este ano. Sempre foi muito bem-sucedido em anos anteriores, quando tínhamos 200 lojas online. Mas este ano tivemos praticamente 350 lojas, um aumento muito substancial que mostra também o acréscimo da oferta portuguesa e um aumento do interesse das lojas em se darem a conhecer aos consumidores.

Sendo que o Dia das Compras da Net é o único momento totalmente digital e que acontece dois meses antes do Natal, foi também um ensaio para os próximos tempos. Muitos portugueses perceberam que este ano não vai ser fácil fazer compras no mundo físico pelo que começaram já a comprar online.

 

Pelo décimo ano consecutivo apresentaram o Estudo da Economia Digital. Há surpresas?

Tivemos boas notícias. A pandemia e o confinamento tornaram evidente a necessidade de que as pessoas têm de saber usar a internet nas mais variadas coisas; seja na relação com os serviços públicos, mas também com as empresas. O estudo aponta para mais pessoas a usar internet e a nossa previsão aponta já que o ano termine com cerca de 81%. Pela primeira vez a infoexclusão estará abaixo dos 20%.

Depois, quem já usava passou a usar com mais frequência e também passou a fazer atividades mais complexas. Quem já fazia compras online aumentou a frequência e temos uma boa fatia da população a dizer que faz três a cinco compras por mês. Aumentou também o valor gasto ao longo do mês e ouve uma alteração do perfil de compra; embora se continue a comprar, tipicamente, na China, Reino Unido e Espanha, temos muito mais pessoas a dizer que compram agora em lojas portuguesas.

Pensar que continuamos a estar muito próximos dos 20% da população que nunca usou a internet é preocupante, já que não podemos deixar ninguém para trás. ALEXANDRE NILO DA FONSECA

Esta realidade veio para ficar?

Acho que veio para ficar, em patamares diferentes dependendo da dimensão das empresas. Há aqui um shift interessante entre os dois relatórios: nos primeiros anos, o foco da transformação digital era a otimização dos processos e a redução de custos; vemos agora a preocupação das empresas focada em conhecer melhor os clientes, conquistar novos mercados, etc.

 

Como compara a economia digital em Portugal com a Europa?

A Europa estava num patamar acima em alguns indicadores, mas agora nós estamos claramente mais próximos da média europeia; na penetração da internet estamos muito próximos da média, no número de compradores online também demos um salto importante de quase 10 pontos percentuais num ano. Eu diria que o grande desafio que temos é ainda o tema das competências digitais.

 

Um desafio difícil de ultrapassar?

Não será fácil… Ter competências digitais é cada vez mais determinante. No Portugal Digital Summit, este tema foi amplamente discutido pelo ministro com a pasta da Transição Digital e pelo próprio secretário de Estado: as competências digitais tanto dos cidadãos, como dos colaboradores das empresas como, já agora convém sublinhar, dos gestores das empresas. Há falta de competências digitais até mesmo nos gestores das empresas, em particular das pequenas, médias e microempresas.

Pensar que continuamos a estar muito próximos dos 20% da população que nunca usou a internet é preocupante, já que não podemos deixar ninguém para trás. As competências digitais tornaram-se ainda mais determinantes, não se podem desativar serviços físicos enquanto tivermos uma parte da população que não é digital.

 

Como vê a estratégia do Governo para os apoios comunitários no âmbito da construção do futuro digital?

O plano de resiliência dos fundos já reflete decisões importantes a tomar, como dar destaque e relevância ao tema da transição digital. Tem não só um capítulo específico sobre o tema, mas é também possível, analisando outras rubricas nas mais variadas áreas, encontrar o tema do digital vertido em tudo, desde a justiça à saúde, economia, etc.

O facto de termos hoje a segunda figura do Governo com o pelouro da Economia e da transição digital reforça ainda mais esta importância. A mais longo prazo ainda não sabemos o que esperar, mas uma coisa é certa: da parte da Comissão Europeia há uma grande prioridade para o tema do digital, competências digitais, transformação digital das empresas e do cidadão.

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