O Processo de Bolonha e a evolução tecnológica mudaram o meio académico e, por consequência, a oferta e a procura no mercado laboral. As regras do jogo são, hoje, outras. A duração das licenciaturas encurtou e começaram a surgir os mestrados integrados, de forma a compensar o tempo de um ou dois anos que foi reduzido ao formato anterior. As licenciaturas, por estes dias, são mesmo muitas vezes comparadas aos antigos bacharelatos. Seja como for, sejam ou não os mestrados integrados, é hoje comum os alunos optarem por ter este grau académico. No ISEG, os alunos fazem a licenciatura de três anos "e o normal é que, se não acontecer no ano seguinte, muito em breve continuam para mestrado", explica ao Negócios em Rede José Veríssimo, professor nas áreas de Gestão Estratégica e Marketing no ISEG.
Fazer uma pós-graduação ou um mestrado é importante "por ser um momento em que os alunos se vão focar mais nas matérias de que gostam", o que é mais complicado nas actuais licenciaturas, mais curtas. "E os mestrados e as pós-graduações fazem isso. Ou seja: a pessoa que fez uma licenciatura em Gestão se quer, de facto, dominar o marketing, o melhor que tem a fazer é um mestrado em Marketing", realça, o professor do ISEG.
Francisca Guedes de Oliveira, "associate dean" para os mestrados da Católica Porto Business School, explica que os mestrados da sua universidade visam "a preparação dos estudantes para a inserção no mercado de trabalho em empregos de qualidade". Já Ana Côrte-Real, "associate dean" para a formação de executivos da Católica Porto Business School, diz-nos que o objectivo das pós-graduações é "auxiliar a preparação dos executivos para os negócios e decisões de grande escala".
A concorrência dos mestres e pós-graduados
O objectivo das universidades e dos seus mestrados e pós-graduações é abrir portas em empresas e organizações. Todavia, nem sempre o conseguem. "Algumas empresas preferem pessoas que já tenham o mestrado para começar a trabalhar, mas não é sempre assim", avisa Cristina Martins de Barros, "managing director" do IIRH – Instituto de Informação em Recursos Humanos, acrescentando que hoje as experiências extra-universitárias "contam muito" e pode ser dada preferência a alguém com uma licenciatura em detrimento de uma pessoa com um mestrado se tiver outro tipo de competências. Cristina Martins de Barros alerta ainda que ter um mestrado não é uma garantia para se ter um salário mais elevado no trabalho.
Convém referir que o perfil dos alunos de mestrado e de pós-graduação é distinto. Procuram os mestrados os jovens que querem entrar no mercado de trabalho com mais competências. Pretendem fazer uma pós-graduação os profissionais um pouco mais velhos que muitas já vezes já estão a trabalhar, sobretudo no mundo empresarial, e querem melhorar as suas competências na área da gestão.
Os mais procurados
Existem sempre mestrados que têm mais procura. No ISEG, destaque para o de Finanças que, note-se, é dado em inglês. "Existem muitos alunos estrangeiros, é uma realidade mais internacional", explica José Veríssimo, ressalvando que há mais quatro mestrados em inglês na universidade. No mestrado em Finanças, existem "mais de duas candidaturas por cada lugar oferecido". "Há aqui alguma concorrência", conta. Além das Finanças, existem outros mestrados "grandes", diz o docente, como o de Recursos Humanos, que tem muitos alunos. "Estou a falar de 150 a 160 candidaturas, são turmas bastante grandes", sublinha, apontando ainda outros mestrados de sucesso do ISEG, como Marketing, Contabilidade, Fiscalidade e Finanças Empresariais e o de Ciências Empresariais.
Nas pós-graduações, destaque para a Análise Financeira, Marketing Management, Contabilidade e Fiscalidade. Há temas que são coincidentes nas pós-graduações e mestrados, mas são pessoas com perfis diferentes. As pós-graduações são em pós-laboral e os mestrados, a grande maioria, são diurnos.
O ISEG não se pode queixar de falta de alunos, pelo contrário. Isso mesmo sublinha José Veríssimo. "Temos 1.460 alunos a tirar mestrado. Recebemos, por ano, mais de 1.800 candidaturas aos nossos mestrados e só entram cerca de 800. Estamos a avaliar as candidaturas e estamos com um grande crescimento em relação ao ano passado", assegura. Em termos de executivos, que englobam pós-graduações e alguns cursos mais curtos, "há perto de 700 alunos".
Na Católica Porto Business School, a maior procura vai para o mestrado em Gestão e o mestrado em Finanças, esclarece Francisca Guedes de Oliveira. A escola conta ainda com 22 cursos executivos. Os cursos generalistas de Gestão, como o caso dos MBA, do Curso Geral de Gestão e do Programa Intensivo de Gestão são "alvo de maior procura", refere Ana Côrte-Real. Esta procura reflecte a necessidade de os profissionais sentirem que precisam de ter "competências de gestão". Esta tendência provoca, também, um "incremento dos ‘executive masters’ sectoriais, destacando a crescente procura na gestão na saúde". Em termos de formação especializada, "predomina a procura na área de capital humano e liderança, finanças, marketing e gestão de projectos".
Na generalidade, as pós-graduações ou os mestrados com mais oportunidades no mercado de trabalho em Portugal são todas as áreas ligadas às tecnologias, pois "têm mais saída". "Mas também as de matemática aplicada, as áreas de ciências são boas apostas de futuro", sublinha.
As novas tendências
As universidades estão a introduzir nos seus mestrados e pós-graduações novas tendências. "Nas pós-graduações e na escola como um todo, o foco está na área digital", recorda José Veríssimo. O professor do ISEG diz que na sua universidade há neste momento pós-graduações novas na área do marketing digital, cursos executivos na área de "social media" e na área da transformação digital para decisores. Estes são cursos "obrigatórios e com muita procura", afiança, destacando, de seguida, o facto de as pós-graduações da sua escola terem quase sempre parceiros na indústria e empresas.
José Veríssimo dá como exemplo o marketing digital, que "está associado à Google", tornando-se, assim, as pós-graduações muito práticas. E as próprias empresas que são parceiras participam na pós-graduação e trazem pessoas que conhecem o produto e os serviços como ninguém. "Essa proximidade é boa e esta área digital é importantíssima na perspectiva do consumidor."
Na perspectiva das empresas, continua, também já existem no ISEG pós-graduações novas em "data science business analysis". Ou seja: o que se fala hoje de "big data" e tudo o que é conhecimento que é "retirado dessas quantidades enormes de informação que são geradas todos os dias por não sei quantos aparelhos". O ISEG tem produtos inovadores e este é um deles, pois foi lançado este ano pela primeira vez. E é feito "em conjunto com a Microsoft, que tem algumas ferramentas nesta área". Por um lado, a Microsoft expõe o seu portefólio e os seus colaboradores interagem num meio mais académico. E o ISEG é parceiro e "cavalga uma onda" que é impossível não o fazer. "Portanto, estamos claramente actualizados. A área digital é incontornável."
Aposta na qualidade técnica e científica… e nas experiências
No que diz respeito às novas tendências dos mestrados da Católica Porto Business School, com uma aposta permanente na qualidade técnica e científica, estas centram-se em dois eixos principais: o da aproximação ao mercado de trabalho e às organizações e o do desenvolvimento efectivo de competências transversais e transferíveis aos nossos alunos, segundo Francisca Guedes de Oliveira.
No âmbito da formação executiva, a Católica Porto Business School está a inserir um conjunto de experiências que reflecte a maneira como vê o papel do gestor. Neste sentido, a par da formação das ‘hard skills’, insere nos programas "‘outdoors’ de vela, ‘workshops’ culinários, acções de responsabilidade social com pessoas carenciadas e excluídas" e não só. Este abandonar do formato tradicional das aulas, explica Ana Côrte-Real, é importante porque "o papel do gestor não se esgota nas fronteiras da empresa, tendo também uma dimensão social".
A internacionalização dos mestrados
As faculdades estão cada vez mais internacionais e ISEG e Católica Porto Business School são óptimos exemplos. 12% dos alunos do ISEG são estrangeiros, ou seja, são cerca de 600 alunos. No caso da Católica Porto Business School, no ano lectivo de 2015/2016 registou-se um crescimento de 38% no número de candidatos internacionais face ao ano anterior. Vantagens dos inúmeros protocolos que as universidades têm com estabelecimentos de ensino estrageiros.
7 programas de mestrado oferece a Católica Porto Business School. A saber: Business Economics; Gestão; Auditoria e Fiscalidade; Economia Social; Finanças; Gestão de Recursos Humanos; e Marketing. A escola conta ainda com 22 cursos executivos;
152 mestres formaram-se no último ano lectivo na Católica Porto Business School;
20 mestrados tem o ISEG. Pós-graduações são quase 30;
1.460 alunos estão a tirar mestrado no ISEG;
1.800 candidaturas recebe o ISEG, por ano, para os seus mestrados. Só entram cerca de 800 alunos.