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“O marketing está em profunda transformação”

No atual contexto de pandemia, a transformação foi mais rápida e visível. Em meses, evoluiu-se aquilo que em circunstâncias normais demoraria anos.

08 de Março de 2021 às 08:52
Nuno España, Marketing, Head of Lusíadas Dental & Outpatient Clinics Cluster Lisboa.
Nuno España, Marketing, Head of Lusíadas Dental & Outpatient Clinics Cluster Lisboa.
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Desde cedo quis ser médico, como a mãe, mas aos 15 anos, e após se deixar encantar por uma professora de Economia e pela forma apaixonada como falava, acreditou que apenas através da economia se podia mudar o mundo e contribuir para reduzir as assimetrias que existem entre as populações.

Acabou por seguir as pisadas do pai e entrar em Economia no ISEG. Nuno España conseguiu conciliar as duas paixões, ao trabalhar na economia em saúde, à exceção de quatro anos em consultoria estratégica na noLimits Consulting.

Trabalha há dois anos e meio na Lusíadas Saúde, onde começou por desempenhar funções nas áreas de sustentabilidade, marketing, comunicação e gestão do cliente. Em janeiro de 2021, transitou para a área da gestão hospitalar assumindo a função de Head of Lusíadas Dental & Outpatient Clinics Cluster Lisboa.

 

Porquê a opção profissional pelo marketing?

O meu background era desenvolvimento de negócio, planeamento estratégico e controlo de gestão. Desafiado pela administração da Lusíadas Saúde, acabei por ficar com o marketing e comunicação, provavelmente pela minha capacidade de estruturação, pela inovação que era preciso trazer à área e por associar o conhecimento de uma organização de saúde com a parte analítica, que é sempre necessária.

Foi uma aposta incerta e que hoje agradeço muito. Apesar de ter sempre sido uma área que me fascinou, era uma área que me deixava fora da minha zona de conforto. Hoje, considero que foi uma aposta ganha – fiz crescer e cresci muito enquanto profissional e enquanto pessoa.

 

Que mudanças verificadas no marketing nos últimos anos merecem destaque?

O marketing tem sido uma das áreas das organizações que mais têm evoluído ao longo dos tempos. Se quando comecei a trabalhar, o marketing era apenas responsável por fazer cartazes e folhetos para suportar a área comercial, hoje é uma das áreas "core" de qualquer organização, com uma forte componente estratégica e, como tal, indispensável para o seu sucesso.

O marketing tem a responsabilidade de ligar as marcas às pessoas, pondo-as lado a lado, relacionando-as e fazendo-as crescer em conjunto. Deixou de se focar no produto, para definitivamente se focar no cliente; deixou de ser algo institucional, colocando os seus colaboradores como atores principais.

Hoje, sabe-se que o cliente já não quer saber apenas de marcas e campanhas, mas sim de rostos, nomes, vozes e sentimentos. Tem de se criar uma relação, um sentimento. Caso contrário não há fidelização, o santo graal que todos procuramos. Trabalhando todos em conjunto e com uma visão holística das organizações, esta é atualmente a revolução que estamos a viver no marketing.

 

Quais os principais desafios que o marketing enfrenta?

O marketing está em profunda transformação. No atual contexto de pandemia, a transformação foi ainda mais rápida e visível. Evoluímos em meses aquilo que, em circunstâncias normais, demoraríamos anos.

Alinhar prioridades estratégicas da organização e tendências de mercado, apostar na transformação digital, acompanhar o crescimento da componente analítica (CRM), privilegiar a utilização dos inúmeros canais de comunicação adequados a cada perfil de consumo, atrair os melhores recursos para novas áreas de enfoque e garantir a verdadeira criação de valor e a sua respetiva monitorização são alguns dos desafios que o marketing enfrenta.

 

Quais as tendências que irão marcar o futuro?

O futuro é especialmente incerto, mas acredito que o facto de o consumo ser cada vez mais emocional irá obrigar-nos a atuar de forma diferente e mais assertiva junto das diversas áreas envolvidas.

O genuíno foco no cliente, a aposta no digital de forma sustentável e interligada com o físico, a introdução da inteligência artificial como forma de servir mais e melhor, o reforço em canais de comunicação como o vídeo, a aposta numa comunicação verdadeira, transparente e objetiva, a aposta na sustentabilidade e a aproximação das equipas de gestão dos clientes são algumas das tendências que irão marcar o nosso futuro.

 

Quais as características de um bom marketeer?

Diria que a proatividade, a resiliência, o trabalho em equipa e alguma fé são características que qualquer marketeer deve ter. Adicionalmente, parece-me também importante ter um conhecimento constante do mercado e dos concorrentes, estar atento às nossas tendências e aos novos canais de comunicação, ter uma boa capacidade analítica para identificar formas de maximizar a relação com o cliente e, por último, uma boa dose de criatividade.

 

Qual a campanha que mais prazer lhe deu fazer?
Provavelmente a nossa campanha "Prontos para cuidar em Segurança. É bom estar em boas mãos", que lançámos após o fim do primeiro confinamento em maio de 2020. Precisávamos de comunicar aos nossos clientes que estávamos em condições de os receber, apesar de os hospitais serem dos sítios que as pessoas tinham mais receio de ir.

Tínhamos de passar uma mensagem verdadeira em relação à realidade, mostrar que os hospitais eram locais seguros e que estávamos disponíveis para continuar a cuidar e servir, porque a saúde não era apenas a covid-19 e não poderia ficar para trás.

 

Qual a campanha de que mais gostou – não sua –, nacional ou internacional?

Gosto de imensas campanhas. Não existe um dia que não veja uma campanha que me surpreenda. Dito isto, gostaria de realçar as marcas que o fazem de forma consistente e que conseguem surpreender por diversos motivos.

A título de exemplo, gosto muito da Dove, porque contraria de forma clara e inesperada os estereótipos da beleza perfeita, usando pessoas de todas as formas e feitios para as suas campanhas e conseguindo, de forma clara, aumentar a autoestima das pessoas. Também gosto muito da Control, pela criatividade constante, pela forma como adapta a sua realidade aos acontecimentos quotidianos e o faz em tempo recorde, sem cair na ordinarice.

 

Qual o conselho para quem começa a trabalhar nesta área?

É muito importante ter uma perceção clara e constante das efetivas necessidades da organização, dos colaboradores e clientes.

"O marketing tem a responsabilidade de ligar as marcas às pessoas, pondo-as lado a lado, relacionando-as e fazendo-as crescer em conjunto." Nuno España, Head of Lusíadas Dental & Outpatient Clinics Cluster Lisboa.

Um livro?

Um livro?

“A sombra do vento”, de Carlos Ruiz Zafón.

Um podcast?

Um podcast?

Os imperdíveis, de Laurinda Alves.

Um destino de férias?

Um destino de férias?

Açores.

Hobbies?

Hobbies?

Tudo o que envolva desporto.

Um gadget indispensável?

Um gadget indispensável?

Telemóvel.

Uma música para trabalhar?

Uma música para trabalhar?

A banda sonora do filme “A Lenda de 1900", de Ennio Morricone.

Uma música para relaxar?

Uma música para relaxar?

Memórias”, de Marta Pereira da Costa.

Uma frase que o orienta?

Uma frase que o orienta?

“Trabalha como se tudo dependesse de ti e confia como se tudo dependesse de Deus”, de Santo Inácio de Loyola.

Alguém que o inspira?

Alguém que o inspira?

Muita gente me inspira todos os dias e isso fascina-me.

O que ainda lhe falta fazer?

O que ainda lhe falta fazer?

Há todo um mundo para conhecer e experimentar. No dia em que morrer, a minha preocupação vai ser garantir que “vivi e dei à vida o melhor que tinha”.


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