Antes de concluir o 5.º ano da universidade, foi no setor das telecomunicações, na Jazztel, que estagiou alguns meses na área de marketing. Após a conclusão do curso, começou o percurso profissional na área dos FMCG, como gestor de produto na Panrico, empresa que trabalhava as marcas Panrico, Donuts, Bollycao, entre outras.
Depois de seis anos de grande desenvolvimento profissional e pessoal, decidiu experimentar o B2B e aceitou o convite para integrar o Departamento de Marketing das Tintas Dyrup, atualmente do Grupo PPG, como senior product manager. Aqui esteve nove anos, os últimos três como marketing director Ibéria.
O passo seguinte de Pedro de Goulart Mendes surgiu em 2016, com o convite do Grupo Secil para assumir a direção de Marketing e Comunicação com o desafio de criar e desenvolver o Departamento de Marketing do grupo em Portugal, projeto que se tem revelado extremamente desafiante e enriquecedor.
Porquê a opção profissional pelo marketing?
Trabalhar em marketing permite-me tocar simultaneamente três áreas que adoro: analítica, psicológica e criativa. Analítica para identificar a fundo quais as performances e tendências de vendas, de mercado, de preços, etc.; a psicológica é essencial para compreendermos os comportamentos dos clientes e consumidores e identificar oportunidades; e a criativa no desenvolvimento de conceitos criativos diferenciadores e impactantes para poder comunicar da melhor forma possível o produto ou serviço que estamos a disponibilizar.
Um marketing bem feito tem o poder de transformar positivamente a vida das pessoas e da forma como vivemos e isso é incrivelmente fascinante.
Que mudanças verificadas no marketing nos últimos anos merecem destaque?
O marketing é um reflexo do mundo que nos rodeia, pelo que os grandes desafios que tem enfrentado passam pela capacidade de antecipação e compreensão das mudanças que temos assistido no mundo a quase todos os níveis, nos últimos anos. As alterações dos hábitos e comportamentos dos vários tipos de consumidor, em relação à forma como se inter-relacionam entre si e à forma como recebem informação sobre determinados produtos e serviços, são um claro exemplo disso.
Neste âmbito, a evolução das redes sociais veio trazer uma forte disrupção em relação à forma como os targets mais jovens tomam conhecimento de novidades, fazendo com que fenómenos como influencers (e micro-influencers) se tenham tornado um meio muitas vezes mais poderoso que a TV, pela credibilidade que confere ao produto ou serviço e pela capacidade de segmentação e personalização da mensagem.
Quais os principais desafios que o marketing enfrenta?
Atualmente, os principais desafios na área de marketing passam pela capacidade de acompanhar as disrupções sociais e tecnológicas que estão a acontecer a uma velocidade estonteante e pela capacidade de digerir a infindável quantidade de informação que é gerada pelas estratégias de inbound marketing.
Por um lado, é essencial dedicarmos tempo e recursos a acompanhar e compreender, em tempo real, o mercado, os consumidores e as tecnologias que podem influenciar as bases em que o nosso negócio está sustentado. Casos como Airbnb, Uber ou Alibaba são cada vez mais comuns e exemplos de disrupção completa do que se pensava ser imutável.
Por outro lado, para lidar com a grande quantidade de informação gerada, um dos caminhos poderá ser utilizar a tecnologia baseada em inteligência artificial para chegar rapidamente a conclusões e ações, com base em pressupostos definidos inicialmente.
Quais as tendências que irão marcar o futuro?
Acredito que as tendências que irão marcar o futuro estarão relacionadas com avanços tecnológicos e consequentemente com a alteração de hábitos e comportamentos dos consumidores.
A consolidação das tecnologias de IA e machine learning irão ajudar, cada vez mais, a compreender de forma mais rápida o comportamento do cliente/consumidor e a personalizar os produtos e serviços. Os clientes B2B irão cada vez mais adotar comportamentos de compra anteriormente atribuídos ao B2C.
A privacidade continuará a ser um tema central e a tecnologia blockchain poderá ter um papel fundamental na garantia da proteção dos dados pessoais e na simplificação de processos.
A realidade virtual, assim como a utilização da voz como comando e interação com as marcas, deverá ser uma ferramenta a entrar naturalmente no dia a dia de todos nós. Por último, a sustentabilidade será cada vez mais um elemento central nas nossas vidas e nas nossas decisões de consumo.
Quais as características de um bom marketeer?
Para mim, um bom marketeer tem de ser um eterno curioso, para poder estar sempre atento às tendências que possam mudar o negócio em que trabalhamos e até o mundo em que vivemos. Além disso, como tinha referido atrás, penso que terá de ter uma forte combinação de componentes analíticas, psicológicas e criativas.
Qual a campanha que mais prazer lhe deu fazer?
Não falando em campanhas da empresa onde trabalho atualmente, posso destacar a campanha de lançamento da Tinta 003, na Dyrup. Foi um lançamento que resultou de um profundo estudo do consumidor, com o objetivo de entender qual o produto ideal em termos de características (top 3) e posicionamento de preço, produto esse que foi desenvolvido com o R&D, para que cumprisse todos estes requisitos.
Adicionalmente, criámos um conceito de comunicação que focasse estas três características a comunicar, mas que pudesse também gerar um sentimento de poder e superação a quem o iria utilizar, o pintor. Assim, desenvolvemos o conceito 003, inspirado no universo do 007, em que o herói da campanha era o pintor, com "Licença para Pintar". Esta campanha foi ativada de forma transversal via TV, digital, imprensa e ponto de venda.
Foi uma campanha que me deu muito prazer desenvolver, pela equipa fantástica envolvida, pela liberdade criativa que tivemos e pelo estrondoso impacto que teve no mercado, quer em termos de marca, quer em termos de vendas.
Qual a campanha de que mais gostou, não sua, nacional ou internacional?
A genial campanha da Budweiser "Wassup" de 1999. Teve o poder de aumentar consideravelmente o valor da marca, assim como de se tornar viral em todo o mundo, numa altura em que as redes sociais ainda não existiam.
Qual o conselho para quem começa a trabalhar nesta área?
Sejam curiosos, saibam ouvir o que dizem os vossos mentores, os consumidores, os clientes, não deixando que as vossas próprias convicções se sobreponham às indicações que vêm do mercado. Não deixem de questionar a forma como as coisas "sempre foram feitas" nas empresas, pois só assim poderão contribuir para a sua evolução. As novas gerações são, sem dúvida, a base para o crescimento das empresas.
Um livro?
“Elon Musk”, de Ashlee Vance. Interessante biografia que ajuda a conhecer a forma como pensa esta figura incontornável dos nossos tempos.
Um podcast?
Um destino de férias?
Nesta fase, gostaria de ajudar a promover o turismo nacional. Portugal tem atrações paradisíacas. Pessoalmente, gosto de explorar a magia da Costa Vicentina.
Hobbies?
Desporto, desde bodyboard ao futebol.
Um gadget indispensável?
A atual extensão do nosso corpo… o telemóvel :)
Uma música para trabalhar?
“La revancha del tango”, Gotan Project.
Uma música para relaxar?
Uma frase que o orienta?
“When you talk, you are only repeating what you already know. But if you listen, you may learn something new.”
Alguém que o inspira?
Atualmente, Bill Gates.
O que ainda lhe falta fazer?
Ter a experiência da paternidade.