Iniciou a carreira na Unilever, onde esteve 14 anos. Trabalhou em 12 países pela Europa, Ásia e América, em funções de marketing, vendas e estratégia. No início do ano passado, Luís Leite Rio regressou a Portugal e entrou na Essilor, empresa líder mundial de lentes oftálmicas, como marketing director Ibéria.
Porquê a opção profissional pelo marketing?
O marketing é normalmente o "coração" das empresas, está no centro das decisões estratégicas mais importantes e marca o ritmo do negócio. Os desafios nesta profissão são constantes, o que nos obriga a reinventarmo-nos diariamente para definirmos com sucesso o longo prazo enquanto executamos eximiamente o plano no curto-médio prazo.
Que mudanças verificadas no marketing nos últimos anos merecem destaque?
No mundo digital em que vivemos, as ferramentas de marketing e comunicação passaram a estar disponíveis para todos. Com um produto de qualidade e um bom conhecimento do seu consumidor-alvo, mesmo empresas com orçamentos de marketing baixos podem preparar planos de marketing disruptivos e de grande impacto.
Quais os principais desafios que o marketing enfrenta?
Destaco um desafio, a criação contínua de valor para o consumidor e, assim, para o negócio. Só desta forma é possível um crescimento sustentado dos negócios. A tentação de corte nas despesas de marketing e comunicação é infelizmente recorrente, mas os seus benefícios são de curto prazo. Compete aos marketeers criar confiança nos seus planos e defender o impacto que vão ter nos resultados da empresa.
Quais as tendências que vão marcar o futuro?
Destaco três tendências importantes. A primeira é "marcas com propósito", os consumidores esperam mais das marcas do que simplesmente a função primária para a qual estão destinadas, esperam um ponto de vista ativo sobre o mundo ou uma causa, e isso vai cada vez mais influenciar a decisão de compra.
A segunda é a "omnicanalidade", os consumidores são impactados por diversos meios de comunicação e utilizam-nos cada vez mais de uma forma complementar, por isso as marcas devem definir claramente a sua estratégia de presença nos vários canais de comunicação para que a experiência do consumidor seja o mais homogénea e confortável possível durante todo o processo de compra.
Por último, os "serviços vs. produtos". Os consumidores procuram cada vez menos produtos e sim serviços que satisfaçam de uma forma completa as suas necessidades. Assim, compete às marcas desconstruir os seus modelos de negócio e valorizarem os seus produtos através de uma oferta agregada de serviços.
Quais as características de um bom marketeer?
Muita curiosidade, muitas perguntas, uma boa dose de humildade e uma pitada de inspiração, combinadas com um bom conhecimento da sua marca e do consumidor.
Qual a campanha que mais prazer lhe deu fazer?
Não consigo destacar uma campanha, pois cada uma teve o seu contexto, equipa de trabalho e objetivo, o que a tornou na sua forma especial. Destaco uma campanha que estamos agora a trabalhar na Essilor, a campanha superfamílias, uma campanha B2B e B2C dedicada às famílias portuguesas e aos cuidados da sua saúde visual dentro do contexto económico e social em que vivemos atualmente.
Qual a campanha de que mais gostou, não sua, nacional ou internacional?
Mais do que campanhas, acompanho algumas marcas que têm sido pioneiras nas suas criações de um propósito forte, que está enraizado em toda a sua estratégia e decisões – destaco a marca Dove e a marca Patagonia. Os consumidores esperam das marcas mais do que uma relação comercial, identificam-se e aproximam-se das marcas que de uma forma ativa defendem e evocam os seus valores.
Qual o conselho para quem começa a trabalhar nesta área?
Conhecer bem a proposta de valor da marca onde trabalha, conhecer bem o seu consumidor-alvo e procurar constantemente aprender e inspirar-se em outros mercados e marcas – esta é uma área em permanente evolução.Um livro?
“A Lua Pode Esperar”, de Gonçalo Cadilhe, que li pela primeira vez há mais de 10 anos, traçou muitas das aventuras que se seguiram na minha vida.
Um podcast?
Estou a acompanhar o “Renegades: Born in the USA” com Barack Obama e Bruce Springsteen.
Um destino de férias?
Sem dúvida, África, pela sua simplicidade, paisagens, aventura e porque me limpa a alma e me inspira – já conheci alguns países, mas ainda existe muito por explorar.
Hobbies?
Tenho três filhos pequenos, com 5, 3 e 1 ano, por isso, muito do meu tempo livre é dedicado a eles. Mas tento fazer jogging três a quatro vezes por semana e ler um pouco no final de cada dia. Sou alentejano e sempre que possível, no fim de semana, volto às minhas “origens”.
Um gadget indispensável?
Durante estes últimos meses a trabalhar em casa, com três crianças sem escola, confesso que ter comprado uns Airpods Pro foi um excelente investimento.
Uma música para trabalhar?
Normalmente quando preciso de me concentrar escolho alguma playlist de piano.
Uma música para relaxar?
Mr. Bojangles, a versão do Robbie Williams.
Uma frase que o orienta?
As pessoas que são loucas o suficiente para acharem que conseguem mudar o mundo são aquelas que são capazes de o mudar.
Alguém que o inspira?
Todos aqueles que pela sua visão e dedicação conseguem realmente ter impacto e ajudar a criar um futuro melhor: Bill Gates (todo o seu trabalho filantrópico – aconselho o documentário na Netflix); Papa Francisco; Barack Obama; Paul Polman.
O que ainda lhe falta fazer?
Muito mesmo… fundamentalmente fazer muito mais e melhor para no meu dia a dia conseguir deixar o meu marco na construção de um futuro melhor para as gerações que se seguem.