Começou a trabalhar aos 22 anos na empresa em que desejava, a Nestlé. Foram sete anos repletos de experiências. Trabalhou em dezenas de campanhas, lançou negócios, geriu equipas e, sobretudo, aprendeu.
Aos 30, provavelmente com o receio de um futuro arrependimento por não ter tentado, mudou radicalmente de vida. Abraçou um projeto familiar na área dos vinhos ao mesmo tempo que tirou a segunda licenciatura, desta vez em Economia.
Atualmente Tiago Mendes Pinto é diretor de Marketing & Comunicação no Grupo Apolónia Supermercados.
Porquê a opção profissional pelo marketing?
Por permitir conciliar todos os princípios de gestão, finanças e psicologia com uma vertente de criatividade. Por permitir sonhar sem limites e, dessa forma, poder mudar o mundo. Por ter a possibilidade de dar cor e melhorar a vida de todos. Por permitir um dia diferente e desafiante todos os dias.
Que mudanças verificadas no marketing nos últimos tempos merecem destaque?
Assistimos a uma evolução sem precedentes. Em três anos, as mudanças foram semelhantes às ocorridas nos 30 anteriores. O digital, o e-commerce, as redes sociais – uma série quase ilimitada de novos meios e formas de comunicar em que de facto o consumidor é a estrela principal (pesquisa, compra e opina).
O estarmos ligados 24/7 a um ritmo frenético com fluxos de informação e de dados que fluem de forma quase esquizofrénica. O aparecimento de novos negócios absolutamente disruptivos e o verdadeiro conceito de globalização. Pensamos e agimos de forma diferente.
Quais os principais desafios que o marketing enfrenta?
A enorme quantidade de informação disponível, como a trabalhar e organizar de forma relevante, sabendo que amanhã o que era uma certeza já desapareceu.
Ser relevante, sem se tornar banal. Não ceder ao facilitismo dos "likes" (mal de que muitas marcas padecem: FOML – fear of missing likes), não sucumbir ao mau gosto e nunca deixar de tentar educar.
Ter consciência plena da relevância (ou falta dela), dos nossos atos face aos desejos e necessidades dos consumidores. Por alguém ter clicado num determinado banner, não significa que deseje ser "atacado" por mensagens, mails ou chamadas telefónicas.
Quais as tendências que irão marcar o futuro?
Com o 5G, a inteligência artificial, a computação quântica e a rapidez alucinante das novas tecnologias, diria que o cenário presente no filme "Relatório Minoritário" não estará muito longe da realidade. Será fundamental conseguir legislar e regular a desinformação presente no meio digital, ao mesmo tempo que se enquadram todos os princípios relativos ao RGPD.
Quero também acreditar que entraremos na maturidade de conceitos, propósitos e verdadeira relevância dos ditos "influencers" – palavra que não gosto – ou "opinion makers". E iremos aprender que o menos (aparente) será mais.
Agora estamos inebriados por saber tudo de todos, queremos fazer tudo e queremos estar em todos os locais. As marcas perceberão que, para perdurar, terão de ser seletivas. Ter informação permite exatamente a seleção. E no meio de tudo isto, perceber que papel terá o ser humano vs. máquina.
Quais as características de um bom marketeer?
A curiosidade tem de ser permanente e constante. Querer e gostar de aprender de forma continuada; saber ouvir; ter capacidade de questionar; saber distinguir o essencial do supérfluo e, mais do que nunca, foco.
Qual a campanha que mais prazer lhe deu fazer?
O reposicionamento da marca Sical, que coincidiu com rebranding total da marca: packaging, claim, novos produtos e, sobretudo, pelo lançamento de uma enorme inovação: embalagens de café reclosable (até à data tínhamos de colocar uma mola ou transferir o café para um frasco).
Qual a campanha de que mais gostou, não sua, nacional ou internacional?
O lançamento do Macintosh da Apple em 1984. Uma obra de arte. Anúncio realizado pelo genial Ridley Scott, analogia perfeita entre a obra-prima de George Orwell (1984), com o monopólio que existia na década de 80 no mundo dos computadores, o desafio ao cinzentismo do statu quo, a simetria de o lançamento ser efetuado em 1984, e, por ao fim de 36 anos, estar mais atual do que nunca. Simplesmente genial.
Qual o conselho para quem começa a trabalhar nesta área?
Ter a plena noção de que a licenciatura é apenas o início. Estar preparado para estudar e aprender todos os dias e de forma permanente. Evitar a soberba do termo "especialista". Ter confiança, mas manter sempre a humildade. Promover a empatia como componente fundamental do caráter. Gostar de viver e pensar sempre de forma positiva. Não se trata de ver o copo meio cheio ou vazio – O copo existe!
Um livro?
“Angústia para o Jantar”, de Luís de Sttau Monteiro.
Um podcast?
TSF – Tubo de Ensaio (Bruno Nogueira e João Quadros)
Um destino de férias?
Qualquer país do Sudeste Asiático, mas a escolher apenas um: Vietname, com mínimo de 5 dias em Hanói.
Hobbies?
Viajar e, de forma permanente, preparar a próxima viagem.
Um gadget indispensável?
Telemóvel.
Uma música para trabalhar?
Pat Metheny: Are you going with me.
Uma música para relaxar?
Duett, álbum Cycles.
Uma frase que o orienta?
“You can´t connect the dots looking forward; you can only connect them looking backwards. So you have to trust that the dots will somehow connect in your future” - Steve Jobs.
Alguém que o inspira?
A minha avó Maria!
O que ainda lhe falta fazer?
Tudo. Mas sobretudo, a simplicidade de conseguir ser feliz.