Ainda estava a tirar a licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura e já trabalhava numa editora de publicações. Durante oito anos esteve ligada ao mundo editorial, mas apercebeu-se de que a sua essência estava mais direcionada para o marketing. Escrever textos não era suficiente. Gostava de idealizar o produto que estava a desenvolver, quem iria gostar dele (target), tendo inclusive feito algumas formações na área do design gráfico para conseguir fazer o "desenho" das ideias no seu todo.
Em 2005, surgiu a oportunidade de desenvolver uma direção de Comunicação e Marketing para a filial portuguesa de uma multinacional francesa e dado que teria apoio do grupo a nível internacional, aceitou o desafio. Foi nessa altura que teve a certeza de que o marketing e o mundo corporativo eram as suas "praias", pelo que optou por fazer uma pós-graduação na área de marketing.
Quando a internet se consolida como veículo de comunicação em massa, principalmente após a fase da World Wide Web, e a globalização da informação atinge um nível sem precedentes históricos, aceita o convite em 2011 de liderar remotamente a direção de Marketing de uma empresa de tecnologia em Nova Iorque.
Foi um dos maiores desafios da carreira de Carla Liñan, tendo sido a grande escola internacional, dado que trabalhou o mercado norte-americano, onde teve a oportunidade de desenvolver conhecimentos de marketing digital bem como de digital workplace.
Em 2017, e com uma bagagem profissional na área do marketing digital mais consolidada, ingressa na Claranet Portugal para também desenvolver a direção de Marketing nacional.
Porquê a opção profissional pelo marketing?
Senti a necessidade de juntar a minha área de formação inicial, comunicação, com aquela que senti ser da minha essência enquanto profissional, marketing.
Juntas permitem ter o melhor dos dois mundos que só por si já estão interligados: por um lado, o desenvolvimento de estratégia realiza-se com aplicação de uma forte componente analítica, aliada a uma clara visão de (futuro) de negócio; por outro lado, a implementação daquela estratégia obriga ao exercício de criatividade, não só na criação de comunicação como na ativação de recursos e coordenação de equipas.
Que mudanças verificadas no marketing, nos últimos anos, merecem destaque?
A transformação digital foi para mim a maior mudança no marketing. Os últimos 20 anos foram marcados pelas últimas três grandes revoluções do marketing, do 2.0 ao 4.0, em que o mundo presenciou mudanças avassaladoras sobretudo na tecnologia, no comportamento do consumidor e na evolução do papel que a primeira exerce na relação das marcas com o segundo.
Poucas empresas estão preparadas para estas mudanças, embora exista um grande esforço para a implementação de tecnologias como inteligência artificial, IoT e big data para controlo e gestão de processos.
Quais os principais desafios que o marketing enfrenta?
O grande desafio do marketing, na segunda década do séc. XXI, é humanizar a relação com o consumidor em ambientes 100% digitais.
Hoje, o consumidor, antes de comprar, pesquisa, compara, expõe a sua satisfação e/ou as suas queixas publicamente, utilizando diversos canais, várias vezes por dia, de maneira ágil e espontânea.
As novas tecnologias e os novos comportamentos dos consumidores ? que já vivenciam uma transformação digital no seu quotidiano ? requerem uma nova abordagem do marketing.
É impreterível que deixemos de ver o consumidor como um alvo ou mero comprador, estamos a comunicar para seres humanos.
As empresas devem seguir focadas nas pessoas e assumir uma personalidade para a sua marca. A tecnologia assume um papel central nas transformações e o ser humano precisa de ser entendido nesse contexto.
Quais as tendências que irão marcar o futuro?
A criação de marcas fortes que sejam reconhecidas e valorizadas pelas pessoas. A tendência é cada vez mais entregar mais valor para o público consumidor, mas também gerar impacto positivo para o mundo à nossa volta.
Todo o marketing passa a ser, necessariamente, social.
Quais as características de um bom marketeer?
Foco em resultados, habilidades analíticas e gestão de tempo.
O marketing digital trouxe a possibilidade de analisarmos cada campanha minuciosamente: entender o que deu certo e o que não deu, mudar a estratégia e obter melhores resultados.
Ao mesmo tempo tornou-se mais pessoal, individual e segmentado. O público-alvo tornou-se uma persona e um bom marketeer deve entender cada uma das etapas do percurso do cliente.
Qual a campanha que mais prazer lhe deu fazer?
Uma campanha que – dada a pandemia – permitiu às organizações a adoção de ferramentas de colaboração digital em segurança e com escalabilidade, para que os colaboradores pudessem ter uma melhor experiência de trabalho remoto e redução das dificuldades diárias de gestão de equipas e trabalho.
Qual a campanha – não sua – de que mais gostou, nacional ou internacional?
Internacionalmente, destaco a campanha do Volvo XC60. A nível nacional, e dadas as circunstâncias atuais da pandemia, o anúncio de Natal da Bertrand Livreiros é sem dúvida uma mensagem bastante profunda e relacional.
As minhas preferências de campanhas vão sempre estar associadas à relação/emoção que sinto com a mensagem das mesmas.
Que conselho deixa para quem começa a trabalhar nesta área?
Todos os dias surgem novos serviços/produtos, plataformas, sem contar com as atualizações das ferramentas existentes, pelo que criatividade, curiosidade, gosto por aprender e paixão são fatores essenciais para quem inicia a sua atividade na área de marketing.
Um livro?
“Cem anos de solidão”, de Gabriel García Marquez.
Um podcast?
Um destino de férias?
Qualquer um em família, com sol e praia.
Hobbies?
Ler, passear à beira-mar.
Um gadget indispensável?
Smartphone.
Uma música para trabalhar?
Por norma prefiro ouvir podcasts.
Uma música para relaxar?
Black Bird, Fat Freddy’s Drop.
Uma frase que o orienta?
Para tudo há solução, menos para a morte.
Alguém que o inspira?
A sufragista Beatriz Ângelo.
O que ainda lhe falta fazer?
Escrever um livro sobre tudo aquilo que já fiz e que gostaria de fazer.