Começou a trabalhar muito cedo na área da climatização, primeiro numa empresa familiar e depois numa empresa do universo Sonae Indústria. Era uma área interessante, mas preferiu estudar mais e alargar horizontes. Deixou o emprego e estudou Gestão Turística e Hoteleira, trabalhava em part-time aos fins de semana para pagar o curso.
O que mais fascinou André Teodoro neste período foi o marketing, o planeamento e a área de eventos relacionados com ativação de marca. O primeiro emprego após a licenciatura foi trabalhar numa das escolas do grupo Lusófona como docente de Planeamento e Desenvolvimento de Turismo. Acabou por ficar na formação vários anos, embora acumulando com outras atividades, principalmente na coordenação de eventos.
Nos últimos anos, destaca a experiência como responsável da divisão de catering e eventos de uma empresa do grupo Areias do Seixo e a presente, como parte da equipa da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, tendo sido convidado para arrancar com o projeto de planeamento da Rota dos Vinhos de Lisboa e mais tarde para o marketing.
Este percurso heterogéneo permitiu ter um pensamento bastante alargado, o que ajuda na resolução dos desafios que surgem no dia a dia.
Porquê a opção profissional pelo marketing?
Na vida, existem escolhas e na sequência dessas escolhas vamos traçando o nosso caminho e foi o que aconteceu. Contudo, reconheço que o trilho percorrido e os objetivos profissionais já concretizados se encaixam cada vez mais nas minhas competências.
A necessidade de encontrarmos formas criativas de unir a oferta à procura, aliada à incerteza das apostas que muitas vezes somos obrigados a fazer, provoca uma adrenalina difícil de igualar profissionalmente.
Importa dizer que a operacionalização do marketing ao nível das regiões de vinho é uma tarefa, quase sempre, partilhada com muitos parceiros, o que eleva o processo de tomada de decisão a outro nível de complexidade e obriga a um jogo de cintura bastante estimulante e quase diário.
Que mudanças verificadas no marketing nos últimos tempos merecem destaque?
No global, acredito que o surgimento da internet, mas principalmente a democratização do acesso à mesma, gerou a maior mudança no modo como abordamos o comportamento do consumidor desde a revolução industrial. É um processo que já vimos como começou, mas que na verdade ainda ninguém sabe como terminará.
Mas se falarmos de mudanças no marketing a nível nacional nos últimos 12 meses, é impossível não referir o trabalho hercúleo desenvolvido no âmbito da conversão digital, principalmente ao nível das PME. O tecido empresarial foi forçado a mudar radicalmente a forma como olhava o negócio, em setores nos quais, até então, a presença no online era quase um capricho.
Quais os principais desafios que o marketing enfrenta?
As mudanças comportamentais originadas por fluxos de informação intensos, mas muitas vezes efémeros, obrigam-nos a saber dar uma resposta rápida, criativa e simultaneamente objetiva. Se por um lado assistimos a um consumidor cada vez mais interessado que procura estar informado, por outro, a informação disponibilizada pelas campanhas é tanta que gera ruído e dispersão.
Na sua essência, o objetivo do marketing não tem mudado, continua a ter como missão criar ligações entre o campo da oferta e o campo da procura. Porém, com o surgimento do online e em particular das redes sociais, as conexões têm vindo a tornar-se mais complexas e intricadas.
Olhando a estes elementos, acredito que se destacarão cada vez mais as marcas que, além de criar valor, conseguirem comunicar de forma efetiva esse valor perante o seu target.
Quais as tendências que irão marcar o futuro?
A nível técnico, o desenvolvimento e a proliferação da inteligência artificial, a influência cada vez maior da realidade aumentada e da realidade virtual nos processos de tomada de decisão e posteriormente de compra.
Do lado do consumidor, a banalização da compra online irá (está a) torná-lo muito mais exigente quanto à experiência vivida durante todo o processo, desde a recolha de informação até à compra.
Na dimensão do B2B, por exemplo, em setores como o do vinho, a negociação em ambientes 100% online irá exigir o desenvolvimento de mais e melhor tecnologia de suporte.
Nos últimos meses, assistimos à disseminação de uma panóplia de soluções de negociação online e/ou híbridas que ainda estão muito longe de satisfazer as necessidades do momento. Persiste a dificuldade em acreditar que uma boa feira profissional poderá ser substituída por uma sessão de reuniões 100% online.
A humanização da experiência e a simulação sensorial são elementos ainda muito difíceis de substituir, mas, em algumas áreas de negócio, fundamentais para o processo negocial.
Quais as características de um bom marketeer?
Capacidade de entender o mundo que o rodeia e como essa envolvente interfere na visão, missão e objetivos da sua organização; criatividade, a intemporal característica do profissional de marketing que capacita o mesmo da aptidão de conceber boas ideias e ótimas soluções, para cada momento e em cada situação.
Costumo dizer que a única coisa que não pode ser copiada a um marketeer é a sua capacidade de voltar a criar as melhores soluções para os desafios que se apresentam pela frente.
Capacidade de execução, porque as boas ideias só serão realmente boas se forem concretizáveis, e cultivar o dom da ponderação em perfeita harmonia com a insanidade necessária para assumir riscos e avançar. Não é fácil, mas é essencial.
Postura honesta e com elevado sentido cívico, talvez pelos valores que me foram incutidos, não acredito ser possível dispensar estes dois elementos, nem agora nem no futuro.
Qual a campanha que mais prazer lhe deu fazer?
A última campanha será sempre a que me dará mais gozo fazer. É um chavão, mas é a realidade. Porém, talvez por uma questão de princípios e valores, a campanha que mais me marcou foi a que promoveu a Torres Vedras-Alenquer| Cidade Europeia do Vinho 2018.
O grosso da comunicação foi desenvolvido por excelentes profissionais de ambos os municípios, e os Vinhos de Lisboa foram um parceiro singelo, mas sempre presente.
Poder dar o meu contributo para o desenvolvimento de um projeto intermunicipal, participar na implementação da máxima "unidos pelo bem comum" e contribuir na promoção territorial deu-me uma satisfação tremenda.
Qual a campanha de que mais gostou, não sua, nacional ou internacional?
Como a maior parte dos consumidores, fico sensibilizado pelas campanhas que utilizam mensagens simples, com forte carga emocional e que apelam aos valores mais simples da vida.
Assim, é inevitável não pensar em muitas das campanhas de Natal desenvolvidas pela Coca-Cola e pela Vodafone, e até hoje, não consigo tirar da cabeça a campanha de Natal da cadeia de distribuição alemã, EDEKA.
Pegando nos valores da família, no drama da solidão na terceira idade e através de uma comunicação bastante realista, leva o consumidor a refletir sobre o tema e a memorizar o anúncio. É tudo tão bem feito que a presença da marca no último plano é o bastante para a obtenção do retorno desejado.
Qual o conselho para quem começa a trabalhar nesta área?
Minimizar ao máximo os custos de uma derrota e ter consciência do enorme valor dessa má experiência para a melhoria do trabalho desenvolvido. Ser persistente e tentar sempre, não dar nada como certo e nunca ir atrás de verdades absolutas. O maravilhoso mundo do marketing não permite paragens para descansar.
Um livro?
“A Ilha na Rua dos Pássaros”, de Uri Orlev.
Um podcast?
Ainda não “comprei a ideia”, mas admito o sucesso do conceito. Para descontrair e relaxar, em português, vou assistindo ao “Maluco Beleza” do Rui Unas.
Um destino de férias?
Visitado, a costa oeste da Escócia. A visitar, o planalto Mongol. Mas antes de tudo, Portugal. A descoberta está ao virar da esquina.
Hobbies?
Adoro a ideia de ter tempo, uma mala de ferramentas, algumas ferragens, dois ou três bocados de madeira e depois inventar qualquer coisa. Gosto imenso de inventar desde que crie algo de útil, tenho dificuldade em fazer algo que não sirva para nada.
Um gadget indispensável?
Desde 2018, o monitor portátil que serve para visualizar o meu filho enquanto dorme.
Uma música para trabalhar?
Bandas sonoras de filmes, principalmente sonoridades épicas, sou fã de John Williams. Uma das minhas preferidas é “The throne room”.
Uma música para relaxar?
“Sultans of Swing”, dos Dire Straits.
Uma frase que o orienta?
Uma frase que o orienta?“A fome e o frio metem a lebre a caminho”, não é propriamente uma orientação, mas ajuda-me a manter o foco.
Alguém que o inspira?
Todos os que vivem com honestidade e dos rendimentos do seu labor são, para mim, em algum momento da vida, fonte de inspiração, seja no meio profissional, na família ou no espírito de ajuda ao próximo.
O que ainda lhe falta fazer?
Falta-me fazer tudo, porque na verdade há um mundo inteiro de experiências para absorver e uma ampulheta que está a jogar contra nós.