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Decisão sobre recurso ao crédito exige maior ponderação

A subida da inflação e das taxas de juro está a fazer aumentar o risco de endividamento. Uma preocupação do Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores, uma iniciativa conjunta entre o ISEG e a Direção Geral do Consumidor, que visa apoiar os consumidores em risco de endividamento, e os sobre endividados.

28 de Setembro de 2022 às 14:17
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Em julho de 2022 o endividamento do Setor Não Financeiro situava-se em 792,5 mil milhões de euros, dos quais 435,9 mil milhões diziam respeito ao Setor Privado. Fazendo a comparação com julho de 2021, o endividamento do Setor Não Financeiro aumentou 26,3 mil milhões de euros, dos quais 16,2 mil milhões de euros corresponderam ao Setor Privado, segundo o Banco de Portugal. Neste setor, observou-se o aumento do endividamento das empresas em 10,5 mil milhões de euros, enquanto o aumento das dividas dos particulares correspondia a 5,8 mil milhões de euros.

Incumprimento em mínimos históricos

Apesar do aumento geral do endividamento, e segundo os dados divulgados pelo Banco de Portugal, em junho só 1,1% do stock total de empréstimos dos bancos aos particulares estava em incumprimento, o que corresponde a um novo mínimo histórico. No entanto, a subida da inflação para valores nunca vistos em 30 anos (8,9% em agosto), e a subida continuada da Euribor (com o correspondente aumento dos juros, nomeadamente no crédito a habitação), faz prever o aumento dos problemas com o crédito por parte das famílias portuguesas.

Neste contexto, a decisão sobre o recurso ao crédito e o nível de endividamento exige total ponderação por parte das famílias, especialmente numa conjuntura onde as despesas dos agregados familiares vão aumentar em resultado da inflação. Em especial porque não se sabe se este aumento é um fenómeno passageiro. Independentemente da incerteza associada ao fenómeno, é certo que vai impactar significativamente a gestão dos orçamentos familiares.

São previsíveis maiores dificuldades financeiras

Para João Calado, Coordenador do Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores (GOEC), "Importa também ter presente que, neste contexto de subida dos preços, o BCE irá subir as taxas de juro oficiais e os mercados vão repercutir esses aumentos em sucessivos acréscimos das taxas de juro de referência, levando a que as prestações de crédito aumentem, colocando, assim, os indivíduos e famílias endividados em maiores dificuldades financeiras". Segundo o Professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), "os novos contratos terão este fenómeno em ainda maior conta. Portanto, é preciso muita ponderação, é importante a revisão das contas e, acima de tudo, a elaboração de um orçamento familiar para se poder aferir sobre a capacidade financeira para acomodar novos créditos e para cumprir com os contratos em vigor".

Neste contexto, uma das principais causas do endividamento excessivo em Portugal é a baixíssima literacia financeira, o que justifica a grande atenção que o Gabinete dedica a este tema. Segundo João Calado "a falta de conhecimentos financeiros pode levar a decisões que aumentam a exposição ao risco por parte das famílias. As decisões são às vezes tomadas tendo em conta variáveis não racionais. Lida-se com questões financeiras tomando decisões emotivas ou mal fundamentadas do ponto de vista técnico e que por isso podem não estar devidamente ajustadas ao orçamento familiar. Estes tipos de más decisões podem levar a que as famílias acabem por se encontrar em situações de sobre endividamento e terminarem num processo de insolvência".

Necessário combater a baixa literacia financeira

Já existem várias iniciativas com o objetivo de combater a baixa literacia financeira, e já existe muita sensibilidade por parte das autoridades, nomeadamente por parte do Banco de Portugal, que lançou recentemente a Plataforma Todos Contam. No entanto, para o Coordenador do GOEC, "é necessário fazer mais, é urgente aumentar a intensidade e abrangência das ações já em vigor". E continua: "É importante começar desde cedo, já na escola primária, e alargar a outros graus de ensino, cultivando assim gerações mais informadas e menos suscetíveis de desenvolverem situações de endividamento excessivo. Como é evidente, esta medida não resolverá os problemas dos adultos para os quais importa manter uma rede de apoio como a Rede de Apoio ao Consumidor Endividado (RACE)."

Para dinamizar a aprendizagem da literacia financeira o GOEC tem algumas atividades como "o jogo do Poupinhas", um jogo didático e interativo que é realizado com as crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico. O Gabinete também ministra formação em matéria relativa à literacia financeira, de forma gratuita e em parceria com diversas instituições, à comunidade, sendo a linguagem e conteúdos das ações e matérias, adaptadas de acordo às caraterísticas de cada público-alvo a que se destinam.

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