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“Contribuímos de forma muito clara para a economia e para a justiça”

Em 2021, as 25 empresas associadas na Associação Portuguesa de Empresas de Recuperação de Crédito (APERC) recuperaram mais de 1.460 milhões de euros. Com a inflação e os juros em alta, os próximos tempos configuram-se desafiantes, como explica em entrevista António Gaspar, professor universitário e diretor executivo da Associação.

28 de Setembro de 2022 às 14:27
António Gaspar, diretor executivo da APERC
António Gaspar, diretor executivo da APERC
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A APERC (Associação Portuguesa de Empresas de Recuperação de Crédito) surgiu em 2003 como resultado da necessidade das empresas que trabalham neste setor de atividade, se agruparem com o objetivo de defender e debater objetivos comuns, e ao mesmo tempo, constituírem o primeiro espaço associativo neste sector de atividade, partilhando experiências e fortalecendo o setor.

Como é que as empresas de gestão e recuperação de créditos criam valor para os seus clientes?

Em primeiro lugar, e ao conseguirem a recuperação de créditos num curto espaço de tempo, acrescentam valor na tesouraria dos seus parceiros, uma vez que o valor cobrado poderá ser de imediato injetado no processo produtivo. Ato contínuo, e considerando essa boa cobrança, evitam que o processo mais tarde transite para os tribunais, aliviando desta forma a justiça. Direi que os nossos associados contribuem de forma muito clara para a economia, através da injeção de liquidez nas empresas, e para a justiça, aliviando os tribunais de novos processos.

Quais considera serem as principais tendências da atividade e como irá evoluir o setor?

Estamos a viver condições macroeconómicas de grande dificuldade, com inflação a níveis nunca vistos por aqueles que têm menos de 40 anos. Considerando também o recente anúncio do Banco Central Europeu (BCE) da subida da taxa de juro em 75 p.p., os tempos mais próximos irão compaginar e configurar mais dificuldades para as famílias, particularmente para aquelas que estão expostas a créditos contraídos, gerando potencialmente e realmente, um nível de incumprimento crescente. Ora esta situação vai lançar múltiplos desafios aos nossos associados que, como de costume, irão responder sempre de forma eficaz e eficiente, contribuindo para a ajuda aos mutuários e aos seus credores.

Os números mais recentes do Banco de Portugal mostram um endividamento crescente do setor não financeiro num contexto de subida dos custos da energia (entre outros) e da inflação. Que impacto é que esta situação está a ter e poderá vir a ter na atividade do setor?

A resposta dada na questão anterior espelha os desafios e o impacto esperado para o nosso setor. No entanto, posso avançar – e isto é válido para este e para qualquer outro setor – que os nossos associados, mais do que nunca, estarão sempre atentos à eficiência e à eficácia na metodologia empregue para resolver da melhor forma as solicitações que lhes são entregues pelos seus parceiros, tentando sempre encontrar a melhor solução para os mutuários. Não perdendo de vista nunca o equilíbrio entre o nível dos recursos necessários para uma performance de excelência e o custo dos fatores produtivos para atingirem os seus objetivos. Do equilíbrio entre todos estes fatores resulta a excelência dos resultados gerados.

Os mais recentes inquéritos do BCE mostram Portugal na cauda da Europa em indicadores de literacia financeira. Esta situação levanta desafios particulares à atividade de recuperação de crédito. Como vê este fenómeno e como perspetiva a sua evolução?

O problema da literacia financeira não é um problema novo em Portugal. Já nos acompanha há vários anos. Já tive oportunidade de manifestar – nos fóruns e locais próprios – a minha opinião sobre este tema. O ensino básico em Portugal deveria assinalar nos seus conteúdos programáticos alguma disciplina que, no todo do tempo letivo, ou em parte, consagrasse aulas de sensibilização dos mais jovens para este tema. De facto, é nos primeiros anos que se incutem princípios de poupança e da utilização dos dinheiros da forma mais racional, potenciando o seu uso da forma mais eficaz, para que não se perca a noção do equilíbrio financeiro familiar.

Penso que também as autarquias locais – que são instituições de maior proximidade com os cidadãos – e particularmente através dos seus departamentos de ação social, poderiam criar espaços semanais ou bissemanais, para atenderem os seus munícipes e ajudá-los nas decisões futuras de endividamento. Ou, nos casos em que esse endividamento já exista e não se mostre sustentável, ajudar a encontrar soluções para essas pessoas.

Como é que está a evoluir a atividade da APERC e dos seus associados?

No ano de 2021, os dados de atividade são de 1.460 milhões de euros recuperados, um crescimento muito significativo face a 2020, em que tivemos mais de 800 milhões de euros recuperados. No dia 22 de setembro também realizámos o sexto FÓRUM APERC, que é o nosso encontro anual. É um espaço de debate público sobre a nossa indústria e os desafios que o presente e o futuro nos coloca.

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