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Ensino Superior 2022
Notícia

Um olhar sobre o ensino superior público e privado

As instituições têm vindo a subir nos principais rankings académicos europeus e há mais estudantes no ensino superior. Mas ainda há muito para melhorar.

12 de Julho de 2022 às 15:19
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O sistema de ensino superior português é constituído pelo setor estatal e pelo setor particular e cooperativo. Auscultar as opiniões de António de Sousa Pereira, presidente do CRUP, e de António Almeida-Dias, presidente da APESP, permite-nos ter um olhar mais abrangente sobre o ensino superior em Portugal.

Existem diferenças entre as instituições de ensino superior, independentemente da sua natureza estatal ou privada. Cada universidade tem as suas características próprias, os seus elementos distintivos, as suas potencialidades intrínsecas, e é natural haver uma saudável competição.

 

Qualidade do ensino superior português

Tanto o presidente da Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado (APESP) – que representa 55 instituições do setor particular e cooperativo de ensino superior – como o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) – entidade que integra o conjunto das universidades públicas, o ISCTE–IUL, a Universidade Católica e o Instituto Universitário Militar, num total de 16 instituições – reconhecem que as universidades e os politécnicos portugueses têm vindo a subir nos principais rankings académicos europeus. Na prática, isto traduz-se no sucesso que os profissionais formados nas nossas instituições universitárias e politécnicos têm no estrangeiro e no aumento do número de estudantes internacionais a frequentar o ensino superior nacional.

 

Desafios pela frente

Se António Almeida-Dias salienta que "a percentagem da população portuguesa com escolaridade no âmbito do ensino superior, em 2021, ultrapassou a meta de 40% proposta na Estratégia Europa 2020", António de Sousa Pereira reforça que "o país deve continuar a apostar na massificação do ensino superior", uma vez que "Portugal tem um défice de potencial humano e isso é sentido, sobretudo, pelo mercado de trabalho, que revela dificuldades para encontrar os recursos humanos qualificados de que as empresas e instituições necessitam para serem produtivas, modernas e competitivas".

 

Cooperação universidade-empresas

Por outro lado, apesar de a cooperação entre academia e indústria ter evoluído significativamente nas últimas décadas, para António de Sousa Pereira "há ainda um longo caminho a percorrer para que essa cooperação seja mais intensa, sinérgica, produtiva e transdisciplinar". Urge intensificar o diálogo entre as universidades e os seus parceiros económicos e sociais para "promover uma maior consonância entre as duas culturas: a cultura académica, que é fundamentalmente teórica (...) e a cultura empresarial, que é eminentemente prática".  

 

O travão da burocracia e do conservadorismo

Outro entrave apontado por ambos tem a ver com o excesso de burocracia e a prevalência de um certo conservadorismo nas políticas para o ensino superior. A posição de António Almeida-Dias, segundo o qual "é absolutamente necessário e urgente encontrar instrumentos e cronogramas que facilitem o dia a dia das instituições", é corroborada por António de Sousa Pereira, que considera ser premente a necessidade de implementar reformas neste setor.

 

Mas há outros desafios no horizonte do ensino superior português: "A superação do problema da diminuição da natalidade; a integração de objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) nos projetos educativos; a afinação do modelo híbrido como ensino de excelência; a internacionalização como motor determinante de sustentabilidade e desenvolvimento das instituições; a promoção das tecnologias de informação e comunicação como fator de evolução dos modelos educativos e de gestão; a investigação como fonte de inovação e desenvolvimento do ensino superior; a participação ativa em redes de conhecimento; e o alargamento da dimensão da responsabilidade social a causas, valores e problemas nacionais e internacionais", destaca António Almeida-Dias.

 

Vantagens da formação superior e da formação contínua

Dúvidas houvesse quanto às vantagens de uma formação superior, as estatísticas demonstram que "um jovem com mais qualificações tem maiores possibilidades de encontrar emprego e de esse emprego ter melhores condições laborais, salariais e de carreira do que alguém com um nível de formação mais baixo", refere o presidente do CRUP.

 

António Almeida-Dias vai mais além, fazendo notar que "o mundo é complexo, imprevisível e está em constante transformação pelo que a formação deve acompanhar toda a vida laboral de cada pessoa. A formação superior é uma base fundamental, porém, há que atualizar conhecimentos, tanto gerais como específicos, tanto na área da formação de base como noutras, para fazer face à complexidade referida, numa perspetiva holística do mundo e da vida."

 

Além das hard skills (competências técnicas e conhecimentos científicos), o mercado de trabalho valoriza cada vez mais as soft skills (competências pessoais e sociais), como as qualidades de liderança, criatividade, pensamento crítico, adaptabilidade ou gosto pelo trabalho em equipa.

 

Em prol de um (cada vez) melhor ensino superior

Empenhado em contribuir para a adoção de políticas públicas que valorizem a educação, a ciência e a cultura, promotoras da qualidade, modernização e expansão do ensino superior, o CRUP tem trabalhado com as universidades que representa e com as instituições que tutelam o ensino superior, para encontrar estratégias que permitam superar dificuldades e maximizar potencialidades e sinergias.

A par e passo caminha o ensino superior privado, que entre 2015/16 e 2020/21 teve um aumento de cerca de 30% de estudantes, com algumas instituições frequentadas maioritariamente por alunos estrangeiros e com tendência a aumentar. "Um ensino superior privado forte e respeitado é fundamental para desenvolver um ensino superior plural, aberto e com dimensão internacional. O ensino superior cria emprego altamente qualificado e as suas receitas contam como exportações. É nisso que Portugal deve apostar."

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