Com o objetivo precisamente de descarbonizar a economia portuguesa, foi publicado no ano passado o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050). Um dos vários pontos deste extenso documento, que estabelece a trajetória para atingir a neutralidade carbónica daqui a 30 anos, centra-se na mobilidade e transportes, um dos principais emissores nacionais, representando cerca de 25% das emissões. É mesmo o setor com maior crescimento de emissões nas últimas décadas, pode ler-se no documento. Este setor inclui o transporte rodoviário, ferroviário, marítimo e aviação.
O subsetor rodoviário representa 96% das emissões dos transportes, sendo a ferrovia, a aviação e a navegação nacionais responsáveis por apenas 4% das emissões. O uso do automóvel é responsável por 60% das emissões em relação ao total do transporte rodoviário.
Este é também o setor com maior intensidade energética e maior contribuição indireta para a importação de energia primária e dependência energética associada. Os transportes apresentam taxas de eficiência de uso consideravelmente baixas, com valores na ordem de 1,2 passageiros por veículo privado e lotações médias dos transportes públicos entre 17% e 24%, abaixo da média europeia, havendo margem para ganhos de eficiência.
Nesta estratégia de longo prazo para a Neutralidade Carbónica da Economia Portuguesa em 2050 – publicada antes da pandemia, ressalve-se – lê-se que a adesão crescente que se perspetiva para a utilização de modos suaves e ativos nos centros urbanos e as políticas proativas de ordenamento do território que permitem uma maior articulação e utilização do sistema de transportes públicos constituirão a base da revolução neste setor, sendo os vetores essenciais para a sua descarbonização. Prevê-se que em 2050 entre 8% e 14% da mobilidade de curta distância seja feita com recurso a modos suaves.
Assim, tem de se reforçar a oferta dos sistemas de transporte público e expandir as redes de metropolitano e ferrovia e respetiva integração multimodal.
A eletrificação de base renovável irá permitir uma transição célere dos atuais veículos com motores de combustão interna para os elétricos, com a eletricidade a atingir um peso da ordem de 70% do consumo energético total dos transportes em 2050.
Numa fase transitória, irão ainda desempenhar um papel importante na descarbonização os veículos híbridos, principalmente no transporte individual, e os biocombustíveis avançados, nomeadamente no transporte rodoviário pesado interurbano, de passageiros e de mercadorias. Mas com o avançar do tempo os biocombustíveis deverão perder relevância no setor rodoviário.
Veículos ligeiros
No transporte ligeiro de passageiros o gasóleo deixa de ser custo-eficaz até 2030 e a gasolina até 2040, sendo em ambos os casos substituídos por veículos elétricos. A eletricidade assegurará mais de 30% da satisfação da procura de mobilidade em 2030, com um potencial de atingir 100% em 2050, pode ler-se no RNC2050.
Em complemento ao uso de veículos elétricos, as formas de mobilidade partilhada e autónoma irão permitir enormes ganhos de eficiência, com maiores taxas de utilização de cada veículo (mais passageiros por viagem e mais viagens por dia). Este tipo de modelos passará a assegurar metade da procura de mobilidade até 2050, o que permitirá acelerar a descarbonização do setor.
Pesados
Nos veículos pesados prevê-se a possibilidade de introdução de novos combustíveis como o hidrogénio (H2) ou novas tecnologias de carregamento dinâmico, como por exemplo catenárias ou sistemas de indução. A implementação destas soluções, porém, dependerá do desenvolvimento de infraestruturas de base, cujos custos de investimento e operação são ainda incertos.
Estes dois vetores energéticos asseguram a quase totalidade da mobilidade pesada de passageiros e de mercadorias em 2050.
Navegação
Para o setor da navegação as principais soluções passam por medidas de eficiência energética, bem como no uso de GNL e biocombustíveis na média e longa distância. A eletrificação, através da introdução de sistemas de propulsão híbridos e elétricos, é maioritariamente dedicada ao transporte fluvial de passageiros de curta distância.
Aviação
A aviação de âmbito nacional também deverá vir a ser eletrificada, sendo que em distâncias até cerca de 1.500 quilómetros se prevê que o avião elétrico seja uma solução custo-eficaz. Para maiores distâncias, como, por exemplo, transporte do continente para as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, perspetiva-se a utilização de aeronaves híbridas, as quais poderão recorrer a bioquerosene nas descolagens e aterragens.
25% das emissões de CO2 em Portugal provêm atualmente do setor da mobilidade e transportes.
60% das emissões fica a dever-se ao uso do automóvel.
70% do consumo energético total dos transportes em 2050 será à base de eletricidade.
30% da satisfação da procura de mobilidade em 2030 será feita através de eletricidade, com um potencial de atingir 100% em 2050.