Dentro de 30 anos, a União Europeia (UE) quer ser neutra em termos de clima. Em março deste ano, a Comissão Europeia adotou uma proposta para consagrar na legislação o compromisso político da UE nesse sentido. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão, disse então estar a agir para tornar a UE o primeiro continente neutro em termos de clima até 2050. "A Lei Europeia do Clima é a transposição para a lei do nosso compromisso político e coloca-nos irreversivelmente na via para um futuro mais sustentável. É o cerne do Pacto Ecológico Europeu. Oferece previsibilidade e transparência à indústria e aos investidores europeus. Dá orientações à nossa estratégia de crescimento verde e garante que a transição será gradual e equitativa."
Frans Timmermans, vice-presidente executivo para o Pacto Ecológico Europeu, afirmou, por sua vez, estar a passar-se "das palavras à ação para mostrar aos cidadãos europeus o empenho da UE em alcançar a neutralidade climática". Reforçou ser importante todos trabalharem para se alcançar os objetivos comuns consagrados no Acordo de Paris e explicou que a Lei Europeia do Clima assegurará que se mantêm os objetivos e a disciplina, que se continuará no bom caminho e que a UE se responsabilizará pelos resultados.
Cidades e governos
Autarquias e governos estão em consonância com os objetivos da Comissão e também almejam que se chegue a 2050 com zero emissões de gases com efeito de estufa. Entre os vários setores, o da mobilidade é dos mais importantes. Fala-se e faz-se cada vez mais para se ter acesso aos transportes zero emissões e promove-se a mobilidade inclusiva. Fazem-se roteiros governamentais e tomam-se medidas. Nas cidades, há também bons exemplos.
Em Portugal, existem autarquias que se têm destacado no âmbito da mobilidade sustentável e urbana. Lisboa e Cascais estão nesse rol para citar apenas duas. Os cascalenses, por exemplo, desde o início deste ano que têm transporte rodoviário gratuito dentro do concelho. Um sucesso entre residentes, estudantes e trabalhadores da zona. Outro bom exemplo é o primeiro autocarro em Portugal sem condutor - 100% autónomo - que ali se estreou.
Lisboa tem um historial de sucesso no que toca à mobilidade sustentável na cidade. A capital já ganhou o prémio da Semana Europeia da Mobilidade em 2018. Uma distinção entregue pela Comissão Europeia. Atualmente, é a Capital Verde Europeia. Doze indicadores contribuíram para esta eleição. Na área da mobilidade de Lisboa, várias são as medidas tomadas ou os compromissos que foram assumidos: rede de transporte público fiável, acessível e integrada; passe único em toda a AML; ou 410 novos autocarros de elevado desempenho ambiental até 2023. Mas há mais: duplicação da frota de elétricos rápidos; mais 40% de oferta de transporte público rodoviário na AML; expansão da rede do metropolitano e renovação da frota da Transtejo; infraestrutura ciclável que ligue toda a cidade e não só.
Registe-se que Cascais e Lisboa são apenas dois exemplos. Mas existem muitos mais. Basta referir que este ano existem 61 autarquias nacionais que se juntam a este projeto europeu e por estes dias levam a cabo iniciativas e ações para assinalarem a Semana Europeia da Mobilidade e o Dia Europeu sem Carros.
Organizações e empresas
Às autarquias e governos juntam-se as organizações, empenhadas num planeta mais verde. Neste trabalho apontam-se várias dessas (BP, BMW, Volkswagen…) e explicam-se as suas estratégias ecológicas. A Volkswagen aposta muito na mobilidade sustentável. Não só na eletrificação dos veículos, mas nas unidades industriais, tornando-as mais sustentáveis, e em outras soluções.
O grupo alemão está concentrado em reduzir emissões, à semelhança das autarquias supracitadas. Mas será que as cidades portuguesas promovem a neutralidade carbónica e a mobilidade inclusiva? "Começamos a notar alguma atenção para o tema, mas ainda estamos longe daquilo que consideramos que pode e deve ser feito para que mais e mais pessoas se sintam confortáveis com esta transição a que estamos a assistir", diz Nuno Serra, diretor de Marketing da Volkswagen, prosseguindo: "Não basta dizer para que se comprem veículos elétricos, há que criar condições para que a passagem para a utilização diária de um veículo elétrico seja feita de forma natural e praticamente sem se notar diferenças face ao que estávamos habituados. Acredito que a Volkswagen, mas também todas as outras marcas a atuar no território nacional, está disponível e deve ser ouvida para a criação de soluções que ajudem à promoção da neutralidade carbónica e da mobilidade inclusiva."
Quanto aos incentivos para adquirir veículos elétricos, o responsável do construtor alemão diz que o Governo português tem lançado apoios para empresas e particulares, mas também não pode perder o foco de outros temas. Nuno Serra está a falar da criação de "mais postos de carregamentos, novos incentivos ajustados à realidade dos portugueses e das empresas do País para que avancem de forma mais acentuada para a mobilidade elétrica e híbrida, promoção e incentivo ao abate de veículos com mais idade e com níveis de poluição (e, por vezes, também de segurança) fora daquilo que são hoje as exigências dos mercadores e dos reguladores". "Portanto, se por um lado o caminho está a ser feito, por outro lado ainda temos, permita-me a expressão, muitos quilómetros para percorrer e para chegarmos a um destino que mostre realmente um cenário mais sustentável e com emissões neutras."
Ainda no que toca à questão dos incentivos, Massimo Senatore, diretor-geral da BMW Portugal, refere que as medidas dos governos europeus contribuíram para que haja cada vez mais carros ecológicos nas estradas. No entanto, acredita que é necessário implementar mais medidas para aumentar a utilização do veículo elétrico, tal como assegurar uma boa rede de carregamento, dar vantagens ao nível das portagens nas autoestradas, estacionamento e a harmonização dos apoios fiscais à aquisição de veículos eletrificados.