A conferência de imprensa que Donald Trump, Presidente dos EUA, fez na passada quinta-feira, anunciando a saída do seu país do Acordo de Paris é uma notícia que ensombra o Dia Mundial do Ambiente, que se assinala hoje. Com este anúncio, os EUA juntam-se à Síria e à Nicarágua – este país da América Central não participou nas negociações do histórico acordo por considerar que era demasiado indulgente –, sendo hoje os únicos três países contra o Acordo de Paris, embora haja outros que ainda não o ratificaram. Esta tomada de decisão de Washington é contrária à de Pequim, Nova Deli ou Moscovo. É que China, Índia e Rússia – a par da União Europeia (UE) – são quem mais polui o planeta e já avançaram que se vão manter fiéis aos compromissos climáticos acordados na capital francesa.
Explique-se que o Acordo de Paris tem como objectivo limitar a subida da temperatura mundial, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa. É o primeiro grande compromisso de toda a comunidade internacional na luta contra as alterações climáticas. O acordo foi assinado em 2015 durante a conferência da ONU sobre o clima (COP21) em Paris por 195 países, mais a UE, após vários anos de negociações.
Donald Trump justificou a retirada do país do Acordo de Paris, argumentando que o pacto põe em "permanente desvantagem" os trabalhadores norte-americanos e a economia. Os mineiros norte-americanos, cuja profissão tem registado um aumento do desemprego, foi um dos exemplos dados. Com esta decisão, os EUA cessarão todas as implementações dos seus compromissos climáticos fixados em França, que incluem a meta proposta pelo ex-presidente Barack Obama de reduzir até 2025 as emissões de gases com efeito de estufa entre 26% e 28% em relação aos níveis de 2005.
A retirada dos EUA do Acordo de Paris provocará, no pior cenário, um aumento adicional de 0,3 graus centígrados na temperatura global relativamente aos níveis pré-industriais, explicou o director do Departamento de Investigação Atmosférica e do Meio Ambiente da Organização Mundial da Meteorologia, Deon Terblanche.
Mundo reage contra Trump
O Presidente dos Estados Unidos falou ao telefone com a chanceler alemã, Angela Merkel, com o Presidente francês, Emmanuel Macron, com a primeira-ministra britânica, Theresa May, e com o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, para lhes explicar o porquê da decisão de abandonar o Acordo de Paris. Não obstante, não se livrou de duras críticas da comunidade internacional. Angela Merkel, por exemplo, afirmou que a decisão dos EUA de se retirar do acordo climático de Paris é "muito lamentável". E o Presidente francês, Emmanuel Macron, também está entre os descontentes. Mais corrosivo foi o ministro do Ambiente do Japão, Koichi Yamamoto, que se mostrou "decepcionado" e "chateado" com o anúncio de Trump, e classificou-o de "contrário à inteligência da humanidade".
Dentro das suas fronteiras, o Presidente também está a ser muito criticado. Os governadores democratas dos estados de Nova Iorque, Califórnia e Washington formaram uma aliança climática. E muitas empresas de renome, que têm apostado em energias renováveis, também não concordam com a decisão da administração Trump. A imprensa norte- americana – e mundial, aliás – mostram-se igualmente críticas com a decisão da Casa Branca.
O isolacionismo
Horas antes do anúncio de Trump – e já antevendo o que ia acontecer – o Negócios em Rede pediu a Pedro Barata, CEO da Get2C, empresa que actua na área das alterações climáticas e carbono com foco na gestão do financiamento climático e da sustentabilidade, a sua opinião sobre a forma como Trump olha para as questões ambientais.
"Claramente não podemos tapar o sol com a peneira: Trump e o seu isolacionismo e a defesa dos combustíveis fósseis são um revés. Mas importa esclarecer que são apenas isso. Na verdade, a evolução tecnológica dos últimos anos ditará que as posições de Trump e da sua administração são em larga medida irrelevantes para aquilo que se está a passar fora das suas fronteiras. As notícias da China e da Índia sobre a progressão rápida, muito mais rápida do que se antecipara mesmo há apenas dois anos, faz com que estes dois países, onde se concentra o crescimento da capacidade energética mundial, comecem a fazer o ‘phase-out’ do seu carvão de forma rápida. Se os EUA persistirem no actual caminho, permanecerão, de certa forma, anacrónicos", explicava.
Caso português
Menos dado a "tempestades", Portugal está bem mais disposto a ser amigo do ambiente e está a cumprir as metas de redução de emissões de gases com efeito de estufa. "Portugal cumpriu com as suas metas de Quioto para o período de 2008 a 2012, e está em vias de conseguir reduzir bastante além daquilo com que se comprometeu a nível europeu até 2020", realça Pedro Barata, prosseguindo: "Já sobre as metas para 2030 é difícil emitir para já um juízo, na medida em que não estão ainda integralmente definidas. É certo, contudo, que Portugal tem potencial de redução ainda significativo."