A Get2C é uma empresa que actua na área das alterações climáticas e carbono com foco na gestão do financiamento climático e da sustentabilidade. Pedro Barata, CEO da empresa, explica que a Get2C surgiu há seis anos, mas conta com a experiência dos seus responsáveis que possuem "cerca de 20 anos na área da política e da economia de ambiente, nomeadamente nas alterações climáticas". "De uma forma ou de outra, estamos envolvidos na política de alterações climáticas e na temática da descarbonização desde 1996, tendo acompanhado durante anos o governo português no âmbito internacional e mais tarde as instituições internacionais ao mais alto nível", refere.
A empresa tem como missão "apoiar a transformação de entidades governamentais e empresariais de modo a chegarem o mais rapidamente possível a zero emissões de carbono". Com uma experiência internacional "premiada", a Get2C pretende colocar a inovação ao serviço do financiamento climático, focando a sua actividade na criação de "projectos ‘smart’ e sustentáveis que contribuam para um mundo melhor".
Em seis anos de actividade, a empresa desenvolveu mais de 50 projectos em África, Ásia, Europa e América do Sul, sendo de destacar o Brasil, em que os projectos implementados pela Get2C resultaram numa redução de 2 milhões de toneladas de CO2. Na qualidade de empresa portuguesa líder na área, a Get2C pretende contribuir para o real cumprimento do Acordo de Paris, através da criação de sinergias com governos, empresas e indústria, com o objectivo de "cooperar para a definição e implementação de estratégias que permitam travar o aquecimento do planeta até ao final do século".
O principal desafio, e no qual a Get2C está empenhada, é o de assegurar a transição para uma sociedade sem carbono. "Esse desafio implica uma reestruturação imediata das nossas economias e sociedades", refere o responsável máximo da empresa. A descarbonização é também um dos principais desafios ao desenvolvimento sustentável das sociedades, a par do acesso à energia ou à água. "A descarbonização implica fortes impactos nestes desafios potenciando-os pela positiva, uma vez que um mundo descarbonizado pode e deve implicar um maior acesso à energia limpa e à água potável", conta.
Serviços procurados
A área de maior crescimento na empresa actualmente é a consultoria em política climática, tendo como clientes "o Banco Mundial, a Comissão Europeia, várias agências das Nações Unidas e agências de cooperação bilateral". A empresa está também a trabalhar na estruturação de fundos de apoio a energias renováveis. "Estes fundos contam já com o apoio do Global Innovation Lab for Climate Finance, o qual premiou as nossas duas ideias em dois concursos diferentes – entre duas centenas de concorrentes a nível global", destaca Pedro Barata.
Continuando nos números, a área de "trading" é a que apresenta um maior volume, tendo transaccionado cerca de "10 milhões de euros de valor de licenças para os clientes com os quais" a Get2C colabora. Na área de apoio ao comércio europeu de licenças, trabalha com cerca de "30 empresas". "Desenvolvemos ainda serviços de consultoria estratégica para organizações, nomeadamente em Portugal e em Marrocos", acrescenta.
No que diz respeito aos múltiplos projectos em curso, salienta três: a estruturação do mercado doméstico de carbono da Costa Rica; a nova estratégia nacional para as alterações climáticas em Angola; e o Renewable Energy Scale-Up Facility, que é um instrumento financeiro idealizado pela Get2C e pela Baker&McKenzie, estruturado por forma a minimizar o risco de investimento em ideias inovadoras em energias renováveis, através de uma estrutura de "equity options".
Portugal está já a fazer muito
A União Europeia está a traçar o caminho para uma economia sem carbono até 2050. Questionado sobre o que está a fazer o nosso país nesta área, Pedro Barata responde que "Portugal está já a fazer muito". Segundo o CEO da empresa Get2C, desde 2005 que a evolução da economia nacional "desacoplou" das emissões de gases com efeito de estufa (GEE), ou seja: "Estamos a gerar mais produto com menos emissões."
Além de alterações estruturais na economia, com a preponderância de serviços e o crescimento do produto agrícola, é sobretudo "o papel das energias renováveis, e em particular da eólica e da energia solar, que motiva esse pioneirismo" português e a reversão que ocorre há uma década. É contudo preciso ir mais longe, avisa. "O Governo anunciou para este ano a realização de um Roteiro para a Neutralidade Carbónica, dando seguimento ao anúncio já efectuado na Cimeira de Marraquexe, em que Portugal visa chegar à neutralidade ("balanço neutro entre emissões e remoção de dióxido de carbono na atmosfera) em 2050, em linha com a meta internacional do Acordo de Paris e a meta europeia", explica.
Meta possível
Mas será que é possível o país cumprir esta meta? "O roteiro determinará certamente em que medida será possível. A nível internacional, multiplicam-se os estudos que antevêem que a meta seja possível, sim, mas através da aplicação em larga escala das melhores tecnologias disponíveis actualmente e sem grandes custos sociais e económicos associados". Aliás, continua Pedro Barata, estes custos sociais e económicos são sempre em "menor escala" do que os custos que o planeta e o país sofreriam em cenários de elevadas temperaturas globais e disfunções fortes no nosso sistema climático.
Sobre a forma como estas mudançaspodem afectar a competitividade da economia nacional, Pedro Barata acredita que "bem pensada e acompanhada" essa mudança pode ser um factor de "competitividade para as empresas e para o país".