A iniciativa EconomiaAzul nasceu em 2018, na sequência de um projeto de mestrado em Direito e Economia do Mar, que defendeu o desenvolvimento de ações de formação de curta duração. A ideia resultou da constatação de que existe muito e bom conhecimento na academia, mas que este encontra barreiras na transmissão às pessoas, empresas e administração pública em geral. A iniciativa EconomiaAzul procurou colmatar esta situação, tendo desenvolvido um sistema operativo azul (SOuAZUL) – uma base de conhecimento fundamental sobre economia azul – que pretende aproximar pessoas e oceano, inspirando carreiras e empresas azuis. Este sistema operativo tem evoluído, sendo atualmente apresentado em ações de formação e utilizado como metodologia em projetos de consultoria.
Porém, o que é, exatamente, a economia azul? Álvaro Sardinha, fundador e formador da iniciativa EconomiaAzul, explica que o conceito economia azul foi apresentado pela primeira vez em 1994 por Gunter Pauli, um empreendedor social belga, estabelecendo um modelo para inovação empresarial baseado em crescimento económico sustentável. Este conceito relacionado com o oceano desenvolveu-se em paralelo com o conceito de economia do mar, tendo conquistado relevo em 2012, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20).
"A economia do mar é definida como o conjunto de atividades económicas que ocorrem no oceano; recebem produtos do oceano; e fornecem bens e serviços ao oceano. Define-se economia azul como uma economia do mar sustentável, em termos ambientais, sociais e económicos – resultante do equilíbrio entre a atividade económica e a capacidade a longo prazo dos ecossistemas oceânicos e da sociedade para suportar essa atividade, permanecendo resilientes e saudáveis", diz Álvaro Sardinha, acrescentando que a economia do mar tem a ver com PIB, com exploração do oceano; economia azul tem a ver com conhecer, viver do oceano, viver com o oceano, proteger o oceano.
Questionado se Portugal tem hoje uma economia do mar sustentável, o responsável da iniciativa EconomiaAzul começa por relembrar que esta economia inclui vários setores de atividade tradicionais, como a aquicultura, pesca, portos e transporte marítimo, construção naval, turismo costeiro e marítimo, equipamentos e serviços marítimos. E atividades emergentes, como, por exemplo, a bioeconomia azul, biotecnologia marinha, energia no oceano, proteção e vigilância.
Hoje, segundo o último destaque da Conta-Satélite do Mar, a economia do mar do país depende "excessivamente do turismo, setor que contribuiu com 43% do VAB gerado na economia do mar (triénio 2016-2018) e 40% do emprego azul (biénio 2016-2017)". "Seguem-se a pesca, aquicultura e processamento de pescado (25% VAB; 34% emprego); e o transporte marítimo (11% VAB; 7% emprego)." Quanto às atividades emergentes, apresentam "valores sem expressão (0,1% VAB; 0,2% emprego), indicadores de que existe muito para fazer em conhecimento, educação e inovação", sublinha.
O que está bem e o que tem de ser melhorado
Sobre os principais desafios e oportunidades para tornar a economia azul portuguesa mais sustentável, Álvaro Sardinha recorda que "existe apenas um oceano a ligar todos, pelo que a economia do mar tem de ser pensada e gerida em comum". No caso de Portugal, com 97% do seu território coberto por água do oceano, o potencial de crescimento da economia do mar é "indubitável".
No que diz respeito a oportunidades e ações concretas no país, Álvaro Sardinha enaltece o trabalho desenvolvido pela Direção-Geral de Política do Mar (DGPM). "Numa perspetiva menos positiva e ainda do ponto de vista da governação, constata-se que a legislação marítima está, em muitos casos, desenquadrada da atualidade ou com aplicação atrasada dos diplomas. Também os serviços de administração marítima funcionam, muitas vezes, como um travão à inovação e ao investimento, apresentando-se deficitários em liderança, agilidade, empatia e comunicação."
Como nota final, aplaude o empreendedorismo e as iniciativas que contribuem para o desenvolvimento sustentável. "São muitos os bons exemplos, dos quais se podem destacar o projeto INOVSEA, promovido pela Associação Empresarial de Viana do Castelo e pela Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz; e o projeto Ericeira WSR+10, promovido pelo Ericeira Surf Club".
Projeto INOVSEA
O projeto INOVSEA, promovido pela AEVC e a ACIFF, visa potenciar a inovação nas PME que integram a economia do mar das regiões costeiras do Alto Minho e Baixo Mondego, tendo como base a inovação, a cooperação e o incremento de competências em fatores críticos de competitividade, incluindo a economia circular, a transformação digital, a literacia financeira e a internacionalização. https://inovsea.pt/
Projeto Ericeira WSR+10
O projeto Ericeira WSR+10 defende a economia azul nas regiões costeiras, promovendo comunidades saudáveis e sustentáveis através do surfing e atividades ao ar livre. Inclui conferências, formação, estudos científicos e a elaboração de um estudo do impacto ambiental, social e económico da Reserva Mundial de Surf na Ericeira. O principal evento contará com a presença de cerca de 200 representantes oriundos de dez países. https://ericeirawsr10.com/