Quando pensamos no termo saúde digital, e como este pode ser a chave para melhorar o atendimento em saúde, automaticamente associamo-lo a conceitos como tecnologia médica, dispositivos inteligentes, teleconsultas, cirurgias à distância, apps, wearables, entre outros. E está correto, a saúde digital é tudo isto se consideramos apenas a componente mais técnica, mas se olharmos para o lado humano, encontramos grandes desafios que ainda precisam de ser considerados, para que se assista a uma efetiva adoção digital na saúde e não apenas em algumas áreas.
As alterações demográficas e socioeconómicas, o envelhecimento da população, a crescente utilização de serviços mistos - públicos e privados, o aumento das expectativas de serviços como a telemedicina e a disponibilidade de informação em qualquer lugar, têm um peso tão grande ou maior para que este caminho seja efetivo.
Aliás uma pesquisa recente destaca que a maioria dos cidadãos (58%) está disponível para usar telesaúde ou visitas virtuais em necessidades futuras, em vez de um atendimento presencial numa unidade de saúde. No entanto, apesar desta realidade, é primordial garantir as condições logísticas e operativas necessárias para a sua aplicação no terreno.
O que assistimos na primeira pessoa ou através da experiência de terceiros é que há alguns desafios a ultrapassar, e a questão não está na tecnologia. Para dar um exemplo, é preciso garantir que os cidadãos sabem utilizar e têm o acesso necessário para fazer o agendamento das suas consultas nos cuidados primários online. O mesmo é fundamental que ocorra com os profissionais de saúde, concedendo tempo e espaço de trabalho para que utilizem e divulguem as ferramentas digitais. Para garantir que o caminho da saúde digital se torna menos complexo, é necessário perceber as condições reais do terreno e ajustá-las para se adaptarem a uma realidade digital efetiva.
E este objetivo só pode ser atingido com o envolvimento dos cidadãos e dos profissionais de saúde, as ferramentas e tecnologias digitais devem ser colaborativas (desenvolvidas em conjunto, tendo em conta o contexto real e do terreno para o qual estão a ser disponibilizadas), robustas (respeitando a privacidade do cidadão e resilientes o suficiente para responder às expectativas de privacidade de dados), transparentes (demonstrando a utilidade da informação) e interoperáveis (para que seja possível utilizar os volumes de dados gerados com a digitalização de processos, de forma a serem aproveitados, para gerir melhor os recursos e antecipar problemas).
É fundamental colocarmo-nos na posição dos cidadãos e dos profissionais de saúde, perceber quais são as suas necessidades e condições reais, quais os passos que faltam dar para que as suas experiências vão de encontro às suas expectativas. Combinando o cuidado digital e com o cuidado físico, para que seja possível fornecer serviços eficazes e confiáveis, tanto presencialmente como à distância, melhorando a experiência dos cidadãos e dos profissionais de saúde.