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O papel do turismo sustentável na inserção social

Os Açores acolhem cerca de 160 especialistas da International Social Tourism Organisation, representantes de 20 países, dos cinco continentes, para debater os desafios do turismo sustentável.

12 de Outubro de 2022 às 17:24
Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel
Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel
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Os Açores acolhem desde hoje e até 15 de outubro o 28º Congresso Mundial da ISTO dedicado ao Turismo Sustentável. Este congresso realiza-se no âmbito duma organização que existe há mais de meio século e que reúne os cinco continentes, a ISTO (International Social Tourism Organisation) que integra organizações que desenvolvem atividades de turismo solidário e sustentável, ou seja que desenvolvem um turismo para todos, preservando e potenciando as diversidades culturais e ambientais dos territórios.


A maior parte das organizações que integra a ISTO nasceu nos princípios do século XX, com as associações humanistas, sindicais e republicanas, que associaram as lutas pela redução do tempo de trabalho e pela igualdade de oportunidade ao lazer e à cultura para os operários e os pensionistas.

Após a segunda metade do século XX, com o desenvolvimento aprofundado da globalização, da desertificação do meio rural e com os problemas ambientais, foi-se alargando, das fontes da intervenção cívica social para as ambientais. A maioria são organizações de economia social, sem fins lucrativos.

O congresso realiza-se nos Açores por dois motivos: as características da região e do seu turismo, que tem na natureza uma causa determinante, e pela disponibilidade do Governo Regional em apoiar a iniciativa. A isto alia-se o facto da Inatel ocupar a Administração e a Vice-Presidência da organização, e ter duas unidades hoteleiras na Região (Flores e Graciosa), para além de delegações em S. Miguel, Terceira e Faial, aliando sempre a sua intervenção hoteleira e de turismo à promoção dos agentes culturais, desportivos e sociais do território. Para falar do Congresso e dos desafios do turismo sustentável, falamos com Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel.

 

Qual é a importância de promover um turismo sustentável?

O turismo é fruto das vitórias das sociedades liberais no mundo após a Segunda Guerra mundial. Sem facilidades de vistos às deslocações das pessoas entre países, inerentes à promoção da circulação menos restrita de pessoas, associadas muito à livre circulação crescente do comércio internacional, o Turismo não se tinha tornado uma das principais atividades económicas do mundo. Antes deste período era negligenciável, salvo alguns casos nacionais, e os movimentos muito limitados. Após a Segunda Guerra mundial cresceu exponencialmente. A esta variável política associou-se o desenvolvimento tecnológico, baixando os preços dos custos de deslocação e transporte e mais recentemente a variável digital. Contudo, a massificação do turismo coloca problemas de preservação ambiental, deixando em muitos casos uma pegada ecológica muito negativa e ameaçando territórios e as suas formas diversas de vida, havendo aqui uma espécie de autofagia em que a diferença atrai e a massificação mata o que atrai. Daí a importância do Turismo Sustentável, aquele que não destrói, nem o planeta e os habitats dos territórios, e que envolve as comunidades onde os turistas se deslocam.

 

Quais são os objetivos do 28º Congresso Mundial da ISTO?
Os objetivos deste congresso são, sobretudo, dar a conhecer os Açores a estas organizações, que fazem da natureza e da diversidade ambiental e cultural, sem as destruir, a sua causa primeira, envolvendo todas as gerações, e mostrar ao País e ao Mundo a dimensão e importância social deste trabalho. Para isso, a reflexão vai-se orientar em torno destes temas e da divulgação de boas experiências internacionais, de turismo sénior, de jovens, de cultura, de natureza, de desporto com Natureza, sempre orientado para envolver e participar nos territórios que recebem este turismo, e sempre com objetivos de solidariedade e sociais, não apenas nestas "economias externas" (ambiente, cultura, gastronomia local, etc.), mas também numa dimensão social, promover a igualdade de oportunidades ao turismo para todos, sem destruir o planeta, mas também intergeracional, numa sociedade que vive cada vez mais para a promoção agressiva da juventude eterna.

 

Quais os principais temas que vão ser abordados no congresso?
Os temas são vários, sempre no contexto atrás referido. O papel da economia social e solidária na sustentabilidade social e ambiental do turismo. De que forma a inovação nas práticas pode ajudar o Turismo Sustentável a privilegiar a Inserção Social. Como preservar as regiões e a sua diferença e torná-las mais atrativas para os turistas, como desenvolver a interatividade entre quem recebe e quem chega, reduzindo os impactos negativos sobre as comunidades locais. Como contribuir para um trabalho digno na defesa de maior qualidade para o setor.

 

No seu entender, Portugal promove um turismo sustentável?
Nas últimas décadas sim. A política pública tem colocado esta variável no centro, em todas as dimensões do turismo. O Turismo de Portugal tem tido aqui um papel determinante.

 

Os Açores são reconhecidos e premiados pela estratégia que implementaram de turismo sustentável no arquipélago. Que boas práticas podem ser replicadas em Portugal e em outras geografias do exemplo açoriano?
Os Açores aprenderam com as más experiências da massificação do turismo em Portugal nos anos sessenta e setenta. O seu Turismo é orientado para preservar a sua riqueza natural e cultural e orientado paras públicos e países que privilegiam esta vertente, sejam os nórdicos, sejam da América do Norte. Neste sentido, observando os territórios, sobretudo as Costas alentejana e vicentina, e seja no interior, de Trás-os-Montes ao Alentejo, o seu exemplo é uma inspiração e grandes projetos estão a ser desenvolvidos nestas regiões, pelo que importa trocar boas práticas.

 

Que políticas sociais podem ser promovidas para criar um turismo inclusivo?
A política pública, quando há falhas de mercado (no caso, grupos sociais que por várias razões não viajam), é determinante, dinamizando essa procura, sobretudo quando ela não é solvente no mercado, mas apoiando as ofertas que nascem, e que são dificilmente rentáveis pela forte sazonalidade. Desde os benefícios fiscais aos apoios ao investimento, mas sobretudo ao apoio à procura destes públicos, inseridos em intervenções de inclusão social especificas, as políticas sociais são determinantes. O caso das termas é internacionalmente exemplar, ou dos apoios como o 55+, que a Inatel promove, apoiada pelo FSE, são bons exemplos.

 

Que papel deve ter o turismo no desenvolvimento das comunidades e dos territórios? O que deve fazer de uma forma integrada e participativa?
Cada vez mais o turismo vive de experiências e das emoções únicas que elas promovem. Ser diferente é a principal fonte de atração. Na cultura, muito, nos territórios e na sua natureza, também muito, na gastronomia, na sociabilidade das comunidades com os turistas, está muito, hoje, e mais no futuro, a principal caraterística competitiva turística dos locais. O turismo tem de estar associado a quem faz cultura, economia e preserva a natureza desses territórios. Destruindo-os, destrói-se a si próprio.

 

Que papel desempenha a Fundação Inatel na promoção de um turismo sustentável?
A Fundação sempre os fez nos seus 87 anos de existência. As associações culturais e humanistas estão ligadas a nós desde sempre sobretudo no interior, na ruralidade, nos bairros operários das cidades, os nossos hotéis, antes Centros de Férias, existem em territórios que só a Fundação os consegue manter (Graciosa, Linhares da Beira, Entre-os-Rios, são exemplos), as comunidades rurais são aquelas que mantêm e combatem a desertificação do interior e preservam a Natureza. Os turistas vão porque há cultura, gastronomia, vida no Portugal rural. Essas associações desportivas, etnográficas, humanistas, bandas filarmónicas, etc., turismo e lazer para todos, que são mais de duas mil as que fazem parte da rede Inatel, tiveram sempre na Inatel o parceiro presente, e continuaram a ter, mesmo em tempos que a ideia de turismo sustentável e da importância da diferenças e dos diálogos interculturais e intergeracionais eram menos potenciados na atividade turística. E não só. Politicamente relevantes, quando os nacionalismos xenófobos e a guerra estão presentes. Sem interação entre povos, cada um aceitando o outro, não há paz, nem turismo, nem planeta.

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