António Ceia da Silva foi eleito presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo há pouco mais de um ano. Ambicioso, inovador e habituado a fazer milhares de quilómetros por mês, o responsável máximo da CCDR Alentejo faz em entrevista um balanço do mandato, fala do presente e aponta o futuro.
Foi eleito, em outubro de 2020, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo. Que balanço faz de mais de um ano no cargo?
O balanço é, obviamente, satisfatório. Criámos dinâmicas próprias em termos da Comissão de Coordenação, conseguindo uma forte ligação a todos os agentes do território – autarquias, empresários, academias. Por isso, eu diria que houve, em todas as áreas, a nível de autoridade de gestão, um aumento da taxa de execução, na qual estamos muito próximo dos 60%, que é a meta que pretendíamos atingir no final deste ano. Houve, portanto, um acréscimo muito significativo dessa taxa de execução ao nível do PT 2020.
Elaborámos também as bases globais do próximo quadro comunitário de apoio. Aprovámos a estratégia regional no Conselho de Inovação e ainda interviemos naquilo que é um concelho, de certa forma, inter-regional, no qual estão presentes os elementos das diversas áreas. Ou seja, entendemos que a Comissão de Coordenação deve ter um papel de coordenação política ao nível dos diversos setores, logo, deve assumir essa posição no âmbito da região e temos feito isso na saúde, no emprego, no desporto, na cultura, no turismo, áreas em que tem havido uma procura de articulação e de coordenação política global a nível da região.
Uma nota ainda para os projetos que a CCDRA lidera a nível europeu, como é o caso do AURORAL, cujo objetivo é a revitalização das comunidades mais pequenas, as comunidades rurais. Portanto, eu diria que temos feito um esforço significativo. Eu faço 15 mil quilómetros por mês, no sentido de estar junto dos agentes e dos operadores.
Eletrificação da linha ferroviária até Beja, tornar o aeroporto de Beja comercialmente ativo ou fazer de Sines um grande porto internacional são prioridades na região. Como estão estes projetos?
A minha frase tipo é: "Temos de deixar de pensar pequenino." A rotunda é importante, mas temos de ter grandes projetos que criem dinâmicas próprias no território. Nós temos participado ativamente na prossecução de alguns destes projetos. Um projeto que já está garantido o financiamento é a eletrificação da linha que vai de Casa Branca a Beja e depois o ramal até ao aeroporto, decisivo do ponto de vista de dinâmica do território. A eletrificação da linha do Leste também já está contratualizada a nível do Plano de Recuperação e Resiliência, outra das áreas decisivas para a dinâmica do Alto Alentejo. Há a barragem do Pisão, que era uma ambição com mais de seis décadas!
Está também contratualizada a ligação de Montalvão, no concelho de Nisa, e Cedillo. Trata-se de uma ponte transfronteiriça que vai permitir ligar o Alto Alentejo à Estremadura espanhola, o que significa uma redução imensa de quilómetros e que vai trazer dinâmica económica naquela área. Está também em construção a linha que é a bitola do TGV, que liga Évora a Elvas/Caia. São 250 a 300 quilómetros e mais alguns quilómetros na área do Poceirão, permitindo que a ligação de Lisboa à fronteira fique em uma hora, o que é apelativo para a fixação de empresas e de jovens. São projetos importantes, além da rotunda, assinada há dias, que permitirá a ligar Portalegre ao futuro Centro de Instrução de Praças da GNR. Este é um conjunto de projetos ambicionados há décadas e que finalmente estão a avançar.
Que outros projetos gostaria de ver concretizados enquanto presidente da CCDR Alentejo?
Temos de criar dinâmicas no território para os diversos setores. A região não tem só um setor, como por exemplo o Algarve tem o turismo. Mas, obviamente, a componente agroalimentar é muito forte neste território. O turismo, a cultura, o património, são importantes. Portanto, há que criar fatores de diversidade da atividade económica. É uma luta nossa e para isso temos apostado no espaço de coworking para permitir o regresso dos jovens que perdemos estes anos.
Queremos que os jovens que se fixaram em Lisboa, por causa da sua qualificação académica, possam regressar à região, mantendo o vínculo laboral com as suas empresas ou com a administração pública. Isso é algo que queremos concretizar já no próximo ano. Queremos atrair novos jovens e também atrair empresas e investigação académica.
Uma boa medida para combater a desertificação da região e proceder à revitalização demográfica…
Desejamos o regresso daqueles que partiram às suas terras. Para isso é preciso digitalizar a região e está um concurso a decorrer para saber quais são as zonas brancas em que possa haver uma intervenção, permitindo que a região fique globalmente digitalizada. Isso é fundamental no trabalho à distância.
Também queremos criar um conjunto de empresas com forte base tecnológica, clusters importantes e inovadores como o da aeronáutica, por exemplo. E é importante que avancem as estratégias locais de habitação e que aproveitem o PRR para o seu financiamento, para que jovens e menos jovens possam fixar-se no nosso território.
Alentejo 2020: importante para o território
Até ao momento, o Alentejo 2020 aprovou 4.658 candidaturas. Destas, 3.904 encontram-se atualmente em execução ou já foram encerradas. Números interessantes do programa que atribui os fundos da União Europeia e que tem sido importante para a região.
António Ceia da Silva classifica este programa como "importante para o território", pois tem permitido muito a "alocação da investigação tecnológica e do apoio à academia". Permitiu, na área da saúde, a construção de "muitas unidades de cuidados continuados, centros de saúde e a requalificação de hospitais". Entre os diversos méritos do programa, o responsável da CCDR Alentejo aponta a "regeneração e qualificação urbana de muitos centros históricos" e também "o apoio às pequenas empresas" que permitiu resistir à pandemia.