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Algarve: crescimento azul ganha forma

Olhão recebeu a II Jornada de Trabalho do Atlazul, iniciativa transfronteiriça de crescimento económico baseada na preservação dos ecossistemas marinhos e na sustentabilidade ambiental que liga Alentejo, Algarve e Andaluzia.

19 de Dezembro de 2022 às 13:24
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Foram vários os players algarvios que estiveram presentes na II Jornada de Trabalho do Atlazul, iniciativa que agrupa as regiões do Algarve, do Alentejo e da Andaluzia (AAA), cujo objetivo passa por promover a aliança da costa atlântica para o crescimento azul. O evento realizou-se na delegação de Olhão do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e deu seguimento à I Jornada de Trabalho do Atlazul, realizada a 13 de julho, em Vila Real de Santo António. Se nesse encontro foi feito o diagnóstico dos problemas e oportunidades da região na perspetiva da economia azul, o exercício desta II Jornada teve como principal objetivo dar início à transição da estratégia para o plano de ação.

 

Projeto transfronteiriço para manter

Algumas dezenas de stakeholders da economia do mar formaram a plateia à qual se dirigiu, na abertura dos trabalhos, José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR Algarve), que na véspera tinha estado em Sevilha, numa reunião do Conselho da Eurorregião AAA.

 

Nesse encontro, a Andaluzia "confirmou o objetivo de manter o Atlazul" – iniciativa que foi lançada pela própria Comunidade Autónoma da Andaluzia, representada pela Junta da Andaluzia, que "reivindica e gere uma parte significativa das verbas disponibilizadas no âmbito da cooperação transfronteiriça". Nesta reunião, José Apolinário foi eleito para uma das vice-presidências da Eurorregião AAA. O mandato será válido pelos próximos dois anos.

 

"Porque morrem as amêijoas no Algarve?"

Também presente na reunião de Sevilha, na qualidade de presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, António Miguel Pina, que é igualmente presidente da Câmara Municipal de Olhão, explicou na abertura da sessão de trabalhos que o seu município é "um dos players da economia azul do Algarve", a qual se desenvolverá, em traços gerais, com "o potenciar das mais-valias do território", bem como "com o saber do IPMA". E também com "a aposta em atividades do setor primário, nomeadamente a aquacultura", assim como em "novas tecnologias, como é o caso, por exemplo, dos barcos solares" – sem esquecer a vertente "industrial".

 

O mar é uma das áreas que a CCDR Algarve considera prioritárias para canalizar as centenas de milhões de euros disponíveis para a região no âmbito do quadro comunitário de apoio Portugal 2030 e do novo Programa de Cooperação Transfronteiriça INTERREG Espanha Portugal (POCTEP) 2021-2027, que cofinancia o Atlazul. O turismo é e continuará a ser a primeira atividade económica da região, mas António Miguel Pina lembra que "a economia azul estará sempre subjacente" aos novos investimentos comunitários, que visam a diversificação económica da região.

 

O autarca de Olhão deu o mote para a jornada ao sublinhar a importância de os stakeholders "participarem ativamente na construção das medidas de que o setor precisa". E deu um exemplo centrado num problema recente da economia local. "Porque morrem as amêijoas no Algarve? É preciso investigar, mas para se fazer esse estudo são precisos fundos e a verdade é que não tem havido investimento suficiente por parte do Estado nesta área", alertou.

 

Visão estratégica

A apresentação dos objetivos, do funcionamento e dos resultados esperados da II Jornada de Trabalho esteve a cargo da Fórum Oceano – Associação da Economia do Mar. Protagonista maior na dinamização deste projeto e atual consultor estratégico da Fórum Oceano, Rui Azevedo apresentou a definição da visão estratégica do Atlazul em resultado da identificação prévia de áreas de interesse comum e com potencial de cooperação, bem como do estabelecimento de princípios gerais para a cooperação transfronteiriça AAA.

 

À letra, a visão para o Atlazul é "um sistema especializado e sustentável de inovação e de empreendedorismo nos domínios da valorização dos serviços de ecossistema, dos recursos marinhos e das indústrias navais". Substituído nas funções de secretário-geral da Fórum Oceano em setembro deste ano pelo gestor e ex-deputado Rúben Eiras, depois de 12 anos a desempenhar aquelas funções, Rui Azevedo apresentou as nove linhas de orientação estratégica retiradas da I Jornada de Trabalho.

 

Entre essas linhas de orientação constam, por exemplo, a valorização dos serviços de ecossistema de carbono azul e a sua compatibilização com outras atividades, nomeadamente a produção de algas e a aquacultura; a qualificação e o escalar da cadeia de valor da aquacultura sustentável, incluindo a produção de algas; e a promoção da sustentabilidade da pesca e a melhoria das condições de segurança.

 

A intervenção de Rui Azevedo prosseguiu com a apresentação das fichas de projeto que os atores económicos locais receberam para, de acordo com as linhas de orientação estratégica traçadas, fazerem chegar as suas propostas.  A possibilidade de cooperação transfronteiriça AAA era um dos dez pontos incluídos em cada ficha.

"O Atlazul é um sistema especializado e sustentável de inovação e de empreendedorismo nos domínios da valorização dos serviços de ecossistema dos recursos marinhos e das indústrias navais" Rui Azevedo, consultor estratégico da Fórum Oceano


Players da região dão o seu contributo
Entretanto, refira-se que dezenas de parceiros económicos já entregaram fichas de projeto que visam enriquecer a base económica do Algarve numa lógica de crescimento azul, tendo defendido essas propostas a partir da plateia do auditório da delegação olhanense do IPMA. Outros agentes económicos apresentaram as suas propostas sem ainda terem submetido as suas fichas de projeto.

 

Os players do território vão ter até dia 31 de dezembro para entregar as suas fichas, de modo que os dados recolhidos possam ser trabalhados já no início do próximo ano, foi anunciado.

 

Adelino Canário, diretor do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve (UAlg), foi o primeiro stakeholder a tomar a palavra, debruçando-se sobre o "desafio complicado que o turismo massivo coloca em zonas protegidas", como é o caso da "conjugação dessa proteção com barcos a navegar a alta velocidade". Entre as preocupações veiculadas pelo professor catedrático também esteve "a valorização dos produtos de pescado", nomeadamente a aposta em "novos produtos e na sua rotulagem com métodos modernos".

 

Por sua vez, Rui Santos, investigador do CCMAR da UAlg, identifica a existência de um nicho entre todos os stakeholders no restauro de ecossistemas, questionando "quais as entidades que vão fazer esse restauro e quem irá financiar estas intervenções a médio e longo prazo". A necessidade de criação de um centro que ocupe esse nicho é a proposta de Rui Santos, acrescentando que a solução poderá passar pela venda de créditos de carbono azul a grandes investidores que pretendam mitigar a sua pegada carbónica. Esses créditos, acrescenta, vão ter "um crescimento exponencial nos próximos anos". No entender de Rui Santos, a criação deste centro regional de excelência deve ser discutida com outras regiões no âmbito do Atlazul, na certeza de que o Algarve seria a região "ideal" para o receber.

 


Descarbonização da economia azul

Outro dos projetos apresentado em Olhão foi o CIANO, iniciativa da Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente (CPADA). Trata-se de um projeto de sensibilização para a descarbonização do setor, através da divulgação e demonstração de estratégias de descarbonização e offsetting no domínio da economia azul, incluindo nas embarcações de pesca, turismo e transportes marítimos.

 

Em representação da CPADA, Cláudia Sil pretende que os operadores da economia azul estejam atentos ao crescimento azul com agenda ambiental – noutras palavras, ao "azul verde". "A solução para reduzir o consumo de energias é a descarbonização. E pretendemos promover opções simples e rápidas de descarbonização. Vamos operacionalizar este projeto e executá-lo pela via da proximidade, porta a porta, nos operadores da economia azul, antes do offsetting."

 

Aquacultura na ria de Alvor

Propostas inovadoras e sustentáveis na área das ciências do mar, por parte dos atores económicos, não faltaram. António Vieira, responsável máximo da Aqualvor, empresa de aquacultura localizada na ria de Alvor, anunciou a sua disponibilidade para dar apoio a projetos na área da sustentabilidade à aquacultura e também no repovoamento de zonas de reservas que se encontrem deficitárias em várias espécies.

 

"Podemos dar apoio numa função dupla: em zonas de défice de biodiversidade e que precisam de estrutura para atrair larvas e criar vida, como é o caso das pradarias, e também nos espaços offshore – temos espaço para produção de algas e diversos corais."

"A venda de créditos de carbono azul a grandes investidores que pretendam mitigar a sua pegada carbónica vai ter crescimento exponencial nos próximo anos"  Rui Santos, investigador do CCMAR da UAlg

"Trabalho de casa feito"

No encerramento da iniciativa, Rui Azevedo manifestou-se "agradavelmente surpreendido com o número de projetos apresentados e fichas que já foram entregues". "Ficámos com uma matriz de ideias que tentaremos organizar e sistematizar dentro das linhas de orientação estratégica. Em breve faremos reuniões com o Alentejo e a Andaluzia para consubstanciar essa estratégia e formalizá-la num documento", detalhou o consultor estratégico da Fórum Oceano, assumindo a intenção de que o programa de cooperação Atlazul fique fechado até junho de 2023. "Estas jornadas de trabalho confortam a região do Algarve: o trabalho de casa está feito", rematou.

 

Por seu turno, José Apolinário, presidente da CCDR Algarve, agradeceu a Rui Azevedo e à Fórum Oceano a dinamização que tem sido conseguida neste projeto. E expressou a vontade de que os agentes de desenvolvimento do setor económico azul continuem a trilhar "um caminho de participação e interação" para defender "o valor da economia azul no contexto regional e nacional".

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