Todos os cursos são importantes e contribuem para desenvolver a nossa sociedade. Existem, todavia, cursos com mais "saídas" do que outros. Assim, quisemos saber quais são as áreas em Portugal que têm maior taxa de empregabilidade e contactámos a Kelly Services, importante empresa global de recrutamento e sourcing. Quem respondeu às nossas questões foi Miguel Guedes, consultor RH Sénior | Recrutamento Especializado da Kelly.
Face ao vosso conhecimento do mercado, que licenciaturas e mestrados aconselharia aos estudantes que vão agora ingressar no ensino superior? Quais são as áreas em que existe mais oferta de emprego?
De acordo com as mais recentes estatísticas portuguesas e no que tem sido também a nossa experiência na Kelly Services a este nível, destacaria alguns cursos que atualmente apresentam maior taxa de saída profissional, tais como: Engenharia Eletrotécnica, Mecânica, Civil, Gestão Industrial, e, claro, Informática (hardware e software). Assim como cursos nas áreas de Marketing, Marketing Digital, Indústria Farmacêutica, Medicina, Enfermagem, Economia, Finanças, Contabilidade e Bioquímica, como sendo as opções atualmente com maior taxa de empregabilidade no nosso país, seja ao nível de licenciaturas e mestrados integrados. Os restantes cursos no portal InfoCursos apresentam alguma taxa de desemprego (0,3% - 0,5%).
Um estudante, após terminar a licenciatura, deve prosseguir a sua formação e fazer um mestrado ou uma pós-graduação?
Do meu ponto de vista, terminar uma licenciatura não é garantia de êxito profissional. Por isso, independentemente de qual seja a decisão tomada, seja a de prosseguir os estudos ou integrar o mundo de trabalho, o importante é fazer-se a diferença para não ser mais um no mercado de trabalho.
Face ao momento sem paralelo que vivemos e ao mercado cada vez mais competitivo, concluir uma licenciatura não tem de ser o fim do percurso académico. E não tem de passar inevitavelmente por um mestrado. No entanto, é inevitável hoje não nos depararmos com uma nova realidade. Muitos jovens europeus optam por tirar um ano sabático para viajar antes de começar a carreira profissional. Outros começam por trabalhar como trainees antes de se comprometerem com uma empresa.
Há, no entanto, prós e contras nas duas hipóteses. Na primeira opção, faz-se um intervalo no qual haverá a possibilidade de aprender novas línguas, novas culturas, realizar alguns cursos, e nesse intervalo de tempo até é possível que se consiga oportunidades de emprego com as quais não se contava.
No que diz respeito à segunda opção, de ir logo trabalhar a seguir a uma licenciatura, por vezes permite perceber se este é o caminho que se pretende seguir profissionalmente e onde uma pessoa se vê a construir uma carreira nos anos seguintes. Então, com base na experiência de cada um, será feita uma escolha de qual o mestrado ou pós-graduação que melhor se adequa ao próprio!
Hoje, com os cursos no formato pós-Bolonha...
... neste contexto naturalmente a licenciatura apenas em si perdeu robustez. A recomendação passa pela aposta na formação contínua e seguir assim a licenciatura com um mestrado, pós-graduação ou similar ao mesmo tempo que se integra o mercado de trabalho. Quanto ao MBA, se deve ou não ser o passo seguinte, sou da opinião que este passo apenas deve ser dado após haver uma experiência profissional de base sólida.
De que forma o mercado de trabalho mudou com a pandemia?
Estamos perante aquela que é, até à data, a maior crise do século XXI. Falamos de dois dos maiores desafios da nossa história moderna: a batalha contra uma pandemia; e a adaptação a um mundo novo que estará perante nós. Independentemente de qual seja o setor de atividade, o impacto da covid-19 é inegável e é visível na taxa de desemprego, nas desigualdades crescentes, na recessão económica e até no equilíbrio individual e familiar de cada um.
Creio ser seguro dizer que o mundo do trabalho como o conhecíamos não vai voltar ao normal e, por isso, terá de ser criado um novo normal que a médio prazo será melhor, mas que a curto prazo implicará enormes desafios para todos.
De repente, home office passou a ser uma palavra da moda. Esta pandemia impôs uma mudança sem precedentes na forma como trabalhamos, aprendemos, socializamos e vivemos. O mesmo é dizer que esta pandemia acelerou exponencialmente algumas tendências que estavam a começar a emergir na sociedade, sobretudo as tendências de trabalho, como a questão do teletrabalho e da flexibilidade laboral.
Por outras palavras, milhares de trabalhadores foram obrigados, de um dia para o outro, a exercer as suas funções em contexto doméstico, estimulando mais ainda o desenvolvimento tecnológico nas infraestruturas de rede nas mais variadas empresas. Penso que, atualmente, caminhamos a passos largos na direção de um mercado laboral cada vez mais digital!
E o que vão fazer as empresas?
Vão continuar a apostar fortemente na tecnologia, o que em alguns setores permitirá um enorme avanço da robotização do trabalho e da inteligência artificial substituindo assim muito do trabalho que ainda é executado pelos humanos. À medida que a evolução tecnológica o permita, cada vez mais os processos serão otimizados, a burocracia associada a processos ineficientes vai ser eliminada, visto que podem facilmente ser digitalizados ou geridos de forma mais automatizada e com menos intervenção humana.
O desafio fica agora do lado dos RH. Como irão conseguir manter a base cultural, o ADN de uma empresa, a cultura, os valores e os laços sociais nesta nova realidade social!