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Cidades devem “acelerar a descarbonização"

Até 2050, cerca de 70% da população mundial vai viver em ambiente urbano, onde já hoje se consome 80% de toda a energia. Especialistas defendem que o foco da transição deve estar nas metrópoles.

30 de Abril de 2024 às 12:04
Da esquerda para a direita, Miguel de Castro Neto, diretor da NOVA Information Management School (NOVA IMS), Michael Villa, diretor-executivo da smartEn, Arturo Pérez de Lucia, diretor-geral da AEDIVE e Nelson Lage, Presidente da ADENE - Agência para a Energia.
Da esquerda para a direita, Miguel de Castro Neto, diretor da NOVA Information Management School (NOVA IMS), Michael Villa, diretor-executivo da smartEn, Arturo Pérez de Lucia, diretor-geral da AEDIVE e Nelson Lage, Presidente da ADENE - Agência para a Energia.
Se em Lisboa todos os telhados fossem ocupados com painéis solares, seria possível produzir até sete vezes toda a energia que a capital consome. As contas são de Carlos Moedas, que promete pôr os telhados públicos a contribuir para a descarbonização do município, que quer ser neutro em carbono até 2030. "A pressão é maior. Temos os telhados, as fachadas, os carros para produzir energia, mas o verdadeiro desafio é que a mudança não está nas mãos do presidente da câmara. Está nas mãos de toda a população", considera Miguel de Castro Neto, um dos oradores do painel "Deep dive in Decentralized Energy Solutions".

O diretor da NOVA Information Management School (NOVA IMS) acredita que é nas cidades que "temos todas as peças do puzzle para acelerar a transição energética e a descarbonização". Desde logo, porque é ali que estão concentrados mais consumidores, produtores e onde existe capacidade de armazenamento, fatores que criam "uma excelente oportunidade" para avançar em matéria de redução de emissões. E é precisamente aos municípios que a ADENE presta apoio. "Ajudamos sobretudo com informação e a implementar os planos de ação locais", refere Nelson Lage, presidente do conselho de administração da instituição.

É precisamente nas metrópoles que vive hoje 50% da população mundial, um valor que se espera que atinja 70% em 2050, mas também onde já se consome 80% da energia mundial. Com o crescimento da mobilidade elétrica – recorde-se que em Portugal, as vendas de veículos elétricos cresceram 26,1% em 2023 –, abrem-se novas possibilidades para a produção de energia. "Solar com outras energias descentralizadas, é sobre isto que temos de pensar em conjunto com soluções de armazenamento, incluindo a energia solar que pode ser fornecida por veículos elétricos", aponta Michael Villa, diretor-executivo da smartEn.

ENERGIA DESCENTRALIZADA CAMINHA CADA VEZ MAIS PARA A INTEGRAÇÃO DE SOLUÇÕES COMPLEMENTARES, COMO MODELOS DE PARTILHA DE ENERGIA, MOBILIDADE ELÉTRICA OU ARMAZENAMENTO




Veículos elétricos: "bateria sobre rodas"

Arturo Pérez de Lucia, diretor-geral da AEDIVE, prefere olhar para os veículos elétricos como "uma bateria sobre rodas", já que o seu sistema propulsor "é capaz de interagir com a rede elétrica para acelerar as renováveis e o armazenamento", mas também a produção descentralizada. "A bidirecionalidade da recarga dos carros é um tema importante e já é real. Permite retirar energia da rede, mas, em simultâneo, injetar energia na rede. Este processo não afeta o desempenho da bateria", detalha o especialista.

Péres de Lucia usa como exemplo a ambição do Governo espanhol em matéria de mobilidade elétrica, que definiu 2030 como meta para atingir 5,5 milhões de veículos elétricos nas estradas, dos quais três milhões devem ser automóveis. "Se ao carregarmos um carro todos os dias consumimos 10 Mw, isto multiplicado por três milhões dá um consumo de 30 milhões de Mw de energia armazenada nas baterias. A produção de uma central elétrica é de 8,5 milhões de Mw por ano", afirma. Por meio do processo de bidirecionalidade, será possível "produzir energia equivalente a metade da produção de uma central elétrica", conclui.

Novo petróleo são os dados

Na era da eletrificação, o novo petróleo são os dados e o valor que representam. Michael Villa lembra que "sem o digital na o seria possível gerir o sistema energético atual" e alerta para a necessidade de aumentar, na UE, "em 130% a flexibilidade dos sistemas energéticos" para acomodar os picos de procura. O especialista aponta duas soluções possíveis: a atual, que implica um investimento na geração elétrica para acompanhar a procura, e outra centrada no consumidor e nas soluções de produção descentralizada. Esta última "é uma solução win-win para o sistema e para os consumidores porque os custos do pico de consumo são distribuídos e não recaem apenas numa fonte", detalha. Acima de tudo, ter acesso aos dados, em tempo real, sobre picos de procura é essencial.
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