Notícia
Juros da dívida a dez anos renovam mínimos de Maio de 2013
Os juros da dívida pública portuguesa estão a cair em todos os prazos, com a taxa implícita na maturidade a 10 anos a recuar pela quarta sessão. A dívida a dois anos renova mínimos de Maio de 2010.
Os investidores estão a aumentar a exposição aos activos de risco no dia em que a Irlanda leva a cabo um leilão de obrigações, pressionando as taxas que os investidores exigem para deter a dívida das economias da periferia da Zona Euro. As taxas implícitas na dívida portuguesa renovam mínimos nas diferentes maturidades.
A "yield" da dívida pública portuguesa a dez anos está a recuar nove pontos base para 5,476% e renovou um mínimo de 29 de Maio, com as obrigações a chegarem a ser transaccionadas à taxa de 5,469%, segundo as taxas genéricas da Bloomberg.
No prazo de dois anos, a descida 12,3 pontos base leva a taxa implícita nas obrigações para 2,381%, que é o nível mais baixo desde Maio de 2010. Já os juros a cinco anos recuam 8,2 pontos base para 4,190%.
Os juros da Irlanda estão a descer no dia em que o país vai ao mercado colocar dívida a 10 anos no valor de três mil milhões de euros. Neste prazo, a taxa do mercado secundário diminui quatro pontos base para 3,31%.
O país leva a cabo o leilão de dívida que marca o seu regresso ao mercado, esta terça-feira, depois de ter anunciado que vai continuar o ajustamento que iniciou há três sem a troika. Os analistas acreditam que a operação será bem sucedida. "A operação deverá registar excesso de procura [face à oferta de três mil milhões de euros] e será uma referência importante para a Irlanda e para a Zona Euro", disse o economista-chefe do Goodbody, Dermot o’Leary, à Bloomberg.
Em Espanha, os juros a 10 anos recuam nove pontos base para 3,815% e em Itália recuam 6,6 pontos base para 3,874%.
Taxas implícitas na dívida portuguesa começaram o novo ano em forte queda. Também o prémio de risco face à dívida alemã está a estreitar-se para os níveis mais baixos desde o início de 2011. A confiança dos investidores globais face à Zona Euro é decisiva, como também o é a expectativa de que Portugal escapará a um segundo resgate
Apetite dos investidores está a mostrar-se robusto
Michael Leister, do Commerzbank, nota que o Tesouro italiano teve bons resultados na operação feita a 30 de Dezembro e que esses títulos têm tido um desempenho positivo no mercado. Isso é "um bom sinal para os outros países periféricos à entrada no primeiro trimestre", diz o especialista, já que mostra que existe um apetite "robusto" por activos com maior risco. Algo que é comprovado também pelos preços no mercado secundário. É comum que os investidores partam com "folha limpa" para um novo ano de investimentos e, dado que têm existido comentários favoráveis por parte dos analistas, os países da chamada "periferia" da Zona Euro, entre os quais Portugal, estão beneficiar desse fluxo.
Dados económicos têm sido positivos na "periferia"
A crescente confiança dos investidores tem por base os últimos dados económicos que saíram nos países do Sul da Europa. Os índices avançados PMI (índices de gestores de compras) surpreenderam pela positiva no sector industrial de Espanha e Itália, diz Michael Leister, do Commerzbank. "A par da forte queda no desemprego em Espanha em Dezembro, isto indica que as economias estão a sarar". O analista afirma que "as melhorias na situação económica serão cruciais para continuar a atrair investidores estrangeiros para os países da periferia". Até porque "melhores perspectivas para o crescimento fazem com que sejam menos prováveis novos cortes de 'rating'", acrescenta.
Data de referência na avaliação do BCE já passou
O Commerzbank acredita que pode existir outro factor que tem feito aumentar o apetite dos investidores pela dívida dos países do Sul da Europa, que pagam rendibilidades maiores do que os países do centro. Michael Leister assinala que o último dia de 2013 é a data que servirá de referência para a avaliação à qualidade dos activos que o BCE promove ao longo dos próximos meses. Serão as exposições que os bancos tinham nessa data que contarão para a análise, pelo que Michael Leister acredita que os bancos estão em melhor condição para suportar os emitentes soberanos respectivos, ou seja, comprando a dívida dos países respectivos no mercado e nas emissões.
Analistas dizem que Portugal não terá novo resgate
No caso português, além das expectativas favoráveis quanto aos comentários que as agências de "rating" vão emitir em breve, os investidores estão a apostar que o País escapará a um novo resgate que poderia trazer o risco de um "perdão" de dívida, aos olhos dos investidores. "Existem ainda mais questões do que respostas quando se fala em Portugal, mas a boa notícia é que o risco de uma reestruturação de dívida diminuiu muito nos últimos tempos", afirma Nicholas Spiro, da consultora Spiro Sovereign Strategy. Um programa cautelar continua a ser o mais provável aos olhos dos especialistas, algo que implicará um escrutínio da situação portuguesa que agrada à maioria dos investidores. Edgar Caetano