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Risco da dívida portuguesa dispara para máximo de sete meses

Depois da forte subida de quinta-feira, os juros da dívida portuguesa a 10 anos estão de novo em alta e em contra-ciclo com as restantes obrigações soberanas europeias. O prémio de risco já está em 350 pontos base.

Miguel Baltazar
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O risco da dívida portuguesa, medido pelo diferencial entre os juros que os investidores exigem para comprar dívida portuguesa em detrimento da alemã, disparou esta sexta-feira para máximos de sete meses.

 

Este agravamento surge numa sessão em que a "yield" da dívida pública portuguesa está de novo em alta, contrariando a tendência de alívio registado na restante dívida europeia.

 

Os juros da dívida portuguesa a 10 anos agravam-se em seis pontos base, para 3,49%, atingindo assim um novo máximo desde 27 de Junho (período de turbulência nos mercados devido ao referendo que ditou o Brexit). Em Espanha o juro da dívida a 10 anos desce 1 ponto base para 1,07% e na dívida italiana com a mesma maturidade a "yield" desce 2 pontos base para 1,31%.

 

Na Alemanha o juro das bunds a 10 anos cede 4 pontos base e, de acordo com as taxas genéricas da Bloomberg, regressou a valores negativos (-0,009%), pelo que o risco da dívida portuguesa está esta sexta-feira em máximos de 12 de Fevereiro, em redor dos 350 pontos base.

 

No espaço de pouco mais de uma semana o prémio de risco da dívida portuguesa agravou-se em 50 pontos base, já que a 8 de Setembro a "yield" das obrigações do Tesouro a 10 anos situava-se abaixo dos 3%.

 

De acordo com a Bloomberg, a dívida portuguesa apresenta os piores retornos na Europa, com uma rendibilidade negativa superior a 1% no prazo de um ano. Esta sexta-feira, 16 de Setembro, a agência de rating S&P tem agendada uma possível revisão a nota atribuída à dívida nacional, que está actualmente em BB+ (grau de não investimento) e com perspectiva estável. 

 

Pressão do BCE e CFP

 

Na sessão de quinta-feira, os juros da dívida portuguesa a 10 anos tinham disparado 16 pontos base, liderando as subidas entre os periféricos. Hoje é a oitava sessão de agravamentos das últimas onze, depois de há uma semana o Banco Central Europeu – que tem as obrigações portuguesas entre os activos do seu programa de compras – ter deixado inalterada a sua política monetária, quando os investidores aguardavam uma extensão temporal do plano de estímulos.

 

Na quarta-feira o Tesouro português teve de pagar taxas mais elevadas para se financiar em duas emissões de longo prazo – 7 e 21 anos – levantando 750 milhões de euros (o limite mínimo esperado) mas com a procura a voltar a superar a oferta. Até agora, o Estado já garantiu quase 90% do financiamento previsto para todo o ano. 

 

"Nos últimos dias, toda a dívida europeia viu os prémios de risco aumentar. A dívida portuguesa seguiu essa tendência e, como a economia nacional se encontra numa posição mais frágil, o risco agrava-se mais", explicava esta quarta-feira Filipe Silva, director da gestão de activos do Banco Carregosa.

 

O forte agravamento dos juros na quinta-feira coincidiu com o dia em que o Conselho de Finanças Públicas reviu em baixa a sua expectativa de crescimento da economia portuguesa – de 1,7% para 1% - e piorou a estimativa para o défice – para os 2,6% -, avisando que a estratégia de crescimento do Governo não funciona.

"Qualquer tipo de notícias destas neste momento e que tenham a ver com a situação orçamental de Portugal, é certamente um problema para o mercado," afirmou à Reuters o analista Orlando Green, do Crédit Agricole.

 

Esta quinta-feira o Wall Street Journal alerta que alguns governos europeus – entre os quais Portugal – podem ter de vir a pagar um pouco mais pelo seu financiamento nos mercados devido à incerteza criada quanto à acção dos bancos centrais em matéria de estímulos.

 

"Vamos provavelmente ver as yields e os custos de financiamento a subirem nos próximos meses, porque as políticas dos bancos centrais estão a criar alguma incerteza o que, por sua vez, desencadeiam movimentos de venda," disse ao jornal Jens Peter Sorensen, da Danske Bank. Os países periféricos – como Portugal e Itália – serão os mais atingidos se os custos de financiamento aumentarem significativamente, adverte.

  

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