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Putin ameaçou e cumpriu. Rússia deixa de vender crude a quem impõe tecto aos preços

A restrição à venda de crude russo "aplica-se aos contratos de fornecimento que apliquem, direta ou indiretamente, o mecanismo de estabelecimento de um tecto aos preços", diz o decreto publicado e assinado hoje por Putin.

Lusa / EPA
27 de Dezembro de 2022 às 17:58
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O presidente russo baniu as exportações de crude e de produtos petrolíferos aos compradores estrangeiros que adiram ao limite máximo de preços imposto pelo G7 e pela União Europeia no âmbito das sanções a Moscovo pela invasão da Ucrânia. Vladimir Putin já tinha ameaçado que o faria e assim o fez.

 

A restrição à venda de crude russo "aplica-se aos contratos de fornecimento que apliquem, direta ou indiretamente, o mecanismo de estabelecimento de um tecto aos preços", diz o decreto publicado e assinado hoje por Putin. "A proibição aplica-se em todas as etapas do processo até ao comprador final", refere o documento, citado pela Bloomberg.

 

Estas restrições nas exportações de crude russo entram em vigor a 1 de fevereiro, ao passo que a proibição de venda de produtos petrolíferos entra em aplicação mais tarde, em data ainda a determinar pelo governo russo. Segundo o decreto, o boicote manter-se-á pelo menos até julho de 2023.

 

O decreto de Putin não enuncia os países para onde o crude e os produtos petrolíferos russos não poderão ser exportados, salienta a Bloomberg. A maioria dos países que impôs o tecto aos preços já suspendeu as compras a 5 de dezembro, pelo que o impacto inicial da medida russa poderá não ser forte.

 

Foi precisamente a 5 de dezembro que se implementou a imposição de um preço-limite de 60 dólares por barril – acordado pela UE e G7 – ao crude proveniente da Rússia.

 

A ideia é que este tecto cause mossa a Moscovo, reduzindo as suas receitas de exportação. Mas será que isso vai suceder? O Ministério russo da Energia disse que o impacto destas medidas seria limitado, se bem que o escoamento do seu crude para outros importadores, como a China e a Índia, deva ficar mais caro devido à alteração das rotas marítimas.

 

Por outro lado, o crude de referência russo – dos Urais – está a ser comercializado abaixo desses 60 dólares, pelo que muitos observadores estão convictos de que o efeito não será o desejado pelo ocidente.

 

Ainda assim, a produção de crude da Rússia poderá cair entre 500.000 e 700.000 barris por dia já em inícios do próximo ano, o que corresponderá a cerca de 5%-6% da sua atual produção, afirmou na sexta-feira o vice-primeiro-ministro do país, Alexander Novak.

 

"Tentaremos encontrar algum terreno comum com as nossas contrapartes para evitarmos esses riscos", acrescentou Novak, citado pela Bloomberg. "Mas, neste momento, preferimos correr o risco de ter uma menor produção do que aceitarmos a política de vender o crude com base nesse tecto imposto".

 

Além do mais, "a Rússia também pode utilizar a sua própria frota de petroleiros para transportar crude, o que lhe permitiria contornar completamente as sanções. Há também uma grande probabilidade de que sejam implementadas formas mais criativas de contornar as sanções, como foi o caso no início deste ano em alguns países europeus", sublinhavam recentemente os analistas da XTB, numa análise a que o Negócios teve acesso.

 

De qualquer das formas, este tecto deverá ser revisto a cada dois meses "para assegurar que se mantém num nível pelo menos 5% inferior ao preço médio de mercado do crude russo", acrescentavam.

 

Poder-se-á perguntar: mas se a União Europeia está a abrir mão de grande parte do crude que importava da Rússia, porquê um "price cap" neste momento? É que esse tecto vai funcionar não só para as seguradoras europeias (que validam contratos de fornecimento e transporte) mas também para as empresas do Velho Continente que têm negócios petrolíferos fora da UE –, que deixam então de poder celebrar novos acordos que envolvam um preço do crude acima de 60 dólares por barril. E Moscovo acaba, assim, penalizado de duas formas, uma vez que parte do petróleo que vende fora da Europa passa amiúde pelas mãos de seguradoras europeias, podendo por isso ter de mudar as rotas dos seus petroleiros.

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