Notícia
Brent pode chegar aos 100 dólares até final do ano
Os preços do petróleo estão a negociar em máximos de 10 meses, tanto em Londres como em Nova Iorque, e cada vez mais analistas veem a referência europeia a negociar na casa dos três dígitos ainda em 2023.
Os preços do petróleo têm estado a subir de forma sustentada nas últimas semanas, levando a que muitos analistas estejam já a prever um rápido “sprint” até ao patamar dos 100 dólares por barril, regressando assim a níveis do início da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022.
Atualmente, as cotações do “ouro negro” negoceiam em máximos de novembro do ano passado, com o Brent do Mar do Norte – crude de referência para as importações europeias – a rondar os 94 dólares. A ajudar está o facto de a Arábia Saudita ter prolongado até ao final do ano um corte adicional de mil milhões de barris por dia da sua oferta, que se junta à redução que já tem estipulada no âmbito do acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+).
Em maio passado, a OPEP+ fechou ainda mais as torneiras do crude que entra no mercado, e desde julho que os sauditas e russos (estes em menor medida, na ordem dos 300 mil barris por dia) estão a aplicar um corte extra e unilateral. É sobretudo esta ação de Riade que tem pressionado mais os preços nas últimas sessões. O cartel e os seus parceiros têm agendada uma nova reunião ministerial para 4 de outubro, com os olhares do mercado a começarem a virar-se para a decisão que poderá ser anunciada – e que deve ser a de prosseguir com a menor oferta.
Apesar de haver cartas no baralho que podem mudar este cenário de fortalecimento dos preços –, como a menor procura pela China devido à lenta retoma económica ou uma postura mais agressiva por parte da Fed devido às renovadas pressões inflacionistas, levando a uma apreciação do dólar –, o certo é que muitos analistas começam a ver a fasquia dos 100 dólares mais próxima.
“Continuamos a crer que a Arábia Saudita só irá atenuar o seu corte quando estiver convicta de que o mercado petrolífero está estável o suficiente, ou seja, quando os ‘stocks’ globais de crude forem inferiores aos níveis atuais”, sublinha Giovanni Staunovo, analista de “commodities” do UBS, numa análise a que o Negócios teve acesso. “Com a OPEP+ a focar-se numa abordagem cautelosa, proativa e preventiva, é provável que o grupo vá monitorizando de perto os dados que forem chegando da China, cuja retoma económica continua a preocupar, bem como o impacto da política monetária restritiva na atividade económica da Europa e dos EUA”, aponta.
Sobre se o petróleo poderá em breve chegar aos 100 dólares por barril, o estratega do banco suíço sublinha que há vários cenários possíveis. E que para o crude chegar a esse patamar basta haver perturbações adicionais da oferta ou um robusto pacote de estímulos da China. “E manter-se-á acima dos 100 dólares? Isso não creio, já que estimularia muito o crescimento da oferta fora da OPEP+ [dos países produtores que iriam querer aproveitar a boleia dos preços altos para engordarem as suas receitas] e acabaria por pesar no crescimento da procura por petróleo”, explicou Staunovo ao Negócios.
Talvez o crude não se aguente muito tempo a negociar na casa dos três dígitos, mas parece não haver dúvidas de que chegará a esse patamar. Além de Giovanni Staunovo, muitos outros analistas veem esse preço no horizonte próximo. Nadia Martin Wiggen, estratega na Svelland Capital, disse ao The New York Times que acredita que em breve o Brent poderá atingir os 100 dólares. Também os analistas do Standard Charteres apontam na mesma direção, sublinhando que o crude de referência da Europa pode chegar a esse valor já no quarto trimestre.
Nem todos estão convictos de que essa fasquia será atingida ainda em 2023. É o caso do JPMorgan e do Goldman Sachs, que se mostram mais céticos quanto à rapidez da subida. E isto porque suspeitam que os sauditas não deixarão os preços escalarem demasiado, com receio de penalizarem a frágil retoma chinesa ou de desencadearem uma nova onda inflacionista que leve a Reserva Federal norte-americana a ser de novo mais agressiva na subida dos juros diretores, refere a Bloomberg.
No entanto, a Agência Internacional da Energia (IEA) sublinhou esta semana que os inventários mundiais de petróleo caíram “fortemente” no mês passado e alertou para um “significativo défice da oferta” no quarto trimestre – o que é um fator de sustentação da matéria-prima. Resta ver se tudo o resto se mantém como está ou se entram novas variáveis em jogo, capazes de mexer o tabuleiro das cotações.
Analista de matérias-primas no UBS
Estratega na Svelland Capital