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As coisas estão mesmo mal quando até a procura de café está em risco

No Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, a produção acelerou nos últimos anos com a alta mecanização, e não há sinais de reversão dessa tendência.

17 de Agosto de 2019 às 21:00
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O momento é realmente muito difícil para os produtores de café. Os preços estão em baixa, as colheitas do Brasil aumentam o excesso de oferta global e os pequenos agricultores da América Central fogem do setor. Agora, o mal-estar económico que abala os mercados financeiros traz outra má notícia a esta já frágil matéria-prima.

 

Pode ser difícil acreditar que o cenário económico desempenhe um papel importante na procura por café, uma vez que os viciados em cafeína geralmente podem obter a sua dose diária pagando relativamente pouco. Mas, embora a maioria das pessoas não renuncie à sua adrenalina matinal para começar o dia, as chávenas extras podem parecer um luxo e acabam por ser eliminadas quando é hora de apertar o cinto.

 

"A perspetiva para a procura não é muito promissora", disse Hernando de la Roche, vice-presidente sénior da INTL FCStone, em Miami, que comercializa café há mais de três décadas. "Em geral, uma recessão reduziria a procura por café, especialmente nas cafeterias. Pessoas que costumavam tomar uma ou duas chávenas pela manhã em casa e, depois, talvez uma fora, provavelmente vão abrir mão da última."

 

É uma má notícia para um mercado que já está a vacilar.

 

Os preços do café arábica, a variedade suave preferida por empresas como a Starbucks, acumulam uma queda de quase 10% em 12 meses e, em maio, atingiram o nível mais baixo desde 2005. Na semana passada, a Organização Internacional do Café elevou a previsão de excedente para o mercado global, que também inclui o café robusta. Na quarta-feira, a Olam International, uma das maiores traders de café da Ásia, culpou os preços mais baixos do café e vendas mais baixas pela queda na receita da unidade onde o café se engloba.

 

A desvalorização dos preços atinge em cheio os produtores de café, especialmente em países com custos mais elevados, como Honduras, El Salvador e Guatemala. A concorrência tornou-se tão forte e os preços tão baixos que a produção de café tornou-se insustentável para muitos pequenos produtores.

 

Enquanto isso, no Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, a produção acelerou nos últimos anos com a alta mecanização, e não há sinais de reversão dessa tendência. A desvalorização do real em relação ao dólar também estimulou as exportações do país. Os exportadores estão prontos para vender quando houver oportunidade, dadas as preocupações sobre a procura. Na Colômbia, o segundo maior produtor de arábica, o peso também está mais fraco em relação ao dólar. Os carregamentos de café geralmente são precificados em dólar.

"Com a volatilidade criada pela guerra comercial, as pessoas tornaram-se mais cautelosas", disse Hernando de la Roche.

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