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Há bancos... e bancos

Sim, há bancos e bancos, e os norte-americanos, britânicos e irlandeses foram os que mostraram, quando a maré baixou, que "andavam a nadar sem calções", como diz Warren Buffett e acusou, no fim da semana passada, o presidente do BPI, Fernando...

18 de Dezembro de 2009 às 09:31
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Sim, há bancos e bancos, e os norte-americanos, britânicos e irlandeses foram os que mostraram, quando a maré baixou, que "andavam a nadar sem calções", como diz Warren Buffett e acusou, no fim da semana passada, o presidente do BPI, Fernando Ulrich.

Mas em Portugal, e aqui contrariando Fernando Ulrich, também é preciso mudar alguma coisa.

Mudança que é menos nos bónus dos banqueiros e mais nos incentivos (perversos) que fazem parte da remuneração de alguns funcionários da banca.

"Os americanos que mudem, os ingleses que mudem", afirmou Fernando Ulrich, defendendo que não vê qualquer necessidade de mudar, "nem uma vírgula", na sua expressão, o modelo de governação e a política de remunerações. Foi a "atitude e ganância" dos banqueiros americanos e britânicos que ditou a crise.

Os factos confirmam dramaticamente as afirmações de Fernando Ulrich. O problema começou nos Estados Unidos e muitos dos abalos que se viveram na Europa tiveram origem naquilo que construíram os engenheiros financeiros norte-americanos, com o beneplácito das autoridades.

Os casos que ocorreram em Portugal estão mais perto de "casos de polícia". Mais no BPN que no BPP, é na violação das regras que está boa parte da origem dos problemas que Portugal enfrentou no sistema financeiro. As regras estavam lá. E como se tem dito, o sistema bancário português, face até ao grau de endividamento que tinha e tem, resistiu muito bem nos momentos dos maiores abalos, como o de Setembro de 2008, e continua a revelar elevada capacidade para enfrentar uma conjuntura que se mantém difícil.

Mesmo em Espanha, onde a crise está a ser muitíssimo mais violenta que em Portugal, o sistema financeiro consegue passar por estes abalos sem problemas de maior. E os espanhóis viram rebentar uma "bolha" imobiliária, com todo o crédito que isso significa.

Por tudo isto, a Europa continental, a "velha Europa", como lhe gostava de chamar George W. Bush, não tem muito para mudar. Os bancos foram em geral geridos como se exige a um banqueiro. Não há razões para mudar modelos de governo ou de remuneração - o único banco português que se envolveu em controvérsias por causa da remuneração dos seus gestores, o Millennium BCP, tem neste momento o problema corrigido. Mais ainda. Não se percebe também porque é que o Governo se lançou na alteração da arquitectura da supervisão.

Está então tudo bem? Claro que não. Há um aspecto que merecia da parte dos gestores e das autoridades alguma atenção: falamos de salários mas não dos gestores.

Alguns bancos têm uma política de remuneração nos seus segmentos comerciais que incentiva o trabalhador a vender produtos financeiros em quantidade, sem olhar com atenção nem para o risco que isso pode representar no futuro, quer para o banco como para a confiança que o cliente tem na banca.

"O senhor do banco é que disse para fazer assim", é uma frase que se vai deixando de ouvir mas que os bancos não gostariam que desaparecesse. A confiança é o maior património do banco. É a confiança que cria bancos... e bancos.

helenagarrido@negocios.pt
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