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Gestores de fundos de ideias fixas

O esforço de redução dos custos diários é um dos resultados mais evidentes da crise financeira. Desde os governos até aos particulares, quase todos encetam tentativas de baixar o orçamento nas várias vertentes da vida.

Gestores de fundos de ideias fixas
18 de Junho de 2010 às 09:23
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Os fundos que mantém as suas apostas durante mais tempo reduzem os custos de transacção e, em alguns casos, os impostos que pagam pelos investidores


O esforço de redução dos custos diários é um dos resultados mais evidentes da crise financeira.
Desde os governos até aos particulares, quase todos encetam tentativas de baixar o orçamento nas várias vertentes da vida. Os investimentos são uma delas: baixar os custos de transacção na bolsa e as comissões dos fundos são o ponto de partida.

Todavia, nos fundos de investimento é possível ir mais longe do que as comissões. Quando querem cortar nos custos dos fundos, a maioria dos aforradores procura os que cobram menos comissões de subscrição e de resgate. Os investidores mais sofisticados procuram, ainda, a taxa global de custos dos fundos, a percentagem do dinheiro dos investidores usada para pagar as comissões de gestão e de depósito, a taxa de supervisão, os custos de auditoria e outros custos operacionais, excluindo os custos de transacção.

Porém, os custos de transacção são muito importantes para serem excluídos, por isso as sociedades gestoras também são obrigadas pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, a entidade que supervisiona o sector em Portugal, a divulgar periodicamente a taxa de rotação da carteira do fundo, a percentagem do portefólio que é transaccionada ao longo de um ano.

"Na Morningstar, pensamos que a rotação da carteira é um elemento a ter em conta na hora de investir. Em geral, gostamos dos gestores que têm uma baixa rotação e comissões reduzidas", conta Fernando Luque, editor sénior da Morningstar, uma sociedade especialista na avaliação de fundos. "A classificação Morningstar não tem em conta directamente a rotação da carteira do fundo, mas simplesmente a rendibilidade e o risco passado, apesar de, evidentemente, a rotação da carteira poder ter um impacto sobre a rendibilidade do fundo - através de maiores custos de transacção - e, portanto, sobre a classificação", explica o especialista.

Em princípio, quanto menor a rotação da carteira, menos o gestor está gastar o dinheiro dos investidores em comissões de corretagem. John Bogle, o fundador do Vanguard Group e o pai do investimento através da indexação, estimou que, no mercado norte-americano, uma taxa de rotação anual de 100% se traduz em menos cerca de 1% de rendibilidade para os investidores em resultados dos custos de transacção. É, portanto, um custo a adicionar às comissões cobradas.

Se a rotação for reduzida, as aplicações estão a permanecer mais tempo no portefólio do fundo e, logo, podem beneficiar ainda de uma tributação inferior. Na legislação em vigor, as mais-valias de acções detidas pelos fundos por mais de 12 meses não pagam imposto sobre rendimento. Além disso, na proposta de lei de revisão da tributação das mais-valias mobiliárias, já aprovada na generalidade pela Assembleia da República, o esquema mantém-se para a maioria dos fundos de investimento.

Mudar de carteira duas vezes por ano
Em 2009, os fundos portugueses negociaram, em média, o equivalente a duas vezes o valor do portefólio. Isso quer dizer que, em média, os títulos adquiridos pelos gestores de fundos ficaram cerca de seis meses na carteira. Em alguns casos, a rotação é bastante elevada: um em cada dez fundos mudou cinco ou mais vezes de portefólio ao longo do ano.

"Alguns gestores preferem manter carteiras menos diversificadas e onde mantêm as suas apostas durante um tempo alargado, só alterando a sua composição quando algo muito significativo sucede com as empresas onde estão investidos. Outros preferem ter uma gestão mais activa, procurando sistematicamente opções de investimento, mesmo que sejam de curto prazo, provocadas por movimentos do mercado, ou tentando tirar proveito do 'newsflow' diário do mercado", explica Pedro Arbués, director de investimentos em acções da Espírito Santo Activos Financeiros.

É nesta segunda tipologia que os gestores do Espírito Santo Acções América e do Espírito Santo Portugal Acções, que estão entre os que mais rodam os portefólios, se inserem. "A tipologia de gestão utilizada implica maiores custos de transacção e uma carga fiscal mais elevada", concorda Pedro Arbués, mas "os gestores, quando tomam as suas decisões, terão sempre que ter em linha de conta esta questão".

Em alguns casos, os gestores não têm outra hipótese que não seja apresentarem uma rotação elevada. Os responsáveis pelo CA Monetário foram os mais activos em 2009: a taxa de rotação - que, em todos os fundos, pode ser encontrada no prospecto simplificado - foi de 1.903,5%, o que quer dizer que as aplicações ficaram, em média, menos de três semanas na carteira. "Dada a curta duração das aplicações, a rotação é necessariamente elevada, ainda que todos os activos sejam mantidos até à sua maturidade", explicam os gestores da CA Gest, a sociedade do grupo Crédito Agrícola. Além disso, no final de Abril, perto de dois terços da carteira era composta por depósitos à ordem e a prazo em vários bancos, sobre os quais não recaem custos de transacção.

Às vezes é preciso cuidado a analisar a rotação. O Caixagest Obrigações Mais teve uma taxa de rotação média da carteira de 1.130% em 2009. Contudo, esse elevado número explica-se pelo facto de o valor da carteira ter quase quadruplicado. "Este factor, por si só, origina um maior número de transacções para manter o fundo totalmente investido, uma vez que as subscrições são efectuadas quase diariamente", explicam os porta-vozes da Caixa Geral de Depósitos.

Aproveitar a volatilidade
Os altos e baixos do mercado abrem muitas oportunidades para os profissionais que conseguem comprar numa depressão para vender num movimento altista. É por isso que 2009 foi um ano em que muitos gestores de fundos negociaram um número recorde de títulos.

O Alves Ribeiro PPR, o fundo de poupança-reforma que mais rendeu no último ano, cerca de 18%, é também um dos que mais aproveita a volatilidade do mercado. Em 2009, a taxa de rotação da carteira foi de 1.329%, apesar de os gestores manterem quase constantemente cerca de 50% do portefólio em dívida pública e menos de 10% em acções. Paulo Monteiro, director da gestão de activos do Banco Invest, diz que não teria sido mais vantajoso ter uma carteira mais estável e poupar nos custos de transacção.

"Cumpre dizer que o objectivo do fundo é rendibilizar o respectivo património e não minimizar os custos de transacção. Na análise das oportunidades de investimento, os custos de transacção são, obviamente, tidos em consideração, sendo apenas implementadas aquelas cuja rendibilidade esperada, líquida de custos, seja satisfatória, ponderada pelo risco assumido", explica o responsável. "Quanto maior a volatilidade, maior será a tendência para existirem oportunidades de negócio e, consequentemente, mais transacções na carteira", o que justifica o facto de a rotação do Alves Ribeiro PPR em 2010 continuar elevada, embora mais baixa do que em 2009.

Apesar de todas as oportunidades de curto prazo que surgiram nos mercados financeiros em resultado da elevada volatilidade, muitos gestores mantiveram-se fiéis à estratégia de comprar e manter por muito tempo. Os especialistas da Montepio Gestão de Activos são os que têm as ideias mais fixas. O Montepio Euro Energy, um fundo de acções europeias que investe exclusivamente no sector da energia, apenas transaccionou o equivalente a 7,7% do valor médio do portefólio em 2009. E, quando os gestores decidem fazer alguma operação, é normalmente para acertar o portefólio.

A maior aposta do fundo eram as acções da BP, no início de Maio, 10 dias depois do início do derrame no poço da petrolífera britânica no Golfo do México. Os gestores aproveitaram para reforçar marginalmente o investimento depois de 16 meses sem mexerem nas acções da BP. Além do Euro Energy, são vários os produtos do Montepio que negociaram menos de um metade do património em 2009: Montepio Acções Europa, Montepio Euro Telcos, Montepio Euro Healthcare, Montepio Euro Financial Services e Montepio Obrigações. Todavia, o que permaneceu mais imóvel foi o Multi Gestão Mercados Emergentes, um fundo de fundos de mercados emergentes. A taxa de rotação deste produto foi de 2,6%. Os gestores do Montepio confiam os cerca de 20 milhões de euros dos investidores aos mesmos 29 fundos de mercados emergentes.

Boa gestão de baixa transacção
Uma baixa rotação de activos não é sinónimo de boa gestão do seu dinheiro. A taxa de rotação da carteira é apenas mais um indicador à disposição dos investidores que querem fazer uma subscrição ponderada de um fundo de investimento. Para encontrar os bons fundos de reduzida rotação é preciso estudar o desempenho e o risco histórico ou confiar num especialista, como a Morningstar, que faça esse trabalho para si.

Dos fundos portugueses que tiveram uma taxa de rotação inferior a 100% em 2009, apenas três recebem cinco estrelas da Morningstar, a nota máxima da agência de avaliação de fundos. Um deles é o BPI Reestruturações, o fundo de acções global da BPI Gestão de Activos. Virgílio Garcia, o gestor responsável, procura sociedades que possam beneficiar de reestruturações operacionais ou financeiras ou que tenham algum potencial de valorização face às reestruturações do seu sector. Assumindo a taxa de rotação de 2009, o gestor mantém as aquisições durante mais de quatro anos.

Os outros dois fundos de "cinco estrelas" e de baixa rotação são o Santander Euro-Futuro Defensivo e o Santander Euro-Futuro Cíclico. Enquanto o primeiro investe em acções de sectores menos cíclicos, como os sectores eléctrico e farmacêutico, o segundo aposta em sectores dependentes do crescimento económico, como o dos transportes e do petróleo. Estes produtos exigem mais dinheiro do que é normalmente pedido entre os fundos de acções: é preciso dispor de 40 mil euros de capital para entrar no universo dos fundos Euro-Futuro do Banco Santander Totta.



Fundos que seguem em baixa rotação

Estes são os melhores fundos portugueses que menos mudaram os portefólios ao longo do ano passado. Todos eles apresentaram taxas de rotação da carteira inferiores a 100% e receberam três, quatro ou cinco estrelas dos especialistas da Morningstar





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