Notícia
Fundos que sofrem como a Cinderela
São muitos os fundos de investimento que garantem o capital investido mas que, ao toque das badaladas, se transformam em algo muito caro.
24 de Novembro de 2010 às 09:00
Todos os investidores que fizeram pedidos de subscrição do novo fundo Espírito Santo Rendimento Fixo V até às 17 horas do passado dia 12 viram como a sua taxa de rendibilidade garantida era atraente. A Espírito Santo Activos Financeiros, a sociedade gestora de activos controlada pelo Banco Espírito Santo, promete pagar uma taxa anual líquida de 3 por cento nos próximos 2 anos, um valor bastante acima da proposta da maioria dos depósitos no banco. Contudo, quando bateram as cinco badaladas desse dia, a atractividade do fundo esfumou-se, como num conto de fadas. Às 17 horas, a comissão de subscrição do Espírito Santo Rendimento Fixo V subiu de zero para cinco por cento. A Cinderela virou Gata Borralheira.
O Espírito Santo Rendimento Fixo V é o mais recente membro do grupo de fundos-cinderela, produtos que normalmente garantem o capital ou um rendimento mínimo na maturidade mas que, após um período inicial, aumentam a comissão de subscrição para taxas proibitivas. Regra geral, após uma fase sem comissão de subscrição, o custo de entrar nestes produtos salta para cinco por cento.
Actualmente, há mais de três dezenas destes fundos acessíveis aos portugueses, absorvendo 1,6 mil milhões de euros dos aforradores. Apenas as sociedade gestoras do BBVA, da Caixa Geral de Depósitos, do Crédito Agrícola e do Banco Espírito Santo estão neste negócio. O fundo-cinderela mais antigo, o Top Dividendo BBVA, foi lançado há cinco anos, tendo ganho 2,23 por cento por ano desde então.
E não viveram felizes para sempre
Na maioria dos casos dos fundos-cinderela, a beleza que desaparece simultaneamente com as badaladas não se prende apenas com a comissão de subscrição: a comissão de resgate também tende a ter uma fase de penalização. Quem quiser abandonar o conto de fadas demasiado cedo terá de pagar.
Se algum dos cerca de seis mil investidores do maior fundo-cinderela, o Caixagest Rendimento Mais, solicitar o reembolso das suas poupanças antes da sua data de liquidação, a 13 de Junho de 2016, terá de ficar 1,5 por cento mais pobre, porque é essa a comissão cobrada pelos gestores. Além disso, a garantia de capital e de rendimentos não é aplicável, isto é, o aforrador pode perder dinheiro neste fundo garantido. Actualmente, a cotação do Caixagest Rendimento Mais, que vale 200 milhões de euros, está abaixo do seu valor inicial de 5 euros de Junho de 2006.
Os fundos-cinderela não querem mais investidores, porque os activos que garantem as rendibilidades prometidas já estão comprados desde a sua constituição. Se entrasse mais dinheiro nestes organismo, os gestores teriam dificuldade em manter as promessas. Por isso, elevam a comissão de subscrição assim que o cabaz está formado, afastando os potenciais interessados. Da mesma forma, as sociedades gestoras não têm interesse na saída dos aforradores, porque ficariam com activos que garantem os rendimentos de ninguém. As comissões de resgate e, principalmente, a não aplicação das garantidas antes da maturidade libertam os gestores desse ónus.
Os fundos-cinderela até podem ser um bom negócio para quem transmite o pedido de subscrição na fase inicial e não se importa de ficar com o dinheiro imobilizado por alguns anos. Todos os outros investidores devem fugir deste conto de fadas.
À meia noite na Caixa
A Caixagest, a sociedade gestora da Caixa Geral de Depósitos, é responsável por 80 por cento dos 1,6 mil milhões de euros investidos pelos portugueses em fundos-cinderela. Estes são os mais rentáveis no último ano. Na data de transformação da comissão de subscrição, esse custo passou de zero para cinco por cento. Todos estes fundos investem em obrigações emitidas pela própria CGD cujos rendimentos estão indexados a cabazes de acções.
O Espírito Santo Rendimento Fixo V é o mais recente membro do grupo de fundos-cinderela, produtos que normalmente garantem o capital ou um rendimento mínimo na maturidade mas que, após um período inicial, aumentam a comissão de subscrição para taxas proibitivas. Regra geral, após uma fase sem comissão de subscrição, o custo de entrar nestes produtos salta para cinco por cento.
E não viveram felizes para sempre
Na maioria dos casos dos fundos-cinderela, a beleza que desaparece simultaneamente com as badaladas não se prende apenas com a comissão de subscrição: a comissão de resgate também tende a ter uma fase de penalização. Quem quiser abandonar o conto de fadas demasiado cedo terá de pagar.
Se algum dos cerca de seis mil investidores do maior fundo-cinderela, o Caixagest Rendimento Mais, solicitar o reembolso das suas poupanças antes da sua data de liquidação, a 13 de Junho de 2016, terá de ficar 1,5 por cento mais pobre, porque é essa a comissão cobrada pelos gestores. Além disso, a garantia de capital e de rendimentos não é aplicável, isto é, o aforrador pode perder dinheiro neste fundo garantido. Actualmente, a cotação do Caixagest Rendimento Mais, que vale 200 milhões de euros, está abaixo do seu valor inicial de 5 euros de Junho de 2006.
Os fundos-cinderela não querem mais investidores, porque os activos que garantem as rendibilidades prometidas já estão comprados desde a sua constituição. Se entrasse mais dinheiro nestes organismo, os gestores teriam dificuldade em manter as promessas. Por isso, elevam a comissão de subscrição assim que o cabaz está formado, afastando os potenciais interessados. Da mesma forma, as sociedades gestoras não têm interesse na saída dos aforradores, porque ficariam com activos que garantem os rendimentos de ninguém. As comissões de resgate e, principalmente, a não aplicação das garantidas antes da maturidade libertam os gestores desse ónus.
Os fundos-cinderela até podem ser um bom negócio para quem transmite o pedido de subscrição na fase inicial e não se importa de ficar com o dinheiro imobilizado por alguns anos. Todos os outros investidores devem fugir deste conto de fadas.
À meia noite na Caixa
A Caixagest, a sociedade gestora da Caixa Geral de Depósitos, é responsável por 80 por cento dos 1,6 mil milhões de euros investidos pelos portugueses em fundos-cinderela. Estes são os mais rentáveis no último ano. Na data de transformação da comissão de subscrição, esse custo passou de zero para cinco por cento. Todos estes fundos investem em obrigações emitidas pela própria CGD cujos rendimentos estão indexados a cabazes de acções.
Como um fundo garantido está a ganhar dois dígitos O Caixagest Super Memory foi lançado no momento certo. A rendibilidade de 15,23 por cento que o Caixagest Super Memory alcançou no último ano pode surpreender muitos dos seus investidores que procuravam uma exposição de capital garantido aos mercados accionistas. Esse sucesso deve-se à boa altura em que o produto foi construído. A carteira deste fundo de investimento está aplicada em obrigações cuja remuneração anual depende da evolução de um cabaz de uma vintena de acções. No primeiro ano, que acabou no dia 1 de Outubro, apenas 3 das 20 acções não contribuíram com o máximo para a formação do juro, graças ao bom momento bolsista. O resultado é particularmente surpreendente já que, devido à arquitectura da remuneração das obrigações, os participantes do Caixagest Super Memory não podem esperar ganhar mais de 32 por cento se permaneceram no fundo desde o lançamento até à maturidade, em Outubro de 2014. |
Produtos protegidos sem síndrome da Gata Borralheira
Deixe de correr atrás das Cinderelas portuguesas. Se quer garantias ou protecção contra as perdas, procure soluções estrangeiras.
"Estamos no ano quatro da crise e os mercados ainda estão frágeis", lembrou Axel Weber, o presidente do Bundesbank e membro do conselho do Banco Central Europeu, há algumas semanas. O alerta decorre da recuperação rápida dos mercados financeiros. As bolsas accionistas escalaram mais de 20 por cento desde o início do Verão, o que deixa alguns investidores de pé atrás. Até que patamar podem ainda subir?
Para os aforradores que querem continuar ligados ao mercado mas que receiam a queda abrupta das cotações, algumas sociedades gestoras de fundos lançaram produtos que garantem perdas mínimas ou que protegem as carteiras de prejuízos eventuais. Excluindo os fundos-cinderela (veja ao lado), há apenas dois fundos em comercialização em Portugal que fazem garantias: Allianz RCM Growing Markets Protect e o Parvest Step 90 Euro. Só os gestores destes produtos estão dispostos a colocar o dinheiro dos seus bolsos caso as perdas dos investidores sejam superiores ao previsto nos prospectos.
O Allianz RCM Growing Markets Protect investe numa carteira de fundos de acções e obrigações de mercados emergentes e dos sectores das mercadorias. Anualmente, os gestores da Allianz fixam a garantia de que o valor do fundo não descerá mais de 10 por cento durante o ano seguinte. Além disso, sempre que o fundo valoriza 5 por cento, o nível de garantia é actualizado. O Parvest Step 90 Euro funciona de modo semelhante: a 16 de Dezembro de cada ano, os responsáveis limitam as perdas durante o ano seguinte a 10 por cento da cotação desse dia. Depois, sempre que o fundo valorizar 10 por cento, é estabelecida uma nova garantia.
Protecção sem garantia
Outras sociedades gestoras tentam estabelecer patamares de perdas, mas sem fazerem garantias aos investidores. É o caso dos Eurizon EasyFund Orizzonte Protetto 6, 12 e 24: no primeiro, limita-se as perdas a 5 por cento por semestre; no segundo, a 10 por cento por ano; e, no terceiro, a 15 por cento em 2 anos. Por seu turno, os gestores do ING definem que a cotação dos seus fundos protegidos não podem ir abaixo de uma percentagem do seu máximo histórico. Assim, o ING Index Link Protected Mix 70, por exemplo, não deverá descer abaixo dos 70 por cento da cotação máxima de sempre. O Schroder ISF European Defensive, que se expõe às acções europeias, procura não perder mais de 5 por cento em cada trimestre.
Apesar do conforto que podem conferir aos seus participantes, os fundos garantidos e protegidos não têm sido muito úteis. Na última meia década renderam 1,15 por cento por ano, menos do que a rendibilidade média de todos os fundos comercializados em Portugal, que foi de 1,35 por cento. Apesar disso, nos últimos 3 anos perderam 2,01 por cento, quando o universo desvalorizou cerca de 2,29 por cento.
Garantias há poucas
Apenas duas sociedades gestoras têm coragem para dar garantias de perdas máximas aos investidores.