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Exuberância e previsibilidade

Antes de confiarem nas eventuais virtudes dos bancos como consultores de finanças pessoais, os clientes que recorrem aos serviços das instituições financeiras deviam começar por melhorar a qualidade das suas decisões...

30 de Abril de 2009 às 10:00
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Antes de confiarem nas eventuais virtudes dos bancos como consultores de finanças pessoais, os clientes que recorrem aos serviços das instituições financeiras deviam começar por melhorar a qualidade das suas decisões. Por detrás do balcão pode não estar um inimigo do dinheiro alheio, mas é muito provável que não seja possível encontrar melhor parceiro para dar destino aos rendimentos e poupanças do que o seu próprio titular.

Há situações em que a escassez de conhecimentos técnicos dificulta a análise dos produtos e serviços que são oferecidos. Noutras, a informação disponibilizada é pouco transparente. A sucessão de enganos e equívocos na relação entre clientes e bancos colocada à vista pela actual crise, são uma lição penosa de que a prudência, de bancos, supervisão e clientes, foi um valor frequentemente mal tratado.

No investimento de poupanças, um princípio básico mas muito negligenciado refere que não se deve aplicar dinheiro naquilo que não se entende. Na contratação de crédito, respeitar uma proporção razoável entre os compromissos que se assumem e os rendimentos de que se dispõe ocupa uma posição semelhante e não menos subvalorizada. E foi este cuidado que faltou em muitos dos casos extremos de sobreendividamento que explicam o crescimento actual dos pedidos de ajuda junto das entidades que dão aconselhamento para ajudar a superar situações desesperadas.

O mergulho numa espiral de endividamento pode crescer devagar ou depressa, mas evolui de forma imparável. Até a um ponto em que novos empréstimos servem para honrar compromissos anteriores, num processo que só pára quando a torneira dos financiadores se fecha e chega a hora de encarar o problema. Nesta altura, o endividado pode eventualmente recorrer à desculpa de ter sido aliciado por publicidade agressiva. Mas esta, se é criticável por explorar fragilidades e tentações consumistas, não explica tudo. E, sobretudo, não resolve qualquer questão.

As situações imprevistas não se podem controlar. Na actual conjuntura, cair no desemprego é uma fonte vulgar de desajustamentos entre os rendimentos e os encargos das famílias. Mas há problemas de outra natureza. Não começam no dia em que alguém descobre já estar apanhado na espiral mas muito antes, quando a ambição de melhorar o padrão de vida leva ao engano de que é possível consegui-lo sem aumentar os rendimentos ou de esperar que estes cresçam sem ter fundamentação para alimentar a expectativa. No recurso ao crédito, acreditar, com cem por cento de convicção, que a acumulação de prestações para pagar a casa, o carro e outros bens ou serviços, somando uma taxa de esforço que absorva, à partida, metade ou mais dos rendimentos mensais, é construir a estrada que conduzirá a um monte de sarilhos.

Há teóricos que defendem a racionalidade das decisões. Os investigadores de economia comportamental têm dúvidas e bons argumentos para as sustentar. Dan Ariely, que faz pesquisa nesta área, acha que é necessário corrigir maus hábitos para evitar cometer sempre os mesmos erros quando se tomam decisões. Da "exuberância irracional" evoluiu-se para era da "previsibilidade irracional", mas armadilhas são sempre as mesmas.
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