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Amortizar crédito ou investir em acções? Eis a questão

Por alguma razão, a sua conta bancária ficou mais recheada de um dia para o outro. Talvez tenha sido a administração fiscal que lhe fez a devolução do IRS. Talvez tenha conseguido poupar porque deixou de fumar. Talvez lhe tenha sobrado dinheiro do subsídio de férias.

Amortizar crédito ou investir em acções? Eis a questão
11 de Junho de 2010 às 09:26
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Saiba se é melhor eliminar dívida da sua conta bancária ou se é mais proveitoso aplicar o dinheiro num pé-de-meia

Por alguma razão, a sua conta bancária ficou mais recheada de um dia para o outro. Talvez tenha sido a administração fiscal que lhe fez a devolução do IRS. Talvez tenha conseguido poupar porque deixou de fumar. Talvez lhe tenha sobrado dinheiro do subsídio de férias.

A origem do capital não é importante. O que interessa é que tem alguns milhares de euros à espera do seu sinal de partida para algum destino. Embora haja sempre a possibilidade de digerir o dinheiro através do consumo rápido - quer seja um televisor plasma de 55 polegadas ou umas férias no Vietname -, a eterna dúvida das famílias é se devem aproveitar para amortizar os créditos ou se devem reforçar (ou iniciar) um pé-de-meia para o futuro. "Amortizar ou investir, eis a questão", uma interrogação que abalaria qualquer príncipe da Dinamarca.

Antes de avançar para a decisão, é preciso garantir que não necessitará do dinheiro nos próximos tempos. É que, se espera uma factura importante algures no futuro próximo - um aparelho ortodôntico para o membro mais novo da família ou a revisão do automóvel, por exemplo -, mais vale deixar os euros aplicados em instrumentos de baixo risco, como depósitos a prazo ou certificados de aforro. Além disso, para não ser apanhado de surpresa, já deve ter um fundo de emergência bem recheado. Se não o tiver, corre o risco de amortizar o crédito ou investir a pensar no longo prazo com o dinheiro que tanta falta lhe fará dentro de alguns meses.

Se tem o caminho livre para a sua deliberação, avance para as vantagens e inconvenientes da amortização e do investimento que lhe explicamos de seguida.

Ninguém gosta de ficar colado ao banco
Quando se contrata um crédito, em especial no crédito à habitação, cria-se uma ligação quase eterna com a instituição financeira. Enquanto não eliminar essa dívida, o banco quererá que todos os produtos financeiros que deseje (e, mesmo, os que ainda não sabe que deseja) passem por si. Logo a conta-ordenado alia-se ao crédito à habitação, que, juntos, atraem seguros de vida, multirriscos e de capitalização, depósitos, fundos de investimento, planos de poupança-reforma, cartões de débito e de crédito, débitos automáticos das contas da casa, cheques e, eventualmente, outros créditos.

É por isso que a amortização dos créditos é vista por muitos como uma forma de encurtar a dependência bancária. Ao diminuir a dívida está também a reduzir os juros que pagará ao banco ao longo do prazo contratado. Por exemplo, num empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, uma amortização de 5.000 euros no início do quinto ano poupa-lhe 8.350 euros na redução das prestações posteriores, assumindo uma taxa de juro média de 4,5 por cento (ver gráfico na página seguinte).

Se não precisa de folga no seu orçamento mensal, a amortização do crédito à habitação pode ser compensada por uma redução do prazo da dívida, de forma a que a prestação se mantenha igual. Se estiver a dever 100 mil euros e ainda lhe faltarem três décadas para a maturidade do financiamento, pode pegar nos 5.000 euros, amortizar o crédito e reduzir dois anos ao prazo da dívida, mantendo a prestação em cerca de 367 euros, assumindo a indexação à Euribor a seis meses e um "spread" de 1%. Numa altura de falta de dinheiro, é provável que o banco ainda lhe agradeça.

Acções rendem mais do que crédito à habitação
Veja a amortização como um investimento: o dinheiro que poupa em juros não pagos ao banco é o retorno da sua aplicação. Não haverá um investimento mais lucrativo? Sim, as acções, segundo vários estudos.

Numa perspectiva de longo prazo, o mercado accionista é uma das melhores aplicações que se podem fazer. Os vários estudos históricos levam a concluir que a rendibilidade de longo prazo é superior a 7% por ano. Uma equipa da investigadores da London Business School - Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton - desenvolveram a mais longa análise de rendibilidade de acções mundiais. Na última actualização, publicada em Fevereiro passado, a tripla concluiu que, apesar da depressão bolsista da última década, as acções mundiais renderam 8,6% por ano desde o ano 1900, incluindo o reinvestimento dos dividendos. Na Europa, o desempenho médio foi de 7,9% por ano. Não há razões para duvidar que as suas acções se valorizarão mais de 7%, embora possa ser preciso esperar mais de uma década.

Uma rendibilidade de 7% por ter um efeito mágico no seu portefólio. Numa década, 5.000 euros convertem-se em 9835,76 euros; em duas décadas aproxima-se dos 20.000 euros; em 30 anos, os 5.000 euros multiplicam-se por mais de 7,5 (ver gráfico na página seguinte).

Obviamente que a rendibilidade de 7% não é garantida, tal como a amortização permite uma redução garantida do prazo do crédito. Mas, mostram os estudiosos, quanto mais tempo tiver para investir, menos risco está a correr.

Embora seja provável que as acções batam o resultado da amortização do crédito hipotecário no longo prazo, são poucos os créditos tão baratos como os dirigidos para a compra de habitação. Há muitas dívidas que estão a pagar juros a taxas superiores a 7% - em alguns casos, muito superiores. Enquanto os novos créditos à habitação contratados em Março tiveram uma taxa anual efectiva de 2,89%, a taxa dos novos créditos ao consumo foi de 10,03%, mostram as últimas estatísticas do Banco de Portugal. Porém, são as dívidas dos cartões de crédito que ultrapassam o prazo gratuito que mais exigem aos portugueses. Há cartões em que cobram taxas efectivas de 28% por ano. Se tiver um destes créditos com taxas elevadas, o dinheiro que está na sua conta à espera de um comando já tem um destino: amortizar as dívidas com juros abusivos.

Fisco é mais simpático para quem amortiza
Quando entrar em vigor o novo regime de tributação das mais-valias mobiliárias, já aprovado na generalidade pela Assembleia da República, os investidores não conseguirão desviar-se do imposto que comerá um quinto dos ganhos bolsistas. Por isso, a rendibilidade efectiva das acções tenderá a ser bastante inferior.

Por exemplo, se ganhar 7% num ano, a rendibilidade líquida de IRS será de 5,6 por cento. No entanto, o imposto pode ser diluído se detiver os papéis por muitos anos. Se aguentar uma década, a taxa de rendibilidade efectiva pode subir até 5,9% e, a 20 anos, para 6,14%, assumindo uma rendibilidade bruta de 7%.

A administração fiscal é especialmente agradável com quem amortiza o crédito hipotecário obtido para habitação própria e permanente. É possível deduzir 30% dos juros e amortizações dessa dívida até 591 euros. Infelizmente, esse patamar é demasiado baixo para a maioria: os juros e amortizações que já paga mensalmente são suficientes para ultrapassar o limite, a não ser que a dívida seja inferior a 50 mil euros.

É verdade que há aplicações financeiros que concedem vantagens fiscais - como os planos de poupança-reforma e as contas de poupança-reforma -, mas dificilmente conseguirão render mais do que as acções no longo prazo (mesmo contabilizando os benefícios) e do que os juros dos créditos.

Conclusão: se tem dívidas com elevadas taxas de juro (crédito ao consumo, crédito pessoal ou cartão de crédito, por exemplo), amortize-as já. Se tem estômago para aguentar a volatilidade bolsista durante mais de uma década, então opte por investir num cabaz de acções ou em fundos de acções. Se prefere a tranquilidade que lhe garante a amortização do crédito à habitação e a redução simultânea do prazo da dívida, avance para essa opção.






Pedir crédito para investir é má política

O crédito é um elemento fundamental das sociedades desenvolvidas. Contudo, em alguns casos é levado ao extremo. É o caso do crédito para fazer aplicações de elevado risco, como a compra de acções. Arriscar com o dinheiro alheio pode ter consequências devastadoras.

Quase todos os bancos mais voltados para os investimentos oferecem créditos em conta-margem que possibilitam a alavancagem dos seus investimentos tomando como garantia os activos que já tem na carteira. Assim, as suas poupanças ficam como colateral em troca de financiamento. Porém, as elevadas taxas de juro afastam as potencialidades desta modalidade.

Actualmente, as taxas anuais de juro praticadas nas contas-margem rondam os 4%. Uma alavancagem de dois (o que quer dizer que o banco triplica-lhe o dinheiro disponível para investir), só vale a pena quando o investidor alcançar uma rendibilidade superior a 4%. Pior, é quando as aplicações seguem no sentido oposto ao esperado: se os investimentos caírem 14% num ano, o prejuízo ultrapassa os 50%, incluindo os juros pagos e o imposto do selo sobre os juros e sobre o descoberto. Embora a perda efectiva seja superior a três vezes a desvalorização dos títulos, os ganhos ficam muito abaixo do triplo: uma valorização de 14% gera uma ganho efectivo de 34%, em vez de 42%.

Alguns bancos levam este conceito ao limite: o Banco de Investimento Global (BIG) anuncia que permite alavancagens até cinco vezes. Nesse caso, basta que os títulos desçam 5% para que o investidor fique apenas com metade do seu capital inicial. Por estes motivos, tenha cuidado.

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