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O 10º ano de alta do ouro

O ouro continua a bater recordes sucessivos e hoje marcou um novo máximo histórico, pela quinta sessão consecutiva. A prata acompanha o movimento.

22 de Setembro de 2010 às 15:32
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O ouro voltou hoje a atingir um novo máximo histórico, tanto nos futuros de Nova Iorque como no mercado à vista em Londres.

O facto de a Reserva Federal norte-americana ter dito ontem que está disposta a flexibilizar ainda mais a sua política monetária para estimular o crescimento económico está a contribuir para a forte desvalorização do dólar, o que sustenta o metal amarelo.

Quando a divisa norte-americana desvaloriza, os activos denominados em dólares – como é o caso do ouro – ficam mais atractivos para os investidores. Além disso, o ouro tem estado a reafirmar o seu estatuto de valor-refúgio, até mesmo paradoxalmente, pois há quem esteja a comprar este metal precioso como cobertura contra uma eventual inflação e quem esteja a investir nele como segurança perante uma desaceleração do crescimento económico mundial. Isto porque o ouro funciona simultaneamente como uma matéria-prima e como uma moeda.

Na sessão de hoje, o ouro atingiu um máximo histórico em Nova Iorque, com o contrato para entrega em Dezembro a tocar nos 1.296,50 dólares por onça.

Em Londres, o ouro para entrega imediata escalou também para um máximo de sempre, nos 1.295 dólares.

Além disso, também o “fixing” da manhã – que é a referência usada por muitas empresas mineiras para venderem a sua produção – atingiu um recorde de 1.291,75 dólares por onça.

Queda do dólar anima ouro

Uma vez que a Fed não pode estimular mais a economia pela via de uma descida dos juros, que estão entre os 0% e 0,25%, um caminho a tomar poderá ser o de promover a desvalorização do dólar, para fomentar as exportações. “A Fed quer um dólar mais baixo para estimular as exportações”, comentou à Bloomberg um analista da Castlestone Management, Brad Yim.
Se a moeda norte-americana continuar a desvalorizar, isso continuará a sustentar o ouro, tal como está a acontecer hoje, com o dólar em mínimos de Março face ao euro.

O ouro está a subir pelo 10º ano consecutivo – a mais longa série de valorizações desde pelo menos 1920 - e em 2010 acumula já um ganho de 18%.

As posições mundiais em ETP – Exchange Traded Products – aumentaram ontem em 1,01 toneladas, para um máximo histórico de 2.089,5 toneladas, segundo os dados da Bloomberg. O que significa que o investimento em ouro está para durar.

A opinião dos analistas

“Penso que as pessoas estão a comprar porque estão fortemente sub-investidas e porque querem proteger-se de um mundo de incertezas, como a inflação, hiperdeflação ou incumprimentos soberanos”, comentou ao Negócios um analista do Erste Bank AG/Austria, Ronald-Peter Stöferle.

Já Anne-Laure Tremblay, analista do BNP Paribas, diz que, essencialmente, os investidores compram ouro por toda uma série de razões.

“De par com os receios inflacionistas e incerteza em torno da economia, o ouro serve também de cobertura contra a depreciação das moedas, seja por via do elevado endividamento ou da inflação. Em geral, as pessoas estão a comprar ouro como garantia contra tudo aquilo que possa correr mal”, afirmou a analista ao Negócios.

Há bolha ou não?

Mas os actuais níveis poderão ser considerados excessivos? Os analistas questionados pelo Negócios acham que não, ao contrário do que pensa o investidor George Soros.
Na opinião de Stöferle, não há, “decididamente”, bolha no ouro. “Chamar-lhe-ia mais um ‘bear market’ no papel-moeda do que um ‘bull market’ no ouro”, afirmou o analista, acrescentando que o seu preço-alvo para Junho de 2011 é de 1.600 dólares por onça e que o “target” para o mais longo prazo é de 2.300 dólares – o que constitui o máximo de sempre do metal, ajustado à inflação.

Na sua mais recente nota de análise de ontem sobre o ouro, a que o Negócios teve acesso, o Deutsche Bank considera que a actual escalada do ouro “tem pernas para andar”. E sublinha que as cotações do metal precioso terão de superar os 1.455 dólares para serem considerados extremos em termos reais e atingir os 2.000 dólares para representarem uma bolha.

Assinada por Michael Lewis, responsável pelo “research” de matérias-primas do banco alemão, esta análise chama ainda a atenção para o facto de a actual escalada do ouro ser a mais duradoura da História, já que estes movimentos no ouro nunca duraram mais de quatro anos consecutivos.

Além disso, o preço do metal precioso está acima dos 1.000 dólares por onça, o que constitui o mais forte “rally” de sempre nas cotações do ouro denominadas em dólares. Mas para representar a mais forte escalada em termos percentuais, terá de chegar aos 2.100 dólares, pois só assim estará a par da subida de 721% no período entre 1976 e 1980.

Atentos ao risco soberano

Anne-Laure Tremblay não é tão optimista nas suas estimativas, já que prevê uma cotação média de 1.270 dólares por onça no próximo trimestre. “Como tal, há uma forte probabilidade de queda face aos actuais níveis”.

No entanto, um episódio como o aumento do risco soberano na Zona Euro, por exemplo, poderia fazer os preços dispararem para valores acima dos 1.300 dólares, salientou a analista, que também é da opinião de que não existe bolha no ouro.

Por outro lado, Suki Cooper, analista de “commodities” do Barclays Capital, diz que a sua equipa de análise prevê que o preço médio do ouro seja de 1.260 dólares por onça no quarto trimestre de 2010 e de 1.300 dólares no primeiro trimestre do próximo ano, uma nova média recorde para dois trimestres consecutivos.

“A incerteza a nível macroeconómico, de par com baixas taxas de juro, criou um ambiente favorável para o ouro, com as cotações a atingirem máximos históricos. Enquanto os receios dos investidores não forem tranquilizados e as taxas de juro não subirem, os preços do ouro deverão continuar a testar estes recordes”, sublinhou Suki Cooper ao Negócios.

No que diz respeito ao maior investimento em ouro, a analista do Barclays Capital diz que isso resulta de uma combinação de factores, que vão desde os receios quanto aos moldes da retoma económica – seja um crescimento mais lento ou uma recessão em forma de W -, preocupações em torno do risco da dívida soberana, receios de inflação – atendendo à política monetária flexível -, receios em torno da estabilidade cambial e o desejo de ter um activo físico que não é dívida de ninguém.

Prata sobe 24% no acumulado do ano

Com toda esta escalada do ouro, os restantes metais preciosos também são beneficiados, com destaque para a prata que já sobe 24% desde o início do ano.

A prata para entrega em Dezembro segue a subir 2,2% em Nova Iorque, para 21,09 dólares por onça, depois de já ter estado hoje nos 21,175 dólares – o preço mais alto desde Março de 2008.

A platina e o paládio estão também a ganhar terreno, sustentados por este ambiente altista no reino dos metais preciosos. A platina para entrega em Outubro atingiu hoje máximos de 19 de Maio, ao chegar aos 1.636,39 dólares por onça.

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